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18 | II Série A - Número: 070 | 27 de Abril de 2007

No plano empresarial, o sector da cortiça significa cerca de 900 empresas transformadoras, enquanto no plano do emprego representa cerca de 12 a 14 000 postos de trabalho fabris directos, e mais cerca de 6500 postos de trabalho sazonais na extracção e noutras operações florestais.
Importa referir, no entanto, que a posição cimeira que a nível mundial o País detém actualmente nesta área não é o resquício final de uma situação herdada, mas antes o resultado de uma resposta do sector empresarial, sobretudo nas últimas quatro décadas.
Com efeito, de um país essencialmente produtor e exportador de cortiça em estado bruto, até à década de 60, Portugal passou, num curto espaço de tempo, a transformar praticamente toda a cortiça produzida e mesmo alguma importada.
Esta notável evolução foi o resultado duma aposta na inovação tecnológica no processo produtivo, com reflexo na melhoria da qualidade das rolhas e em novos produtos, mas também na modernização da gestão e numa forte iniciativa empresarial no sector, estando hoje as empresas ajustadas à lógica da globalização, o que implica capacidade de responder a um mercado em evolução constante e cada vez mais exigente.

1.2 — Do sobreiro O inventário florestal nacional, recentemente apresentado, evidenciava que, em termos de povoamentos puros, mistos dominantes e jovens, o sobreiro ocupava, em 2005/6, o primeiro lugar nacional em termos de áreas florestais, com 736 700 ha, seguindo-se o pinheiro bravo com 710 600 ha, e o eucalipto com 646 700 ha.
Por regiões, o sobreiro é a primeira espécie florestal na NUT II — Alentejo, com 71,6%, na NUT II — Lisboa e Vale do Tejo, com 21,2%, e na NUT II — Algarve, com 3,86% do total.
Embora a área florestal ocupada com sobreiro tenha crescido ao longo do tempo, a sua posição cimeira actual deriva do efeito devastador provocado pelos incêndios nos povoamentos de pinheiro bravo, o qual viu a sua distribuição geográfica diminuir de 976 100 ha para 710 600 ha, apenas numa década.
Mas o montado do sobro não é simplesmente um espaço florestal produtor de matéria-prima, a cortiça. Na realidade, constitui um sistema económico e social complexo, que tem contribuído para a fixação da população rural. Milhares de pequenos produtores obtêm, para além da extracção da cortiça, rendimentos complementares com criação ou engorda do porco preto, de gado bovino e ovino, da caça, da apanha de cogumelos ou ervas aromáticas, da produção de mel e de aguardente de medronho.
O montado de sobreiro é ainda o habitat de uma fauna e flora únicos, com espécies protegidas.
Se a espécie do pinheiro bravo sofreu o impacto tremendo dos incêndios florestais, sobre o montado de sobreiro pesa uma ameaça não menos devastadora: um conjunto de doenças e de factores diversos que está a provocar a debilidade dos sobreiros, preocupantes níveis de mortalidade, bem como um declínio no rendimento da sua produção, que até agora não tem conhecido soluções tranquilizadoras para os produtores florestais!

2 — Da utilização da cortiça

A cortiça conhece, hoje; variadíssimas utilizações, que vão desde a produção de rolhas (68%), à construção civil (15%), à indústria automóvel (7%), e outras, onde se inclui a moda e a indústria aeronáutica e aeroespacial, num total de 10%.
Mas não obstante os progressos na diversificação em termos de utilização da cortiça, a principal utilização e viabilização desta fileira continua a ser a produção de rolhas para engarrafamento de vinho, e outras bebidas.
Com efeito, é uma realidade secular, historicamente documentada, a relação forte entre a produção de cortiça e a produção de vinho.
O mercado mundial do vinho é ainda dominado pela Europa, que detém cerca de metade da área mundial de vinha e consome cerca de 72% da produção total. O quadro actual desta actividade caracteriza-se actualmente pelo aparecimento de novos e importantes produtores, no que já se designa de «Novo Mundo Vitícola», esperando-se que com a internacionalização contínua do mercado se venha a registar um aumento do consumo mundial de vinho até 2010.
Neste quadro, o mercado das rolhas para o sector vinícola continuará a ser, num futuro próximo, o principal destino da nossa cortiça, sendo estratégica a investigação no sentido de se viabilizar sua aplicação a novos produtos de maior valor.

3 — Das ameaças e desafios que se colocam ao sector

Mas todo este quadro tem vindo, contudo, a conhecer crescentes ameaças ao mercado da cortiça, e uma evolução preocupante do ponto de vista da produção florestal, já referida anteriormente.
Entre as ameaças contam-se campanhas e movimentos comerciais agressivos no sentido da substituição da rolha de cortiça por rolhas e outros vedantes sintéticas no engarrafamento do vinho, o que representa um sério risco para a sustentabilidade económica e social de um sector que tem a sua viabilidade assente justamente na produção de rolhas.