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19 | II Série A - Número: 070 | 27 de Abril de 2007

Mas as ameaças também provêm de dificuldades internas associadas aos incêndios florestais e a um persistente declínio do montado de sobreiro.
Este declínio expressa-se na morte contínua de sobreiros, na perda de vigor vegetativo de muitas árvores, e na diminuição quantitativa e qualitativa da cortiça produzida.
E esta diminuição da produção, em quantidade e qualidade, coloca duas preocupações fundamentais.
A primeira traduz-se numa disponibilidade de cortiça actualmente já inferior à capacidade de transformação e de exportação da indústria, e a segunda traduz-se numa quebra do rendimento da cortiça para os produtores, o que diminui a sua capacidade de investimento e melhoria da sua actividade no futuro.
Esta situação, embora objecto de muitos estudos ao longo do tempo, não tem encontrado respostas globais satisfatórias da parte do meio científico.
A este quadro acrescem, em termos de futuro, os prováveis efeitos negativos das alterações climáticas, que hoje concitam, finalmente, as atenções mundiais.
Mas os alertas relativamente à cortiça não têm vindo apenas de fontes nacionais.
Na verdade, ao longo dos anos tais preocupações têm sido objecto de estudos e relatórios, incluindo da iniciativa de organizações ecologistas internacionais insuspeitas como a World Wildlife Fund for Nature (WWF), a Rainforest Alliance ou o Forest Stewardship, que alertaram para as consequências profundamente preocupantes, do ponto de vista económico, social e ambiental, da redução da produção de cortiça ou da área florestal a ela dedicada.
Em suma, não se está só perante um desafio constituído pelo declínio do montado de sobreiro, traduzido numa diminuição quantitativa e qualitativa da cortiça enquanto matéria-prima, como perante um desafio económico e social que se pode vir a traduzir, no futuro, pela não viabilidade económica da extracção da cortiça se o preço a pagar por uma cortiça de menor qualidade não suportar custos de extracção cada vez mais altos, face a uma produtividade que não tem evoluído ao longo de décadas.
É absolutamente imperioso encontrar, e rapidamente, a identificação das causas do declínio do sobreiro e apontar as soluções para o combater.

4 — Das respostas nacionais

4.1 Do tecido empresarial e do associativismo No plano interno, verifica-se que as empresas de transformação têm modernizado os seus processos de fabrico e procurado diversificar os produtos, enquanto as suas associações têm procurado mesmo concertar estratégias com empresas e associações espanholas.
No plano da produção florestal, é visível em muitos produtores um esforço próprio de investimento e iniciativa na melhorias dos métodos de gestão do montado.
Todavia, embora com ênfases diferentes, há preocupações do lado da indústria, sobretudo relativamente ao futuro das condições da produção da floresta, e do lado dos produtores florestais há uma grande preocupação com a falta de resultados ao nível da investigação, e uma preocupação com a falta de coerência, consistência e de continuidade das políticas nesta área.
Nos contactos com empresários, e suas associações, não se ouviu a esperada reivindicação ou pedido de apoio financeiro, mas um sentimento muito nítido de que o Estado não tem agido como o exige a situação de líder mundial que o País detém neste sector económico.
Uma actividade florestal onde o sobreiro inicia a produção de cortiça aos 25-30 anos e o retorno do investimento ocorre aos 60-70 anos, coloca naturalmente desafios que exigem uma estratégia nacional, consistente a longo prazo, de maneira a assegurar condições de sustentabilidade e progresso num sector que tem um potencial de produção e exportação que pode atingir, no futuro, o dobro dos seus valores actuais.

4.2 Da actividade de investigação A investigação dirigida para a transformação da cortiça tem sido suporte de uma evolução positiva na resposta às exigências de inovação induzida pelo mercado, tendo permitido uma melhoria dos processos de produção, visando ultrapassar algumas limitações e problemas detectados e atribuídos à utilização da rolha de cortiça. Esta investigação tem também produzido resultados surpreendentes relativos à mais valia em termos de saúde, ao valor ambiental da produção da cortiça e a novas aplicações.
Merece destaque, pelo simbolismo negativo da situação, o facto de investigadores e empresas nacionais serem premiados internacionalmente pelo seu esforço de investigação no domínio da transformação, não havendo nada de semelhante no País, que é líder mundial.
Quando olhamos para a investigação aplicada ao sobreiro, investigadores e produtores florestais reconhecem que o País conheceu uma actividade sistemática até aos anos 50, sob a responsabilidade da equipa liderada pelo Eng.º Vieira da Natividade. Com o estímulo do exemplo dado, o nome deste investigador esteve associado a um prémio instituído para destacar anualmente a melhor exploração suberícola.
Depois disso, de inúmeros projectos financiados pelo erário público e por fundos comunitários, a actividade de investigação é dispersa, desligada de objectivos estratégicos, e sem resultados palpáveis, o que deixa os produtores indefesos e preocupados perante o contínuo declínio do montado.