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II SÉRIE-A — NÚMERO 11

cada ano se logram retirar pouco mais de 100 000 minas, são colocadas mais de 2 milhões. Calcula-se que as minas antipessoais (MAP) matem cerca de 800 pessoas por ano e mutilem mais de 20 000, razão de 500 por semana, a maioria dos quais (80%) civis inocentes. Se os países vítimas são essencialmente os Estados em vias de desenvolvimento que estiveram submetidos a conflitos, as 100 empresas sediadas nos 55 países produtores são na grande maioria ocidentais.

Principais localizações

A guerra no Camboja foi a primeira em que a maioria das vítimas foi provocada pelas minas. Ao ritmo actual de desminagem vão ser precisos vários séculos para limpar o terreno.

Durante os 14 anos da guerra no Afeganistão foram colocadas de 10 a 30 milhões de minas. Do milhão de vítimas causadas pela guerra no Afeganistão até 1992, pelo menos 20% foram mortas pelas minas terrestres. As crianças foram vítimas de um tipo de minas particularmente cruéis, os objectos armadilhados. Estas minas, com a aparência de utensílios ou brinquedos, foram concebidos especialmente para estropiar ou matar crianças. Segundo as Nações Unidas, ao ritmo actual e com os métodos tradicionais, será preciso 4300 anos para efectuar a desminagem completa.

Em Angola a situação é semelhante. Sabendo-se que não produz minas, é certo que foram importadas e colocadas no terreno cerca de 20 milhões de uma centena de tipos diferentes.

O problema é igualmente dramático no território da ex--Jugoslávia, com a agravante de se tratarem de minas com maior nível tecnológico, o que implicará um levantamento mais complexo e lento. Calcula-se que entre 3 a 6 milhões de minas terrestres estão dissimuladas na Bósnia--Herzegovina e cerca de 3 milhões na Croácia. De resto, a Eritreia (com 1 milhão), a Geórgia e o Iraque (10 milhões), o Laos e Moçambique (3 milhões), a Somália (1 milhão), o Sri Lanka e o Vietnam e (3,5 milhões) são os mais tocados pela colocação de minas.

Características das minas antipessoais

As MAP não têm como objectivo matar mas, sim, mutilar. É um armamento barato a que qualquer combatente ocasional tem acesso, podendo, por isso, ser colocado sem qualquer plano que permita a posterior desminagem. Por outro lado, as MAP podem ser colocadas auavés de aviões, helicópteros ou de artilharia para impedir todos os movimentos em determinada zona. Uma dispersão deste tipo impede qualquer plano de colocação. Se as MAP já são de per si armas devastadoras, mais grave é ficarem no terreno muito depois dos conflitos armados terminarem.

Como armas de terror, as MAP têm como alvo as populações civis, em geral as rurais. O camponês não pode produzir e surge a paralisia económica da região. Em Angola os campos de minas fizeram diminuir a produção agrícola em 25%. No Afeganistão os sistemas de irrigação foram minados em 29 províncias.

Além do mais, as minas entravam a ajuda humanitária. O programa alimentar mundial foi obrigado a fazer chegar a ajuda por via aérea, em vez da via terrestre, à Somália, a Angola, a Moçambique, ao Sudão ou ao Afeganistão. Neste último país 20 000 km de estradas estão minadas e apenas 5400 km abertos à circulação. Tanto a ajuda humanitária como o retorno de refugiados realiza-se com enormes dificuldades, neste contexto em que os movimentos estão impedidos.

O trabalho de desminagem

A comunidade internacional utiliza ainda técnicas de desminagem dos anos 40, que é efectuada de forma extremamente lenta. Para contrapor ao actual ritmo de colocação seria preciso multiplicar a rendibilidade da desminagem por 50 até ao fim do século.

Mas a evolução é difícil, até porque a desminagem mecânica ou explosiva é pouco fiável e os carros desmi-nadores têm capacidade limitada. A única técnica eficaz é o levantamento manual das minas, na medida em que muitas delas, sendo em plástico e, portanto, indetectáveis, não se desactivam sozinhas.

A desminagem é, pois, um processo lento, fastidioso, caro e perigoso. O preço de fabrico de uma mina é de 3 a 5 dólares, mas retirá-la custa 300 a 1000 dólares. Contudo, a sua não eliminação seria bem pior.

A título de exemplo, em 1993, os programas de desminagem da ONU retiraram cerca de 80 000, mas no mesmo período foram colocadas 2 500 000.

Genericamente calcula-se que por cada MAP neutralizada, 20 novas minas são colocadas.

No dizer de Patrick Blagden, «ao ritmo actual estaremos ocupados na desminagem nos próximos 1000 anos».

De resto, as fontes financeiras são escassas. Numa estimativa de 1994 seriam precisos 33 biliões de dólares para uma desminagem total. A comunidade internacional, actualmente, atribui 70 milhões de dólares por ano para a desminagem de 100 000 minas. É muito pouco para as mais de 2 milhões que são colocadas por ano. O mito de Sísifo ou, menos prosaicamente, o eterno retorno do Inferno.

Antecedentes e enquadramento jurídicos

O conceito de interdição de certas armas está formulado desde a Declaração de São Peter&burgo de 1868, que estipulava que as populações civis deviam ser protegidas e que só eram autorizadas as armas que impedissem o inimigo de agir.

Em 1925 o Protocolo de Genebra introduziu a ideia de proibir o emprego dos gases tóxicos e, em 1949, o Protocolo Adicional à Convenção de Genebra de 1949 definiu dois princípios relativos à utilização das MAP: o estabelecimento de distinção entre civis e combatentes, sendo proibidos os ataques indiscriminados e a proibição de armas que provoquem sofrimentos supérfluos.

Mas o maior passo na via da restrição e proibição mundial das minas e outros dispositivos semelhantes é a Convenção de 1980 sobre certas armas clássicas (CCAC) das

Nações Unidas, que entrou em vigor em 1983.

Portugal é parte da Convenção sobre a Proibição ou Restrição do Uso de Certas Armas Convencionais Que