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30 DE MARÇO DE 2016 29

2 – Diabetes: um problema de saúde pública em Portugal

“Em 2014 a prevalência estimada da Diabetes na população portuguesa com idades compreendidas entre

os 20 e os 79 anos (7,8 milhões de indivíduos) foi de 13,1%, isto é, mais de 1 milhão de portugueses neste

grupo etário tem Diabete”, revela o mais recente relatório do Observatório da Diabetes.

Tendo em conta que a prevalência da Diabetes aumenta com a idade, entre os 60 e os 79 anos, 30,4% dos

homens e 24,3% das mulheres vivem com Diabetes.

Trata-se de um sério problema em Portugal. Apesar de todo o trabalho desenvolvido nesta área, o número

de portugueses com Diabetes é o mais elevado da Europa Ocidental e o problema nem sequer é conhecido na

sua totalidade. Isto porque, os estudos apontam para que 44% das pessoas com doença não tenham sido ainda

diagnosticadas.

Estima-se que haja cerca de 400 000 pessoas com Diabetes por diagnosticar, correspondente a 5,7% da

população Portuguesa adulta.

O problema agrava-se porque o diagnóstico tardio da Diabetes está associado ao agravamento de

comorbilidades e consequente aumento de custos para o SNS. Estas pessoas não diagnosticadas estão

plenamente expostas às complicações da hiperglicemia, muitas vezes dando entrada no Serviço Nacional de

Saúde pela porta do Serviço de Urgência com enfartes, AVC e infeções graves do pé. São também frequentes

os diagnósticos de complicações oculares graves e formas avançadas de insuficiência renal em pessoas recém-

diagnosticadas. Desta forma a Diabetes não diagnosticada é uma fonte significativa de morbilidade, mortalidade

e custos evitáveis.

Em 2014 a Diabetes representou cerca de nove anos de vida perdida por cada óbito por Diabetes na

população com idade inferior a 70 anos. O número anual de óbitos por DM ronda os 4000 (4% das mortes

registadas). Um aspeto positivo é que se registou uma diminuição significativa do número de anos potenciais de

vida perdida por Diabetes em Portugal, cerca de -15% nos últimos 5 anos.

A Diabetes pode causar complicações a curto-médio prazo (por exemplo, hiperglicemias ou hipoglicemias) e

tardias (micro ou macrovasculares).

O que se sabe é que a persistência de um nível elevado de glicose no sangue, mesmo quando não suscetível

de implicar diagnóstico imediato, resulta em lesões nos tecidos. Esclarece o Observatório da Diabetes que “Em

praticamente todos os países desenvolvidos, a Diabetes é a principal causa de cegueira, insuficiência renal

e amputação de membros inferiores. A Diabetes constitui, atualmente, uma das principais causas de

morte, principalmente por implicar um risco significativamente aumentado de doença coronária e de

acidente vascular cerebral.”

Caso particularmente grave é o das crianças, maioritariamente com diabetes tipo 1, que como tal apresentam

maior risco de desenvolvimento rápido de cetoacidose diabética, uma complicação aguda e potencialmente fatal.

Já um deficiente controlo metabólico a longo prazo nas crianças pode resultar em défice de desenvolvimento,

assim como na ocorrência tanto de hipoglicemias graves e em internamentos hospitalares.

As hipoglicemias, menos conhecidas e publicamente debatidas, não deixam de ter um forte impacto nos

doentes e no sistema de saúde. Conforme consta de publicação da Revista Portuguesa de Farmacoterapia “os

dados indicam que as hipoglicemias ainda não estão controladas”. “Em 2012 o número de contatos associados

a episódios de hipoglicémia ultrapassou os 15% e 10,2% resultaram no encaminhamento dos doentes para

cuidados médicos urgentes (ROND 2013). Os dados indicam que a doença descompensada, e especificamente

as hipoglicemias, devem continuar a ser um dos pontos de ação a considerar nas futuras estratégias”.

O Observatório da Diabetes concluiu que “se considerarmos a despesa identificada, a Diabetes em Portugal

em 2014 representou um custo direto estimado entre 1300 – 1550 milhões de euros ou seja, 10% das

despesas públicas em saúde”.

Se o problema é conhecido (pelo menos para os especialistas), o trabalho na prevenção e tratamento da

diabetes também tem um amplo historial em Portugal. O Programa Nacional para a Diabetes existe em Portugal

desde a década de setenta do século passado. Remonta a 1989 a assinatura por Portugal da Declaração de St.

Vincent, com o compromisso de reduzir as principais complicações da diabetes: cegueira, amputações major

dos membros inferiores, insuficiência renal terminal e doença coronária.