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RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE

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ondulada e continuidade florestal favorece grandes incêndios. Acresce que partes extensas da

região não ardiam desde há mais de 20 anos, o que à partida implica maior acumulação de

combustível florestal. Ainda assim, prevaleciam na área que veio a arder quantidades moderadas

de combustível, embora acima do limiar necessário para a ocorrência de incêndios “explosivos”.

Os incêndios ocorreram durante uma onda de calor prolongada, que se sucedeu a uma

primavera seca e anormalmente quente (em abril e maio), que por sua vez aconteceu após um

inverno seco. Esta sequência pré-condicionou a humidade da vegetação para níveis bastante

baixos, sendo que o combustível estava disponível para arder na sua totalidade desde o final de

maio.

As condições meteorológicas presentes e antecedentes resultaram em perigo de incêndio

extremo e elevada instabilidade atmosférica, uma conjugação que no passado gerou a

ocorrência dos maiores incêndios registados em Portugal.

No dia 17 de junho predominou vento fraco a moderado de noroeste e foi aumentando de

velocidade até às 18:00, tendo então rodado para o quadrante leste e enrijecido, havendo forte

evidência indireta de tal ter sido causado por uma frente de rajada proveniente das células

convectivas (trovoada) situadas a leste e em aproximação à região. No dia 18 de junho, as

condições meteorológicas foram ainda particularmente severas.

A excecionalidade dos incêndios e das condições específicas associadas

Os incêndios de Pedrogão Grande (28914 ha) e Góis (17521 ha), o segundo e o oitavo maiores

de sempre desde que há registos, foram causados respetivamente, por descargas elétricas

mediadas pele rede de distribuição de energia e por raio. O incêndio de Pedrogão Grande, cujo

período mais crítico é resumido no Quadro 5.2 é muito provavelmente aquele que, em Portugal,

libertou mais energia e o fez mais rapidamente (com um máximo de 4459 ha ardidos numa só

hora), exibindo fenómenos extremos de vorticidade e de projeção de material incandescente a

curta e a longa distância.

Há diferenças importantes entre estes incêndios e aqueles de grandeza semelhante que

ocorreram no passado:

 São os primeiros a acontecer ainda na primavera;

 relativamente aos índices individuais de perigo meteorológico associados à

velocidade de propagação do fogo e à quantidade de combustível morto disponível

para arder estão num patamar inferior, portanto não ocorreram numa situação tão

extrema.

Consequentemente, a excecionalidade destes eventos resulta da sinergia e encadeamento com

fatores adicionais, a saber:

 O adiantado estado de secura da vegetação, que distingue o ano de 2017 de

qualquer um dos anos anteriores;

 a grande instabilidade da atmosfera e o seu perfil de humidade, implicando muita

energia disponível para fenómenos convectivos e para correntes de ar descendente;

 o efeito da frente de rajada na velocidade de propagação, intensidade frontal e

capacidade do incêndio para gerar focos secundários;

 a expansão em área, assim possibilitada, permitiu que o incêndio aproveitasse e

reforçasse a estrutura favorável da atmosfera, fazendo ascender a coluna de

convecção até à formação de um pirocúmulonimbo, em que processos atmosféricos

dominam o fogo e o tornam mais errático e perigoso;

 o “colapso” da coluna de convecção, que originou a forte corrente de ar descendente

(downburst) causador do súbito e violento crescimento do fogo que provocou muitas

das fatalidades.

13 DE OUTUBRO DE 2017 11