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1332 | II Série A - Número 032 | 08 de Abril de 2000

 

margem esquerda do rio Douro que lhe marca os limites setentrionais, com o vizinho município de Gondomar, freguesia de Foz de Sousa, localizada na outra margem. As congéneres gaienses de Olival, Sandim e Lever, demarcam-lhe o restante termo, respectivamente, a poente, a sul e a nascente.
Crestuma dista cerca de 14 kms da sede do concelho, tomando a direcção de sudoeste e ligando-se àquela, em termos rodoviários, através da EN222, que funciona como circunvalação da freguesia, com ligações através da rua do Marão e da EN109/2, quer em direcção à povoação de Seixo-Alvo, freguesia de Olival, quer à variante à EN222 (barragem de Crestuma/Lever).
A propósito da referência a Gondomar e às terras do Vale do Sousa, a povoação de Crestuma é muito antiga e constituiu, em tempos, um Couto. "(...) era vastíssimo o Couto de Crestuma e segundo as demarcações feitas em 922, se estendia pelas duas margens do Douro, entrando pela margem direita, pela terra do Sousa, até ao monte Zevrario (das Vaccas) - (Livro Preto de Coimbra, fls. 39 (...)". (Américo Costa - Dicionário Chorográphico de Portugal Continental e Insular, 1948).
Cruzando a área oriental da freguesia está o rio Úima, afluente do Douro, que tem o seu curso orientado de sul para norte.
Crestuma tem cerca 5000 habitantes e 2536 cidadãos recenseados, distribuídos pelos lugares da Areia, Barroco, Burgo, Caramona, Carvalhosa, Casal, Casalinho, Castanheiro, Cêpo, Cimo da Aldeia, Colégio, Cruzeiro, Devesa, Esteiro, Fioso, Fonte, Fontinha, Igreja, Lage, Lagoa, Marão, Murça, Pena, Penedo, Picôto, Praia, Quinta da Velha, Ribeiro, Sobral, Torrão, Touças e Vessada.
A freguesia conta com um número apreciável de estudantes que, repartidos pelo ensino pré-escolar, pelos 1.º, 2.º e 3.º ciclos do ensino básico e ensino secundário, perfazem um total de cerca 180 alunos no primeiro caso, relativos à Pré-Primária do Casalinho, ao Jardim de Infância do Picôto e às Escolas Primárias do Casalinho n.º 1 e n.º 2, e de quase 200 no que tange ao segundo, inerentes à C+S de Olival e à Escola Secundária Diogo Macedo, ambas situadas na vizinha freguesia de Olival.
Após ter acompanhado o forte movimento demográfico dos últimos séculos, o crescimento da população estabilizou entre a década de 30 e 50, ao que não será alheio a sobreposição das vias rodoviárias às fluviais, passando-se do barco de carreira aos itinerários terrestres.
Mantendo embora um indiscutível carácter de freguesia rústica, onde predominarão as tarefas agro-pecuárias, Crestuma notabilizou-se já por diversos grandes empreendimentos industriais, alguns documentados desde a primeira metade do século passado. Falamos muito concretamente da antiga Fábrica de Fundição de Crestuma, a qual, segundo Henrique de Sousa Reis, desempenhou um importante papel no célebre Cerco do Porto, entre 1832-33, posteriormente transformada em Companhia de Fiação de Crestuma, talvez fundada em 1857, mas optando apenas por aquela designação em 1874 e bem mais recente e numa outra dimensão a nível dos empreendimentos infra-estruturais, da construção da majestosa barragem de Crestuma/Lever, que uniu as duas margens do rio Douro e constitui um eixo viário de vital importância para o desenvolvimento da freguesia.
A rede de transportes é satisfatória, operando na freguesia duas empresas privadas, a Auto Viação Sandinense, Lda. e a Moreira, Gomes & Costas, Lda., que garantem a ligação a toda a Área Metropolitana do Porto, principal destino dos que trabalham fora da freguesia, passando por Olival, Avintes, Vilar de Andorinho e Oliveira do Douro.

Caraterização histórica

Há boas razões para acreditar que a fixação de comunidades humanas no território que hoje é a freguesia de Crestuma recue, no mínimo, aos alvores da metalurgia (III milénio a.C.). É que, na vizinha freguesia de Sandim, mas muito próximo do limite sudoeste da freguesia de Crestuma, foi já estudada uma mamoa - a de Gestosa - atribuída por V. Oliveira Jorge ao calcolítico ou Idade do Bronze Antigo.
"(...) Talvez seja Crestuma a região da bacia umense que melhores tradições conserva da cultura antiga. Esclareçamos, da civilização romana e romano-portuguesa (...) a sua brilhante cultural medieval não poderia compreender-se, na verdade, sem elos com a civilização romana e pré-romana (...) e onde há mediavalismo bem acentuado há romanismo profundo (...). Víamos no topónimo Crestuma, uma aglutinação de Crasto por Castro e Uma, forma antiga de Uíma (...) além de Crestuma, nós sabíamos de outras vozes reveladoras de antiguidades na freguesia, tais como: Burgo, voz germânica, relacionada com o grego purgos "torreão", Cepo, do latim cippus "altar", Lage, vocábulo pré-romano, Moledo do latim mollis "elevação", Murça, Pena e Picôto do celta (...)". (Américo Costa - Dicionário Chorográphico de Portugal Continente e Insular, 1948).
"(...) A sua toponímia é expressiva: Crestuma chamava-se no século X Crastumie (de "Castro" e "Uima" hoje Uíma - nome do rio que por aqui passa); Pena (de sentido arqueológico castrejo e tb. Documentado já no séc. X); Fioso (do arcaico "fêoso" - latino fenosu (...); Burgo (que se crê relacionado com a existência local do mosteiro, que antes da nacionalidade, foi muito notável) (...)". (in VERBO - Enciclopédia Luso-Brasileira de Cultura (ELBC), Lisboa, 1971).
Referenciado já em 1935, pelo Prof. Mendes Correia, o Crasto de Crestuma voltaria a ser alvo de breve notícia por parte de Arlindo de Sousa, já em 1957, identificado pela uniformidade da topografia castreja.
O Castro, de facto, lá está, transformado no diminutivo de Castelo, num monte, a formar como que uma península, no encontro ou confluência de dois rios, neste particular na junção do Uíma ao Douro. Mons intransponível, menos de um lado, onde há vestígios de um fôsso, entre o Outeiro e o Castelo.
É também de Crestuma, possivelmente do Castelo, o fragmento de uma inscrição funerária da época romana tardia, baixo-imperial, que terá sido inicialmente recolhida nos jardins da família Morais e que actualmente se encontra, segundo Gonçalves Guimarães, soterrada nos terrenos da já citada Companhia de Fiação de Crestuma.
No monte do Outeiro, nas proximidades do lugar da Vessada, quando se procedia à tiragem de pedra para um muro da antiga estrada Crestuma - Porto, apareceram diversas sepulturas, cavadas nas fragas de vários tamanhos, isoladas ou em grupos, que na esteira do que escreveu o Dr. Leite de Vasconselos: "(...) os túmulos ou cemitérios que, por ora se têm estudado, estão quase sempre situados fora das muralhas dos, pelo menos fora da primeira linha de muralhas, a partir do centro (...)".
Corresponde a este último contexto uma notícia documental, embora de redacção tardia, alusiva ao Mosteiro de Santa Marinha de Crestuma, noticiado no ano de de 922, através da expressão paleográfica "(...) beremitam (...) locum Castrumie (...) ipso monasterio (...) sancte marine (...)".