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II SÉRIE-A — NÚMERO 47

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PROJETO DE LEI N.º 185/XV/1.ª

DEFINE AS DIRETRIZES PARA A ELABORAÇÃO DOS PLANOS DE MOBILIDADE URBANA

SUSTENTÁVEL

Exposição de Motivos

Fruto da dispersão urbanística residencial e da desnuclearização das atividades, a mobilidade, em

particular nas grandes cidades e espaços metropolitanos, é hoje uma realidade muito diversificada e

complexa, marcada pelo aumento das cadeias de deslocação diárias.

Nas últimas décadas, verificou-se o aumento das distâncias a percorrer e, consequentemente, o aumento

do tempo de deslocação e o custo das mesmas, tanto mais que se tornou um convite à utilização desmedida

do automóvel. Como consequência, observou-se um agravamento de ocupação da rede viária, surgiram os

congestionamentos, aumentaram os problemas de saúde pública e degradou-se a qualidade de vida urbana.

Hoje, passadas algumas décadas, a engenharia do tráfego dá lugar ao planeamento da mobilidade urbana

sustentável, centrado nas preocupações com as pessoas e com a sua qualidade de vida. Assim, torna-se

imperioso a libertação de espaço público para usufruto e interação social, para a vivência urbana e para os

modos suaves, em contexto de mais áreas verdes e incremento da segurança e coesão social e territorial.

O Plano de Mobilidade Urbana Sustentável tem essa enorme tarefa. Libertar espaços entre os edifícios que

agora são necessários para uma nova vida urbana ao ar livre, em que as pessoas e as futuras gerações

deverão voltar a caminhar mais, a andar de bicicleta e a reutilizar a cidade consolidada, com formas mais

inteligentes de mobilidade partilhada em tempo real.

O Acordo de Paris, alcançado em 2015, estabeleceu objetivos de longo prazo para a contenção do

aumento da temperatura média global a um máximo de 2 °C acima dos níveis pré-industriais, com o

compromisso, por parte da comunidade internacional, de prosseguir todos os esforços para que esse aumento

não ultrapasse 1,5 °C, valores que a ciência define como máximos para se garantir a continuação da vida no

planeta sem alterações demasiado gravosas.

No quadro da vida nas cidades, grande parte das emissões de CO2 para a atmosfera resulta do setor dos

transportes. Na verdade, este meio de emissão representa cerca de 30% do total de emissões pelo que se

afigura urgente rever o modelo de mobilidade e circulação nas áreas urbanas.

Concomitantemente, o Fórum Económico Mundial (WEF) publicou resultados alarmantes para a saúde

pública e para a vida nas cidades, onde se demonstra que as pequenas partículas ingeridas, provenientes da

poluição do ar, reduzem a esperança média de vida.

Doenças respiratórias, cardiovasculares, obesidade, cancro e outras complicações de saúde podem

desenvolver-se devido à poluição atmosférica gerada pelos automóveis e pelos transportes em geral, bem

como o tempo gasto no trânsito e a sua exposição à poluição têm trazido efeitos nefastos para a saúde

publica.

Visando reduzir as emissões de gases com efeito de estufa e, simultaneamente, auxiliar aqueles que se

deslocam para o trabalho ou escola, mantendo a distância física, várias foram as cidades a nível mundial que

tentaram retirar vantagem da pausa forçada, provocada pela pandemia COVID-19, para lançar novas formas

de mobilidade positivas para o meio ambiente.

Aliás, neste particular, os ciclos temporais cada vez mais curtos, de fenómenos nocivos, de origem

biológica, natural e económica, impõem medidas de prevenção ao nível da mobilidade. Na verdade, vários

especialistas referem que teremos de viver em permanentes pandemias, de outras origens e formas, cuja

frequência tem ciclos de tempo cada vez mais curtos como se observa, numa década, terem surgido a Gripe

A, a SARS e, agora, a COVID-19.

Este é o momento de decidir o que fazer em prol da qualidade de vida das pessoas, da saúde pública e da

qualidade do ambiente urbano, planeando cidades mais resilientes. É o momento de aproveitar, também,

alguma reflexão e estudos já desenvolvidos ao nível do planeamento da mobilidade para implementar algumas

medidas, mesmo que sob a forma de ensaio, de ações ágeis, temporárias, rápidas e flexíveis.

Assim, a dimensão e transversalidade do problema impõe ações devidamente coordenadas, níveis

elevados de eficácia, articulação entre os atores, compreensão e aceitação pela comunidade, assumindo, o