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II SÉRIE-A — NÚMERO 101

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2.3. O Porto de Farrobilhas

Mas no âmbito da história local de Almancil não é possível dissociar, no seu atual território, a existência e a

importância do porto de Farrobilhas, nos Séculos XV e XVI, para o escoamento dos produtos produzidos no

concelho de Loulé. Na verdade, o sítio de Farrobilhas localizava-se a poente da península do Ancão (perto da

Quinta do Lago), onde existiam, segundo as autoras Diamantina Gonçalves e Videlmina Reis6, «cabanas de

pescadores, marinhas, casas para arrecadação de sal e alguns edifícios em ruínas» (p. 258).

A povoação é referida por Silva Lopes7 (p. 332) o qual descreve que «os moradores de Loulé construíram, à

sua custa, no porto de Farrobilhas, local de grande atividade piscatória, uma povoação com boa Igreja e torre,

para defesa do porto», na margem direita da ribeira de S. Lourenço.

A este propósito refira-se que a ata de vereação do município de Loulé de 23 de fevereiro de 1488 tem com

o título a «Emtrrega das cousas da Igreja de Ferrobylhas» onde se refere que «Domingu’ Eannes piscador hy

morador» nessa aldeia e mordomo, guardava os bens da igreja numa arca de que fizeram a listagem «das

cousas que se ao diante seguem»8.

Também os investigadores Luísa Martins e João Coelho Cabanita9 assinalam que em 1565 nas visitações

das igrejas pertencentes à Ordem de Santiago foi feita uma visita à igreja de Nossa Senhora de Farrobilhas de

Armação (pp. 248-249).

Em 1596, quando Portugal se encontrava sob ocupação de Espanha, esta povoação piscatória foi destruída

assim como a igreja e a torre devido a um incêndio provocado pelos piratas liderados pelo Conde de Essex,

sendo que a partir daí o processo de assoreamento foi-se acentuando bem como de toda a zona costeira

envolvente.

3. Património arquitetónico e cultural

3.1. Património religioso

a) A Igreja de S. Lourenço de Almancil

No campo do património edificado religioso destaca-se a Ermida (Igreja) de S. Lourenço de Almancil, uma

vez que seu interior constitui o espaço mais impressionante dos espaços religiosos do Século XVIII no concelho

de Loulé, tal é a maravilha da sua monumental e apoteótica explosão de arte total como, aliás, realça a

historiadora de arte Susana Carrusca10. Ou como salienta o historiador António Veiga11, trata-se de uma igreja

que apesar de a fachada exterior apresentar vulgaridade e incaracterístico, revela no «miolo interior um

preciosíssimo recheio artístico, de valor especialmente destacado nos domínios respeitantes ao revestimento

azulejar e à arte da talha» (p. 104).

Aliás, o Cónego clementino de Brito Pinto12, afirmou que a Igreja de S. Lourenço de Almancil, para além da

sua beleza natural, era a única do seu género em todo o País, só existindo uma semelhante em Roma.

No ano de 1565 era apenas uma Ermida que invocava S. Lourenço, conforme nos é relatado pelas visitações

desse ano, mas a atual igreja teria sido construída no mesmo local onde se encontravam as ruínas da antiga

Ermida, em cumprimento de uma promessa feita a S. Lourenço ao qual os fiéis imploraram ajuda para que

tivessem o precioso líquido. Este relato é-nos descrito pelo Padre José Pereira Lima nas Memórias Paroquiais

de1758 relativas à freguesia de São João da Venda «Havia antigamente no mesmo lugar em que hoje está

aquele adornado templo de São Lourenço outra igreja muy pequena já sem portas e quase arruynada e como

os moradores daqueles redores padecessem gravíssima falta de água …» (PT-TT-MPRQ-37-124_m0079.tiff,

Vol. 39, n.º 124, p.701). A Ermida é designada atualmente como Igreja Matriz de São Lourenço e foi objeto de

6 Gonçalves, D., & Reis, V. (2016). S. Lourenço: A escola e a igreja na homenagem à professora Irene Leal. Almancil. Edição da Junta de Freguesia. 7 Lopes, J. B. S. (1988). Corografia ou memória económica, estatística e topográfica do reino do algarve, vol.1. Faro: Algarve em Foco Editora. 8 Actas de Vereação de Loulé Século XIV-XV (1999-2000). Separata da revista Al-Ulyã, n.º7, p. 255-256.Loulé: Arquivo Municipal. 9 Martins, L., & Cabanita, J. C. (2001-2002). Visitação das igrejas dos concelhos de faro, Loulé e Aljezur pertencentes à Ordem de Sant’iago. Revista Al-Uliã n.º19. Loulé: Edição do Arquivo Municipal de Loulé. 10 Carrusca, S. (2001). Loulé: O Património artístico. Loulé: Edição da Câmara Municipal. 11 Veiga. A. (2003). Loulé – Memórias e identidade. Paços de Ferreira: Héstia Editores. 12 Guerreiro Norte, C (2005), “Almancil, monografia e memórias”