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20 DE JUNHO DE 2020

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capacidade de resposta e o aumento do risco de erro. Os doentes que recorrem ao Serviço de Urgência do

Hospital dos Covões ao fim de semana são obrigados a deslocarem-se de ambulância ao HUC para a simples

realização de uma ecografia, para depois regressar. Um doente chegou a relatar que foi «um tormento» fazer

tal viagem com as dores que tinha. Porquê? Foi retirado o médico radiologista do Hospital dos Covões durante

o fim-de-semana. Neste momento, no Serviço de Urgência do Hospital dos Covões tem algumas equipas

reduzidas a mínimos não recomendados pela Ordem dos Médicos, colocando médicos e doentes em risco. A

justificação? A urgência do Hospital dos Covões é parte de uma urgência conjunta com o HUC onde há mais

médicos de urgência a 10 km de distância. Quer isto dizer que um doente que necessite de cuidados

emergentes no Hospital dos Covões tem de ter paciência e aguardar que venha alguém do HUC ajudar, além

da necessidade de ter a sorte que esse alguém esteja disponível. Nem sempre os doentes podem esperar e

nem sempre há disponibilidade para abandonar uma urgência sobrelotada. Tais situações já aconteceram e

são dramáticas… Não há necessidade nem é eticamente aceitável que no mundo ocidental profissionais e

doentes sejam sujeitos a estas situações precárias de prestação de cuidados de saúde onde ter sorte é

condição essencial.

O Serviço de Cuidados Intensivos foi também fundido e até há pouco tempo existe a intensão de ser

também encerrado. O encerramento foi adiado pelo aparecimento da pandemia COVID, mas se encerrar os

doentes internados no Hospital dos Covões serão privados dos médicos que melhor podem reverter uma

paragem cardíaca, situação imprevisível e que pode ocorrer a qualquer doente. Tal situação trará um risco

bastante acrescido aos doentes internados e que à urgência recorrem na esperança de um atendimento pleno

de recursos. Podem dizer que há hospitais onde não há Cuidados Intensivos, mas nunca vi nenhum hospital

fechar um serviço que é essencial para a segurança de doentes e profissionais. Haverá hospitais que queiram

abrir Serviços de Cuidados Intensivos (já há um privado em Coimbra) enquanto o do hospital dos Covões será

para fechar.

Porquê?

O Serviço de Cirurgia do Hospital dos Covões foi fundido com o do HUC em 2018. A redução de recursos e

capacidades têm sido constantes e por isso o corpo clinico está desgastado, desmotivado, triste e revoltado.

Apesar disto continua a exercer as suas funções o melhor que pode, e tal facto é reconhecido por doentes e

familiares. A enfermaria reduzida para metade das camas viu diminuída a sua capacidade de resposta, com

taxas de ocupação muitas vezes acima do ideal, obrigando a manter doentes no Serviço de Urgência em

macas desconfortáveis e num ambiente em nada propicio a uma recuperação, seja ela de que doença for. A

redução de cirurgiões tem sido notória. Em 3 anos saíram 9 cirurgiões (reforma, doença, término da formação

especifica), e nenhum foi contratado. Por este motivo têm sido cancelados tempos de consulta e de bloco

operatório. Foram encerradas as consultas de Coloproctologia e a consulta de Pé Diabético Cirúrgico (única

em Coimbra). Foi dada a indicação de no Hospital dos Covões se parar o tratamento de doença oncológica e

de patologia vascular arterial e venosa, patologias que sempre foram tratadas no Hospital dos Covões e que

faziam deste referencia para muitos Centros de Saúde e Hospitais da região centro. Inclusivamente os

Cirurgiões do Hospital dos Covões realizam no âmbito daquelas patologias técnicas que em muito poucos

locais são realizadas. Privar os doentes dessas técnicas não será correto nem incentiva o progresso e a

inovação. Desde essa indicação que as 7 salas do Bloco Operatório Central do Hospital dos Covões são

apenas ocupadas com patologia benigna, não sendo utilizadas para tratar o mais rapidamente possível a

patologia oncológica cirúrgica tão frequente na nossa sociedade. A razão? Não haver o apoio de outras

especialidades. Inacreditável quando havia sido a administração a remover esse mesmo apoio.

Mais haverá a dizer…

Não há razão económica nem de melhoria assistencial que justifique a desqualificação total de um Hospital

Central, transformando dois num só. A capacidade de resposta foi diminuída, a qualidade dos serviços não

pode ser melhor, e a produtividade não terá aumentado. O que se fazia em dois não se está a fazer num só. A

centralização dos cuidados de saúde efetuada em Coimbra com o desmantelamento progressivo do Hospital

dos Covões e a centralização de tudo no HUC não foi benéfica para profissionais e doentes, não foi benéfica

para a cidade, não foi benéfica para a região centro, não foi benéfica para Portugal. Urge parar, pensar, e

voltar atrás. Nem sempre o caminho é para frente, por vezes à frente apenas há o precipício.