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II SÉRIE-A — NÚMERO 78

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preocupações que têm vindo a ser manifestadas por profissionais da nutrição e da pediatria, prende-se com os

valores de açúcar existentes no leite achocolatado. Júlia Galhardo, pediatra responsável pela consulta de

obesidade do Hospital Dona Estefânia, em entrevista aos órgãos de comunicação social, refere que o facto do

leite achocolatado distribuído nas escolas ter menos açúcar, tal não o torna um alimento saudável, sendo o

principal problema deste produto, o seu teor de gordura e açúcar acrescentado. Também a Bastonária da Ordem

dos Nutricionistas referiu que «não é concebível que num momento em que se fala de um consumo excessivo

de açúcar estejamos a fornecer leite achocolatado às crianças».

O fornecimento de leite achocolatado nas escolas transmite erradamente à população a ideia de que se está

nas escolas deve ser saudável, pelo que entendemos que a distribuição de leite com chocolate nas escolas é

contrária a uma educação para a saúde coerente.

A evidência científica resultante de estudos epidemiológicos e de dados clínicos sobre intervenções a nível

alimentar, suportam direta e indiretamente, a correlação entre o excesso de açúcar na alimentação e o ganho

de peso. Outras consequências do consumo elevado de açúcar pelas crianças são o aumento da glicemia

(açúcar no sangue), que pode conduzir a uma sobrecarga do pâncreas e a uma resistência à insulina, o

desequilíbrio nutricional, nomeadamente a falta de algumas vitaminas e minerais, essenciais ao bom

desenvolvimento físico e cognitivo, o aumento dos valores de colesterol e triglicerídeos, promovendo um maior

risco cardiovascular, e a diminuição da concentração com aumento da fadiga física e mental.

Também os alimentos pré-confecionados e processados têm em regra, elevado teor calórico, sendo

excessivos em ácidos gordos saturados e açúcares simples, mas pobres em nutrientes essenciais.

Paralelamente, também as crianças e jovens têm diminuído a sua atividade física diária, situação que se

agrava ainda mais em períodos de confinamento como a crise sanitária em que vivemos, mas o exercício é

fundamental na manutenção a longo prazo do peso saudável, proporcionando bem-estar e ajudando a controlar

os restantes fatores de risco cardiovascular.

De facto, dados preliminares da 5.ª fase do COSI Portugal (Sistema de Vigilância Nutricional Infantil do

Ministério da Saúde em coordenação com o Instituto Nacional de Saúde Ricardo Jorge (INSA), alertam para o

aumento da prevalência da obesidade infantil com a idade, avaliando 15,3% de crianças obesas aos 8 anos de

idade e 10,8% aos 6 anos de idade, (das quais, 5,4% e 2,7%, respetiva, ente com obesidade severa). Acima

dos 15 anos de idade, os valores tornam-se extremamente preocupantes, com cerca de 68% da população

portuguesa com excesso de peso ou obesidade.

Portugal tem também uma população envelhecida, que comporta maior risco de doença associada, devendo

ser considerada como mais vulnerável e exigente de elevado investimento em saúde. Cerca de 39% dos idosos

são obesos, mais de um quarto tem diabetes, 70% sofre de hipertensão.

A implementação de políticas que promovam a adoção de hábitos alimentares adequados e de combate ao

sedentarismo são essenciais para a melhoria da qualidade de vida e bem-estar das pessoas, com impactos

evidentes a médio e longo prazo no sistema de saúde.

Mas apesar das políticas preventivas serem fundamentais, Portugal gasta menos do que outros países

europeus em saúde preventiva. Em 2017, Portugal tinha um investimento de cerca de 36 euros por pessoa –

1,8 % do total das despesas de saúde, por comparação com 3,2% na União Europeia (EU). As políticas de

saúde pública têm que assentar cada vez mais na prevenção, garantindo melhores resultados em saúde,

menores custos individuais e familiares e maior sustentabilidade do SNS.

Tendo em conta que os hábitos alimentares inadequados são dos principais fatores de risco para a carga de

doença dos portugueses, colocando enorme pressão sobre o sector da saúde, urge garantir um conjunto de

políticas integradas para responder à necessidade de alteração de comportamentos de sedentarismo, de

alimentação inadequada, reforçando respostas em saúde, onde os profissionais de nutrição, psicologia,

desenvolvimento e educação, assumem papéis complementares essenciais.

Neste sentido, deve o Estado responder à necessidade de integração destes profissionais garantindo a sua

presença no SNS e/ou nas escolas. Mas deve também o Governo legislar no sentido de aumentar o número de

horas letivas de educação física nos equipamentos escolares, garantindo condições de qualidade e

acessibilidade à sua prática.

Assim, é imperativo que o Governo avalie e implemente uma estratégia nacional concertada de combate à

obesidade, ao longo de todo o ciclo vital, com foco primordial na prevenção da doença e promoção da saúde

em todos os contextos sociais de vida.