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12 DE DEZEMBRO DE 2019

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2.1.1 – No espaço florestal

A gestão de combustíveis de iniciativa estatal em Portugal assenta largamente na rede primária de FGC. A

literatura não apresenta padrões absolutos de especificação das características das FGC. Em geral, estas

devem ser ajustadas às condições locais, histórico de incêndios e comportamento do fogo expectável.

Prescrições técnicas estão disponíveis para a Califórnia [11] e sul de França [12], tendo as últimas informado

as propostas preconizadas para a rede primária em Portugal. Da mesma forma, é difícil avaliar a efetividade

das FGC, devido a variabilidade na sua largura, modalidade (arborizadas ou não, tipo de intervenções técnicas

utilizadas), estado de manutenção, topografia e combustibilidade da vegetação associados à envolvente da

sua localização, comportamento dos incêndios que as «desafiarão» e objetivos e expectativas associados [13].

Não existe uma avaliação sistemática do desempenho das FGC em Portugal, resumindo-se o

conhecimento existente a alguns casos de estudo e a observações casuais dispersas (Figura 2). Por outro

lado, esta avaliação tende a ser feita em grandes incêndios, em que a propagação é em geral muito intensa.

No estudo do grande incêndio de Tavira em 2012 reporta-se que a ausência de uma rede completa de FGC na

área de desenvolvimento inicial do fogo impediu manobras de combate que o poderiam ter contido

rapidamente [16]. À semelhança da informação disponível para os EUA [19-21] e França [12], é expectável

que o resultado da intersecção incêndio-FGC seja muito variável, aliás tal como constatado nos incêndios de

Picões e Caramulo em 2013 [14], bem como em 2017 em Pedrogão Grande e Góis [15,16] e nos incêndios de

15 de outubro [17,18]. Num estudo exaustivo de quatro áreas do sul da Califórnia no período 1980-2008 [20]

verificou-se que 22 a 47% dos incêndios que intersectaram FGC (de largura muito variável) foram nelas

detidos, 10 a 23% as atravessaram mas a alteração do comportamento do fogo auxiliou o combate, e 29 a

65% não foram afetados na sua propagação; o sucesso passivo (sem combate) das FGC ocorreu em menos

de 1% dos casos.

Uma análise da efetividade da rede primária planeada para o Algarve, que ocupa 3% da superfície total da

região, mostrou a importância decisiva do aproveitamento das FGC pelas operações de combate [22]. A

redução de área ardida decorrente do funcionamento da rede em modo exclusivamente passivo variaria com a

opção de intervenção nas FGC e dimensão dos incêndios, mas não ultrapassaria 17%. A correspondente

razão custo-benefício média seria insustentável, uma vez que para reduzir um hectare de área ardida seriam

necessários 2,2 km de FGC com 120 m de largura.

Figura 2. Contenção de incêndio por FGC em 2017 na serra do Marão (esquerda), e FGC na serra da Estrela, Gouveia (direita,

imagem Google Earth), com largura máxima de ~200 m e que viria a ser transposta por um incêndio em 2015.

A literatura atrás citada indica que, além do comportamento do fogo (incluindo o efeito da sua orientação

versus a orientação da FGC), e no qual é crítica a transposição das FGC por material incandescente

projetado, o desenlace das intersecções incêndio-FGC depende de: acessibilidade aos meios de combate;

disponibilidade de meios de combate; comprimento das FGC relativamente à largura do incêndio; largura das

FGC; densidade da rede de FGC e seu grau de sobreposição na direção dominante de propagação do

incêndio; estado de manutenção; e densidade de árvores nas FGC.