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18 DE MAIO DE 1995

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É.possível.o sentido vegetal —o trevo, realmente — e desteserão afins outros topónimos como Trevoelas, Trevoada (Trovoada), que parecem corresponder a termos latinos: trevulella; trevulata, derivados do trevule, cujo plural deu Trevões.

A antiguidade etimológica está, aliás, em acordo com a arqueologia local: desde fortificados castrejos e sepulturas cavadas na rocha ( parece que consideradas já proto-cristãs, o que demonstra a antiguidade local do cristianismo) e ainda ao aparecimento de moedas romanas (diz-se que só no sítio da Baara apareceu em 1761 cerca de meio alqueire delas, de vários imperadores, o que indica claramente a romanização tal-qualmente a toponímia, se a etimologia é a proposta).

Na primeira metade do século x a «villa» rural de Trevules, na região chamada Estremadura, por estar então vizinha ou na «Extrema» de mouros e cristãos, estava em posse, dos condes D. Rodrigo (Luci?) e D. Leodegúndia Dias (Didaci), irmã da celebre condessa fundadora do mosteiro e castelo de Guimarães, D. Mumadona — e ele, provavelmente, filho do condeLucidio Vimaraniz e neto paterno do celebre prior conde Vimara Peres.

Os pais da.condessa Leodegúndia são os condes D. Diogo Fernandes e D; Oneca, mas não é possível afirmar-se se a herança de Trevões provém destes ou dos pais de D. Rodrigo.

Seja como for a verdade é que nos meados do século x era senhora de Trevões a filha deste e daquela sua mulher, isto é, a condessa D. Flâmula (ou Châmoa, Chama).

Em 960, esta condessa, sentindo-se enferma, fez testamento, em que deixa Trevões e outros lugares ao mosteiro guimaranense: «Cóncedimus ad monasterio de Vimaranes id est in illa extrema (Dura) villa Cersaria Trevules Baldoigii.» (Dip. et Ch. n.° 81.)

Assim se explica que o inventário dos haveres vimaranenses, organizado após a libertação da região estremaduriana da dominação arábica, cite Trevões expressamente: «Et illuc in extremis vilas nominatas id sunt Trevules integra», etc. (Dip. et Ch. n.° 420.)

Trevões estava-já reconquistada desde 1055 ou 1057 — senão já, como mais parece das acções da Reconquista, efectuadas precisamente nesta região de Trevões por próceres, entre os quais o célebre Tedo Ermiges e Rausendo Ermiges, desde o reinado de Vermudo III (cerca de 1030).

Era como tudo indica um domínio do castelo de Penela, pois a concluir dos' forais de Fernando I, o Magno, e de D. Afonso Henriques a este castelo, os limites dè Penela compreendiam o território desta freguesia, sem qualquer dúvida, pois esses limites atingiam o Távora, o que só podia fazerrse ao ocidente de Várzeas, isto é, ao noroeste e ao poente de Trevões (pois que,para o montante do rio estendiam-se os termos de Paredes e Fonte Arcada).

O que não pode apreciar-se para o século xi é o efeito da concessão do foral a Penela pelo rei leonês Fernando, o Magno, por Trevões ser possessão do Mosteiro de Guimarães. .

E já acaso assim também no século xti, quando D. Afonso Henriques renovou e confirmou esse foral, porque se já nesta época, extinto havia muito mosteiro vimaranense (embora substituindo por colegiada, que não foi aliás herdeira absoluta dos haveres do instituto extinto). . Trevões devia estar devoluta à coroa, mas, por certo, cedida por esta, tácita ou expressamente aos próceres mandantes, na Estremadura, ou seja os da linhagem dos Bragançãos, nomeadamente o cunhado do D. Fernão Mendes de Bragança, casado com a infanta D. Sancha Henriques, irmã daquele.

De facto, quando D. Afonso Henriques aforou Penela, entre 1167 e 1174, já Trevões não pertencia à coroa, de modo que há poucas possibilidades de o reforento afonsino ter tido sovões a eficácia que faltara, por certo ao femandino, um século antes.

Já antes se verificava aqui um facto notável, de que, infelizmente, resta uma única notícia — uma alusão documentai a uma doação daquele monarca, ainda infante, feita em 19 de Maio de 1136 a um mosteiro de «Tribulis Altis» a qual se contém nas dissertações de J. P. Ribeiro, que cita o cartório do visconde de São Gil de Perre, através de uma certidão de 1748: nessa data D. Afonso Henriques doou a villa de Paredes da «terra» de São Martinho ao mosteiro de São Justo de Tribulis Altis.

O lugar doado deve ser o de cerca de São Martinho de Mouros, até por se atribuir o território (diocesano) de Lamego — o que não sucedia com a região de Trevões, então ainda entregue à Sé bracarense (além de ser pouco dado a dúvidas o esclarecimento sobre a «terra» São Martinho; e o mosteiro tudo indica ser na actual freguesia de Trevões (e nunca Paredes da Beira, como há quem julgue, por se mencionar a «villa» de Paredes, que é diversa), pois Tribulis é o mesmo que Trivulis (Trivulis), declinação de Trevules (Trevões).

O santo titular do mosteiro oferece o interesse da sua raridade entre nós na alta Idade Média entre as devoções desta época — parecendo ser mesmo o único caso de dedicação a São Justo; tratar-se-á talvez de um dos dois meninos mártires de Complutum (Alcala de Henares), pois que estes aparecem nos santorais hispânicos altimedievos.

Nesse caso fora estranho não se citar São Pastor — a não ser que prefira explicar-se a falta por brevidade da invocação.

Não volta a haver notícia deste mosteiro, o qual, a julgar do topónimo Trevões Altos devia existir em lugar eminente à actual povoação de Trevões, em sítio despovoado, preferivelmente num dos recessos do declivoso monte de São Paio, ao sul, ou ao nascente, cerca do Alto da Olga.

Pelos meados do século xn, é Trevões doada à Sé de Lamego — o facto que caracteriza a história nacional do lugar, mas as notícias do século xiu sobre o doador não são conformes: as Inquirições de D. Afonso nJ referem que foi o próprio D. Afonso Henriques o doador, mas a de D. Dinis afirmam que o doador fora o mandante da Estremadura, cunhado de D. Afonso Henriques: «Toda a villa de Trevões e Várzea, que jaz em seu termo, é da.Sé de Lamego, trazem--na por honra, que não entra aí mordomo de El-Rei, nem peitam voz nem coima; e dizem as testemunhas que ouviram dizer que foi dos Bragançãos e que a mandaram à Sé de Lamego.»

O figurarem os Bragançãos tem a sua razão no facto de ter sido D. Femão quem reprovou Trevões por carta de foro de 1159, com sua mulher, a infanta irmã do rei: «El-Rei Dom Afonso», diz-se, em vulgar, nas Inquirições de 1238, «deu esta villa de Trevões a povoar por sua carta de foro, que aos povoadores da predita villa deu Dom Fernão de Mendes e com D. Sancha Henriques» («per suam cartam de foro quare didit populatoribus predite ville cum donno Fernando Menendi et cum donna Saneia Anriquiz»).

A doação à Sé de Lamego é, pois, posterior a 1159, e desligou Trevões, com seu termo (onde ainda se compreendia a actual freguesia de Várzeas) do termo de Penela.

Parece claro que D. Fernando Mendes e D. Sancha actuaram na concessão da carta e povoação como imperantes locais, a mandado real.