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II SÉRIE-A — NÚMERO 43
• Todavia, parece também aceitável o senhorio deles (as Inquirições de 1288 dizem que'Trevões fora dos «Bragançãos» o que significa não ter sido apenas desse prócer, mas de antepassado sucessor sob D. Afonso Henriques), vindo um a doar o lugar à Sé lamegense antes de 1185.
Nos meados do século xrn os «nomines de Trevões que surit sedis de Lamego» possuíam e cultivavam no termo de Paredes , de Penela e de São João da Pesqueira herdamentos reguengos que eles tinham por casamento ou património, avoenga oucompra; m'as alguns desses moradores não faziam foro desses herdamentos como deviam, talvez por sentirem-se protegidos pela residência num couto episcopal, ou «villa hônorata de Sede de Lamego».
Assim passou a Sé Lamecense a ter o privilégio de nomear juizes neste seu couto, com o cabido, como senhores dá jurisdição do lugar e seu termo, o que foi confirmado por D. Dinis ao bispo D. João Fernandes depois de 1290 e antes de 1296 —talvez como resultado das Inquirições de 1288, pois que nestas se ordena a conservação do estado dè coisas descrito, até que saiba El-Rei mais deste feito.
D. Afonso;IV também levantou certas dúvidas ao facto, pelo que o bispo D. Frei Salvado, confessor da Rainha Santa Isabel, houve de apresentar-lhe os títulos de posse de jurisdição que o rei confirmou por carta de 7 de Fevereiro e a rainha D. Beatriz por carta de 12 de Setembro de 1336.
Os bispos de Lamego assistiram, assim, em Trevões várias vezes: em 31 de Maio de 1477, estava, por exemplo, aqui o btspo D. Rodrigo de Noronha, que nesse mesmo dia aqui dava ordens gerais..
Mas a vila do couto episcopal não correu sempre livre de violências, especialmente da parte dos poderosos da região, em especial os prepotentes Couünhos, os maiores potentados da Beira já no tempo de D. João I.
No Rerum Memoriabilium do arquivo bracarense, encontra-se um vasto, documento de artigos que «a cleresia deste reino fez a El-Rei D. João o primeiro sobre lhe tomar os padroados de que estavam [sic] de posse de muitos anos e outras coisas» e, entre estas outras coisas, apontam-se «as coisas e agravos que Gonzalo Vasques Coutinho fez ao Bispo de Lamego não lhe querendo a justiça secular dele fazer cumprimento de direito, pero que o Infante para ello por vezes fosse requerido».
«São tais estas coisas: tendo [o Bispo lamacense] em sua câmara deAveloso, Afonso Esteves, seu criado, por seu recebedor, drecadador em a dita câmara, e sendo aí tabelião posto por carta de El-Rei, o dito Gonçalo Vasques (Coutinho j por sua própria força e autoridade, e seu temor de Deus e justiça.o mandou prender e lançar em no castelo de Penedono e o teve preso até que levaram dele mil reais brancos, e como os pagou logo os mandou soltar.
Item.
Isso mesmo fez a Fernão Gonçalves seu criado [do BispoJ abade do Paraíso, que estava por seu mordomo em sua câmara de Trovões que o teve preso em o dito castelo de Penedono fingindo que matara o porco até que levaram mil reais brancos ...
Item, mandou prender Afonso Anes, ouvidor do dito Bispo em sua villa de Trovões e o mandou levar a Trancoso e o teve preso quarido lhe aprouve, D. Dinis concedeu a Trevões uma feira franca de 1res dias, feira que foi das mais concorridas de toda a Beira, e tanto que se lhe marcou dias diferentes das de Trancoso a fim de se não prejudicarem mutuamente.
Em época incerta, o couto episcopal foi abolido pela coroa, e a villá era dada por esta aos condes de Vidigueira,
ao mesmo tempo que Várzea [de Trevões ou do Bispo] ficava erecta em vila de coroa.
