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8 DE JULHO DE 2022

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Ponto n.º 2 – Desgaste emocional e físico

Quantidade de horas

São várias as razões para o desgaste emocional e físico dos motoristas sendo que a principal causa é a

enorme carga horária e as amplitudes de 15 horas diárias a que estão sujeitos. Os turnos dos motoristas de

veículos pesados são de 15 horas diárias, sendo que a média de trabalho efetivo ronda entre as 10 e as 12

horas diárias, o que perfaz uma média superior a 2 horas de trabalho suplementar por dia.

Tendo por base o valor mínimo de 2 horas diárias, ao fim de 5 dias dá 1,2 dias de trabalho a mais que

qualquer outro trabalhador e 1,5 dias a mais que a função pública.

Tendo a consciência de que a grande maioria dos motoristas de veículos pesados trabalham muito mais,

mas fazendo os cálculos pelos mínimos, podemos concluir que os motoristas de veículos pesados a cada 5

anos tem no mínimo mais 1 ano e 3 meses de trabalho efetivo que um trabalhador de outra classe profissional.

Tendo por base esse mínimo de 2 horas a mais por dia, um trabalhador do sector privado teria que trabalhar

até aos 50 anos para ter o mesmo número de horas que um motorista tem aos 40 anos. Já um trabalhador do

sector público teria que trabalhar até aos 57 anos.

É de ter em atenção que no caso de tripulação múltipla a amplitude da jornada de trabalho passa a ser de

21 horas, o que é extremamente desgastante e exigente. Isto significa que numa viagem de longo curso com

51 horas os 2 motoristas tiveram apenas uma pausa de 9 horas para se alimentar e tomar banho.

Exemplo real do trabalho anual de um motorista de veículos pesados no serviço nacional:

1420 horas de condução;

935 horas de outros trabalhos (abastecimentos, cargas, filas de espera, etc.);

501 horas extras de trabalho extraordinário.

Desregulação horária

Trabalho por Turnos – Com efeito, todos os estudos indicam que o trabalho por turnos tem um impacto

direto na saúde física e psíquica dos trabalhadores.

Saúde Psíquica – No trabalho por turnos as queixas mais frequentes são dificuldades cognitivas,

irritabilidade, ansiedade, depressão, e dificuldades em equilibrar a vida profissional com a vida familiar e

social, nomeadamente com a parentalidade. A existência destes riscos psicossociais afeta a forma como os

motoristas de veículos pesados sentem, pensam e agem, interferindo na sua capacidade de realizar algumas

tarefas ou manter relações com os outros. Estudos apontam que a prevalência na população portuguesa com

risco de depressão é de 6,8%. Mas nos motoristas de veículos pesados que fazem turnos noturnos pode

aumentar até 42%. Para agravar estes números. o trabalhador motorista ainda soma problemas de solidão e

isolamento, pois passa longos períodos fora de casa e num trabalho solitário.

Como se não bastasse todas estas perturbações e condições horárias, são os longos períodos de ausência

onde é impossível fazer quaisquer planos familiares ou pessoais a curto ou médio prazo. Sabem quando saem

de casa, mas nunca sabem quando regressam, até mesmo um motorista do serviço nacional sai de casa na

segunda-feira e não sabe se regressa no próprio dia ou passados 5 a 6 dias. Agora imaginem a

imprevisibilidade de um motorista do internacional.

Na Saúde Física – As queixas mais comuns são as alterações nos ritmos circadianos (alteração do ritmo

natural diurno do ser humano), pode causar grande stress fisiológico e problemas de saúde, nomeadamente,

fadiga, sonolência, insónia e perturbações no sono (relativas à quantidade e à qualidade), perturbações

alimentares, obesidade, perturbações gastrointestinais, problemas digestivos, doenças cardiovasculares (entre

as quais o enfarte do miocárdio, sobretudo quando existe exposição a regimes de trabalho noturno), cancro

(existindo já diversos estudos que comprovam a ligação entre a existência de neoplasias e a disrupção dos

ritmos circadianos). Há ainda ligação a problemas reprodutivos das mulheres e infeções respiratórias. Mais

uma vez no caso dos trabalhadores motoristas de veículos pesados esta situação é agravada pelo fato de os

turnos não serem regulados e não haver 2 dias com horários iguais.

Exemplo do que pode ser uma semana de trabalho de um motorista: