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RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE

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inicial do incêndio de Pedrógão Grande, que contribuíram para que o ataque inicial não

conseguisse debelar o avanço do fogo.

O ataque ampliado é obrigatoriamente garantido se nos primeiros 90 minutos o incêndio não é

resolvido. No caso de Pedrógão Grande, quando tecnicamente se passou à fase de ataque

ampliado, dever-se-ia ter alterado o comportamento do combate. Contudo, entre as 16h00 e as

18h00, numa fase crítica do incêndio, não houve intervenção de meios aéreos. Este período

abrange já um primeiro momento de ataque ampliado sem a presença de qualquer meio aéreo.

Nesta fase o incêndio tinha já um comportamento agressivo, com a cabeça do fogo a progredir

intermitentemente acima da capacidade de extinção. Talvez fosse possível ainda a contenção

do flanco direito, mas era já imparável a multiplicação dos focos de incêndio por projeções

frequentes a distâncias assinaláveis.

No período entre as 18h00 e as 21h00 o fogo expande-se de forma alargada e com enorme

intensidade, reduzindo as possibilidades de circulação. Os bombeiros presentes no terreno, com

as mudanças de vento, ficam colocados na cauda do fogo e com enorme dificuldade de intervir

nos respetivos flancos. Nestas três horas o fogo consome quase 8000 ha, destruindo quase 60%

desta área só no período das 20h00 às 21h00. A situação de “muito fogo”, as alterações de

orientação dos ventos (e do fogo) e a escassez de meios dificultam a circulação dos bombeiros

e, por maioria de razão, das pessoas. A mobilização de meios adicionais, integrados já na fase

de ataque ampliado, é concretizada, mas esses meios chegam já de noite e a área ardida havia

já superado os 10000 ha.

Este território define-se por uma multiplicidade de núcleos populacionais, herança do seu padrão

tradicional de ocupação e exploração do território. O fim-de-semana de junho (dia 17 era um

sábado) tinha trazido à região inúmeros visitantes, muitos deles com raízes na região e

possuidores aí de segundas residências. Pode constatar-se que, nesse sábado, havia uma

grande concentração de pessoas nesses núcleos populacionais (residentes, visitantes e outros),

sendo impossível, por razões compreensivas, determinar o número exato de pessoas que

permaneciam nessa tarde nesses territórios.

A intensidade e rapidez do fogo, aliada à ausência de autoridades e de bombeiros, criou um

ambiente de grande intimidação, sobretudo para as famílias que integravam crianças e jovens.

Muitas dessas famílias saíram das respetivas casas em plena “tempestade do fogo” resultante

do downburst associado ao colapso da coluna de convecção. Na situação de fuga provavelmente

pouco haveria a fazer. A maioria das fatalidades ocorreu no período entre as 20h00 e as 21h00,

durante o qual arderam mais de 4500 ha. Nesse período, e durante 10 minutos, o incêndio

desenvolveu-se à velocidade estimada de 15 km/hora, situação crítica apenas passível de

medidas defensivas.

Poder-se-á recordar que as medidas de gestão de combustível em redor das vias de

comunicação e em volta dos aglomerados populacionais não tinham sido cumpridas. A

promiscuidade entre casas e árvores nestes aglomerados, por incúria ou falta de recursos

económicos dos proprietários, cria situações de enorme risco junto às habitações. Nas vias de

comunicação, as obrigações das entidades gestionárias e/ou concessionárias não tinham sido

cumpridas de acordo com as determinações legais.

Como refere o Relatório, admite-se que, dadas as características particulares do incêndio, o seu

impacto nas pessoas a ele expostas talvez não pudesse ter sido mitigado, mesmo admitindo que

aquelas medidas de prevenção estrutural tivessem sido cabalmente cumpridas. Aspetos para os

quais deverá haver, no futuro, maior cuidado, pois são essenciais na defesa das pessoas e na

proteção dos bens.

A notícia das vítimas mortais marcou, a partir da noite do dia 17, a evolução dos acontecimentos.

13 DE OUTUBRO DE 2017 15