Desta freguesia dizia, entre outras coisas, nos fins do século xvm o'padre Joaquim de Azevedo: Abadis de três mil cruzados, cujo abade é ó Excelentíssimo Bispo de Lamego que em Trevões apresenta Vigário ou reitor.
As casas de residência e paço, capaz de nele assistir o senhor Bispo e Abade, mandou fazer o Excelentíssimo Dom Manuel de Vasconcelos Pereira.»
O mesmo autor cita as seguintes ermidas e capelas existentes então na freguesia: Santa Bárbara (ermida). Santo André (capela) particular na praça da «villa», e já profanada nos fins do século passado, Santo António, Nossa Senhora dá Graça ( que nos princípios do século xvm foi reedificada pelo desembargador Jerónimo de Lemos Monteiro); Nossa Senhora da Piedade (que nos princípios do dito século foi reedificada por D. Maria Teresa Figueiredo, irmã do reitor de Trevões, padre Manuel Soeiro Jorda), a qual, reedificada em 1858 por D. Josefa de Almeida Coutinho e Lemos, passou a servir de capela do cemitério feita no seu vasto adro; Nossa Senhora da Conceição (de Francisco Xavier de Almeida Caiado nos fins do século xvm) ainda da família Caiado do século xix, outra de Nossa Senhora da Conceição (que foi o dito Francisco Xavier Caiado, passando, por compra feita a este a Outra família fidalga local) no palacete dos Mellos ou que foi desta família nobre local; São Sebastião junto ao mercado (quase faz todos os meses, com grande concurso e abundância de tudo, diz o Padre Azevedo que acrescenta realizar-se aí em 7 de Agosto a feira chamada de São Caetano); São Paio «na serra», a um quarto de légua da vila (légua à antiga, claro está),.e que é antiquíssima.
Existiam ainda a Nossa Senhora das Dores, particular, e a de São Francisco Xavier (desta apenas os alicerces no fim do século passado).
O grande número de capelas particulares explica-se pelo facto de ter sido Trevões um verdadeiro viveiro de famílias fidalgas: os Caiados, Gamboas, Almeidas, Rebelos e Sousa.
Saíram desta nobreza muitos lentes da Universidade, cónegos, abades, desembargadores e muitos religiosos e sacerdotes de vida exemplar e grandes letrados."
É de prevenir que Pinho Leal, por si ou seus informadores sobreditos, se serve em muitas coisas do escrito do padre Dom. Joaquim de Azevedo, mas não o declara do que o denuncia frases quase textuais (òu mesmo textuais) que ele transcreve como se fossem suas.
O grande número de casas brasonadas existentes nesta antiga vila tornava-a e ainda a distingue como uma das mais notáveis da Beira Alta. •
O paço episcopal, erecto em 1777 pelo bispo D. Manuel Vasconcelos Pereira, é um edifício vasto, de grandes janer las e salas, com as armas de Vasconcelos na fachada.
Em 1875, pelo confisco que dele haviam feito os liberais, estando na posse do governo o vendeu este a baixo preço ao visconde de Tragosela (José Pereira Loureiro), diz-se que por valor inferior ao custo só da cozinha e da cavalariça.
Outro grande solar é o da família Mello, sendo o mais avantajado de toda a vila, com numerosas janelas na fronta-ria (nada menos de 17), 9 salões e muitas salas, quartos, etc.
A casa dos Almeidas foi edificada em 1605 por Baltazar de Almeida Camelo e ostenta o brasão de armas deste fidalgo.
Outra casa muito antiga e. brasonada é dos Almeidas de Figueiredo, reedificada no século passado por António Caiado de Almeida Figueiredo. '
Das maiores casas brasonadas da vila é o palacete dos Caiados.
A igreja local, já elevada a paróquia no século xro, pelo menos (em 1258, figura nas Inquirições o pároco, D. André,