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II SÉRIE-A — NÚMERO 77

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11,8% da carga global de doença a nível nacional – apenas ultrapassadas pelas doenças cerebrovasculares –

e estima-se que representem um custo de 3,7% do PIB. Um retrato a que se acumula o tremendo impacto

psicológico gerado pela pandemia de COVID-19 e que, segundo dados recentes do INSA2, se traduziu no

sofrimento psicológico de 7 em cada 10 portugueses.

A Ordem dos Psicólogos Portuguesas tem avisadamente alertado para a elevada probabilidade da

pandemia COVID-19 estar a provocar ansiedade, stress e medo. E que estes sentimentos, juntamente com a

incerteza, e com a fraca capacidade de adaptação, perante aquilo que desconhecemos ou não controlamos

podem alimentar estereótipos, contribuindo para a estigmatização social de determinados cidadãos ou grupos

de cidadãos. (OPP. Media e Comunicação sobre Saúde Psicológica no âmbito da pandemia3.

No seio deste grave quadro epidemiológico, destacam-se ainda dados particularmente alarmantes a

respeito dos nossos jovens. Em 2018, num estudo4 que procurou avaliar a saúde mental dos nossos

adolescentes, os mesmos 87% que consideraram ter um nível de saúde «bom ou excelente», indicaram sentir-

se recorrentemente nervosos (62,8%), irritados (60,2%), tristes (49,9%) ou com medo (35,5%). Dados

recolhidos pelo SICAD no ano de 20185 indicam-nos prevalências preocupantes no consumo de

medicamentos sedativos, tranquilizantes ou hipnóticos por parte dos jovens portugueses, numa tendência

crescente entre os 13 anos (6,7%) e os 18 anos (17,1%). Em 2019, um outro estudo6 revelou que 20% das

nossas crianças e adolescentes têm, pelo menos, uma perturbação mental e ainda que quase 31% dos jovens

em Portugal evidenciam sintomatologia depressiva. Também ao nível do ensino superior, um inquérito recente

indicou que 42,7% dos estudantes universitários portugueses já tiveram experiência de doença mental pelo

menos uma vez na vida, sendo que 16,8% deles apresentavam naquele momento diagnóstico para uma

doença mental.

Mais recentemente, reportando-nos já ao contexto pandémico em que nos encontramos, um estudo da

UCP7 veio revelar que 48% dos jovens entre os 18-24 anos manifestaram ter piorado o seu estado de saúde

mental durante os primeiros meses de pandemia. Em Portugal, é entre os 18 e os 34 anos que se verifica

maior prevalência de doença mental, com as perturbações ansiosas afetivas e o abuso de álcool a

encabeçarem as patologias mais frequentes.

Numa estreita relação com as perturbações depressivas e de ansiedade, existem os comportamentos

autolesivos. Em Portugal, 19,6% dos jovens assumem ter tido este tipo de comportamentos8. Adjacente à

autolesão está também uma maior probabilidade de suicídio, a segunda causa de morte nos jovens e que, em

2017, atingiu o máximo dos últimos 10 anos.

Este retrato deve merecer a nossa maior sensibilidade e atenção, se tivermos em conta que cerca de 50%

das doenças mentais registadas em adultos são despoletadas por volta dos 14 anos, e 75% até aos 259.

É, por isso, premente assumirmos hoje um compromisso sério e robusto pela preservação da Saúde

Mental dos nossos jovens de hoje, adultos de amanhã. São por demais evidentes os benefícios gerados por

uma efetiva preservação da saúde mental dos indivíduos que compõem uma comunidade: a felicidade, o bem-

estar e o equilíbrio traduzem-se em melhor saúde global, potenciam atividade económica e, naturalmente,

geram poupança a um sistema de saúde que está hoje e estará certamente, no futuro, sobrecarregado em

resposta a tantos outros desafios.

É agindo hoje ao nível da prevenção, da capacitação, da educação, da sensibilização, da informação e do

acompanhamento próximo das nossas crianças, adolescentes e jovens, que asseguramos uma maior

probabilidade de, no médio e longo-prazo, conseguirmos reverter o alarmante cenário que hoje carateriza a

nossa sociedade neste domínio.

Assumir esse desígnio exige, em primeiro lugar, um reconhecimento exaustivo dos estímulos e fatores que,

nos dias de hoje, influenciam a saúde mental das novas gerações. Há que avaliar e desconstruir o impacto no

equilíbrio mental juvenil de fenómenos como:

2 INSA. Saúde Mental em Tempos de Pandemia. 2021.

3 OPP. Media e Comunicação sobre Saúde Psicológica no âmbito da Pandemia. 2020

4 HBSC. A Saúde Mental dos Adolescentes Portugueses após a Recessão. 2018

5 SICAD. Jogo e Internet: Sumário Estatístico 2018.

6 ESEC. Programa Mais Contigo. Dados relativos ao Ano Letivo 2019/2020

7 CESOP/UCP. Impacto da pandemia na saúde mental dos jovens. In Publico.

8 Matos, M. et al. A SAÚDE DOS ADOLESCENTES PORTUGUESES APÓS A RECESSÃO. Health Behaviour in School – Aged Children.

Aventura Social. 2018. 9 Kessler, R. Age of onset of mental disorders: a review of recent literature. 2007

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