O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

II SÉRIE-A — NÚMERO 38

6

que se criem condições que são muitas vezes incompatíveis com horários de trabalho e deslocações pendulares

que dificultam esta vontade e direito das mães e das crianças.

As vantagens do aleitamento materno são conhecidas e diversas, quer a curto quer a longo prazo. O

aleitamento materno tem vantagens de saúde para o bebé: previne infeções, possui um efeito protetor sobre as

alergias; além disso o leite materno faz com que os bebés tenham uma melhor adaptação a outros alimentos.

No que diz respeito às vantagens para a mãe, o aleitamento materno facilita uma involução uterina mais precoce,

e associa-se a uma menor probabilidade de ter cancro da mama, entre outros. Além destas vantagens, o leite

materno é o método mais económico e seguro de alimentar os bebés (Levy & Bártolo, 2012).

Estudos portugueses apontam para uma alta incidência de amamentação, mais de 90 % das mães

portuguesas iniciam o aleitamento materno (Levy & Bártolo, 2012), mas cerca de metade faz o desmame

precoce durante o primeiro mês de vida do bebé, sugerindo que a maior parte das mães não consegue cumprir

o seu projeto de dar de mamar por força de constrangimentos diversos.

Os dados disponíveis mostram evolução dos números e vontade das mulheres de amamentar. De acordo

com a análise dos Inquéritos Nacionais de Saúde, 55,9 % das mulheres amamentam em exclusivo até aos três

meses, descendo o valor para 30,3 % aos seis meses, valores indissociáveis do regresso ao trabalho por parte

das mães.

A atividade laboral é um dos motivos para o desmame precoce ou até mesmo pela decisão de não

amamentação. Não podemos ignorar que o dia-a-dia nos locais de trabalho é marcado pela intensificação dos

ritmos de trabalho, pela desregulação e aumento dos horários de trabalho, dificultando ou até mesmo impedindo

a efetivação do direito dos trabalhadores a serem mães e pais com direitos. O prolongamento da licença de

maternidade até aos seis meses permite às mulheres que o desejem amamentar em exclusivo até aos seis

meses.

IV

Os novos conhecimentos científicos sobre a primeira infância devem encontrar respostas a nível político e

na sociedade. A UNICEF tem em vigor a campanha Early Moments Matter, em que afirma que os primeiros mil

dias de vida moldam o futuro das crianças.

Estudos recentes mostram que a proteção do nicho familiar do último trimestre de gravidez até aos dois anos

tem impacto crucial no desenvolvimento das crianças, na sua escolaridade, no seu futuro e, a não existir,

dificilmente é recuperável.

Esse nicho afetivo, estável, seguro, sem stress, sensorialmente diferenciado, irá permitir a vinculação segura

do bebé à mãe, podendo posteriormente apreender o mundo que o rodeia. Um bebé bem vinculado interessa-

se pelo mundo e desenvolve-se melhor. Vínculos pobres e frágeis têm impacto negativo no cérebro dos bebés,

com atrofia do córtex frontal, condicionando o processo de desenvolvimento posterior da criança, de forma

irrecuperável na sua totalidade.

Após a vinculação, o ambiente que rodeia o bebé molda o cérebro pelas oportunidades que proporciona e

determina o desenvolvimento nos primeiros anos de vida. Rápidos processos de mielinização, sinaptogenese e

de poda acontecem nos dois primeiros anos de vida, havendo períodos-chave que possibilitam determinadas

aprendizagens, por exemplo da linguagem, que não se repetem com igual facilidade e eficácia num tempo

posterior, mesmo com reabilitação.

Tal como a qualidade do vínculo afetivo mãe-filho e dos estímulos do ambiente são determinantes para o

desenvolvimento da criança, também a intervenção precoce em situações de risco social, situações específicas

dos bebés ou das suas mães, possibilita corrigir os desvios do desenvolvimento. É possível prevenir muitas

desigualdades nesta fase.

Por isso, a qualidade do ambiente no fim da gravidez e até aos dois anos de idade otimiza um bom

desenvolvimento da criança e é adequado o prolongamento das licenças de maternidade/paternidade pelo

menos até aos sete meses, caminhando para o primeiro ano de vida da criança, mantendo depois uma redução

no horário de trabalho das mães ou dos pais de 2h/dia até aos dois anos (idealmente até aos três anos),

independentemente de a criança estar sob aleitamento materno ou não.