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II SÉRIE-A — NÚMERO 90

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assistidos depois de acidentes violentos. Um dos forcados perdeu os sentidos na arena e outro sofreu uma

fratura no maxilar e teve de ser transportado de helicóptero para o Hospital de São José, em Lisboa;

̶ Agosto de 2019 (Nazaré) – Oito forcados feridos, dois em estado grave, na sequência de acidentes

graves numa corrida de touros na praça de touros da Nazaré. Um dos forcados foi projetado contra as tábuas,

perdeu os sentidos e teve que ser transportado para o Centro Hospitalar de Leiria. Outro sofreu diversos

ferimentos graves, e por suspeitas de fratura da tíbia e perónio foi transportado ao Hospital;

̶ Outubro de 2019 (Moita) – Um fotógrafo que se encontrava na trincheira da praça de touros foi colhido

por um touro que lhe arrancou o escalpe. O acidente de extrema violência foi presenciado por várias crianças

que se encontravam a escassos metros da vítima;

̶ Novembro de 2019 (Redondo) – Colhida violenta do forcado Luís Feiteirona com fratura exposta da

perna. Foi retirado de maca da arena e transportado ao Hospital num ambiente de tensão e pânico na praça;

̶ Maio de 2022 (Moita) – Um jovem menor de idade (15 anos) morreu numa largada de touros organizada

pela Câmara Municipal da Moita. O jovem foi colhido pelo touro e perfurado na garganta, não resistindo à

violência das colhidas. O episódio violento foi testemunhado por centenas de pessoas, incluindo crianças.

Em junho de 2016, a Ordem dos Psicólogos Portugueses pronunciou-se sobre o impacto psicológico da

exposição de crianças a espetáculos tauromáquicos através de um parecer enviado à Assembleia da

República no âmbito de um projeto apresentado pelo Pessoas-Animais-Natureza, considerando que a

exposição das crianças à violência «não é benéfica para as crianças ou para o seu desenvolvimento saudável,

podendo inclusivamente potenciar o aparecimento de problemas de saúde psicológica».

Referem ainda no respetivo parecer que «as crianças experienciam consequências negativas pela

observação de violência contra os animais, com efeitos semelhantes à observação de violência contra

pessoas. Segundo os estudos (…) as crianças que testemunham abuso animal têm maior probabilidade de

desenvolver problemas comportamentais, dificuldades académicas, comportamento delinquente e correm

maior risco de abusar de substâncias.»

Acrescentam que «Lockwood (2007) identificou seis resultados adversos da exposição das crianças à

crueldade para com animais: 1) promove a dessensibilização e prejudica a capacidade da criança para a

empatia; 2) cria a ideia de que as crianças, tal como os animais, são dispensáveis; 3) prejudica o sentido de

segurança e confiança na capacidade dos adultos para as protegerem do perigo; 4) conduz à aceitação da

violência física em relações interpessoais; 5) faz com que as crianças possam procurar uma sensação de

empowerment infligindo dor e sofrimento; 6) leva à imitação de comportamentos abusivos».

Por referência ao mesmo autor,refere ainda que «as crianças expostas ao abuso de animais podem

apresentar comportamentos de 'abuso reativo', ou seja, as crianças podem reencenar com animais os

comportamentos que testemunharam. É preciso não esquecer que os seres humanos desenvolveram uma

forma muito poderosa de aprendizagem – a imitação, ou seja, a capacidade aprender comportamentos através

da observação das ações dos outros. E que este tipo de aprendizagem é fundamental na infância. E as

crianças imitam o comportamento dos adultos mesmo quando este não é apresentado, deliberadamente, para

as ensinar (Meltzoff, A., 1999). A observação de comportamentos agressivos aumenta a probabilidade de as

crianças terem comportamentos semelhantes (Huesmann et al., 2003)».

No livro «The Link Between Animal Abuse and Human Violence (Linzey, 2009)» os autores sublinham «o

papel da dessensibilização da violência animal. Esta dessensibilização (que habitua as crianças a situações de

violência, tornando-as passivas e reduzindo a sua capacidade de reagir face a atos violentos) opõe-se

diretamente ao desenvolvimento da empatia na infância. A observação de cenas violentas aumenta a

tolerância a demonstrações de agressão e ensina as crianças a aumentar os seus níveis daquilo que é

agressividade aceitável. Para além disso, alguns estudos documentam que a dessensibilização à violência

leva a que as crianças esperem mais tempo para chamar um adulto a intervir numa altercação física entre

pares e conduz a uma redução na simpatia para com as vítimas de violência doméstica. Uma outra

consequência da observação de violência é o aumento de sentimentos hostis que, por sua vez, interfere na

capacidade de interagir em contextos interpessoais (Cantor, J. s.d.)».

E aqui importa sublinhar, como suprarreferido pelos exemplos elencados, que as crianças não estão

apenas expostas a violência contra animais, que é o cerne da atividade tauromáquica, como a violência contra

humanos.