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7 DE SETEMBRO DE 2018 11

idade foram administradas 2900 doses de metilfenidato, tendo sido no grupo etário dos 5 aos 9 anos

administradas 1 261 933 doses. 2

Perante o aumento da utilização de metilfenidato, vários médicos e psicólogos têm reconhecido publicamente

diagnósticos errados e prescrições indevidas. A título de exemplo, o neuropediatra Nuno Lobo Antunes admite

receber muitas crianças «medicadas de forma errada para o problema errado». A pedopsiquiatra Ana

Vasconcelos refere estar «preocupadíssima com essa tendência, que já é muito expressiva em Portugal.

Qualquer dia as crianças são como robôs medicados». Por sua vez, o Infarmed admite que «O tratamento

farmacológico para a PHDA continua a ser um tema controverso, devido a uma eventual medicação excessiva

de crianças e adolescentes e ao potencial de abuso de medicamentos estimulantes.»3

O diagnóstico de PHDA é normalmente formulado com base nos critérios do Manual de Diagnóstico e

Estatística das Perturbações Mentais (DSM-V). Ora, um dos principais receios face a este diagnóstico prende-

se com a aplicação de critérios clínicos a crianças em idade pré-escolar e ao risco que daí pode advir

relativamente à psicopatologização e sobrediagnóstico de problemas meramente transitórios no

desenvolvimento. A esta dificuldade associa-se a ausência de um enquadramento baseado em evidências

empíricas, que contemple variáveis de desenvolvimento e critérios clínicos especificamente desenhados para a

idade pré-escolar. Descreve o DSM que «a hiperatividade pode variar em função da idade do sujeito e do seu

nível de desenvolvimento e o diagnóstico deve ser feito cautelosamente em crianças jovens» e que «é

especialmente difícil estabelecer este diagnóstico em crianças de idade igual ou inferior a 4 ou 5 anos, porque

o seu comportamento característico é muito mais variável do que nas crianças mais velhas e pode incluir

características que são semelhantes aos sintomas de PHDA». Alguns dos sintomas elencados no DSM como

indicativos de patologia em crianças mais velhas e adultos sobrepõem-se, muitas vezes, a comportamentos

normativos em crianças mais novas, cujos processos de atenção e autorregulação estão ainda em

desenvolvimento. Como refere Bussing (2006) não se espera que estas crianças prestem atenção suficiente a

pormenores ou se organizem facilmente em tarefas e atividades. A título exemplificativo o sintoma «interrompe

ou interfere nas atividades dos outros» encontra-se presente em 50% dos pré-escolares com desenvolvimento

normal, pelo que não deve ser considerado um comportamento discriminativo e sintomático da PHDA em idade

pré-escolar. Assim como, a maioria dos sintomas de falta de atenção são definidos com base em tarefas

académicas («comete erros por descuido nas tarefas escolares»; «não segue as instruções»; «não termina os

trabalhos escolares»).

Várias diretrizes europeias foram recentemente publicadas sobre o tratamento de Perturbação de

Hiperatividade com Défice de Atenção aplicadas à prática clínica Europeia, compiladas em 2017 pelo Instituto

para PHDA4: Orientações Clínicas Europeias da Sociedade Europeia para a Psiquiatria da Criança e do

Adolescente (ESCAP) para HKD, As diretrizes do Instituto Nacional de Excelência em Saúde e Assistência

(NICE) e As diretrizes da Associação Britânica de Psicofarmacologia. Sobre o tratamento de Perturbação de

Hiperatividade com Défice de Atenção (PHDA) em crianças com menos de 6 anos, estas entidades adotam

posições consensuais sobre a prioridade que deve ser dada a intervenções psicológicas e ao treino dos pais

para lidar com a situação de forma continuada, a menos que deficiências significativas persistentes justifiquem

a revisão do especialista.

Já o neurocientista Bruce D. Perry da Houston ChildTrauma Academy, academia de Houston para o trauma

infantil, tem assumido publicamente a preocupação com o facto de as crianças estarem a ser rotuladas como

portadoras de PHDA quando isso descreve meramente sintomas de uma série de diferentes problemas

fisiológicos. Os sintomas que levam ao diagnóstico de PHDA incluem desatenção, hiperatividade e impulsividade

durante um período prolongado. Este especialista acrescenta que os médicos estão a prescrever de forma

demasiado rápida psicostimulantes para crianças quando as evidências científicas sugerem que não há

benefícios de longo prazo. Para além disso, assume que a toma de medicamentos influencia os sistemas de

maneiras que nem sempre entendemos. Defende que é necessária bastante cautela, especialmente quando a

investigação mostra que outras intervenções não farmacológicas são, ao longo do tempo, mais eficazes e não

2 https://www.dgs.pt/em-destaque/portugal-saude-mental-em-numeros-201511.aspx 3 http://www.infarmed.pt/documents/15786/17838/Relatorio_ADHD.pdf/d6043d87-561e-4534-a6b1-4969dff93b78 4 Guidelines Europeias publicadas pelo Attention-deficit hyperactivity disorder (ADHD) Institute – January 2017. Plataforma orientada para a partilha dos avanços científicos na pesquisa de PHDA e para fornecer opiniões de especialistas para apoiar a comunidade profissional de saúde.