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12 DE DEZEMBRO DE 2019

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2.2 – Os mosaicos de gestão de combustível

A relevância dos mosaicos de gestão de combustível para a mitigação da extensão e impactes dos

incêndios está sobejamente documentada e revista a nível mundial usando diversas metodologias [33].

Contudo, os benefícios do ponto de vista da supressão de incêndios podem ser irrisórios para lá de um curto

período após o tratamento, por exemplo 5-6 anos em floresta, o que implica que cerca de 5-10% de um

determinado território deva ser intervencionado anualmente e que o planeamento estratégico no espaço e no

tempo seja crucial. Avaliar a redução da intensidade e impacto de incêndios sob meteorologia severa em

áreas tratadas, ao invés de quantificar a diminuição da área ardida, tem emergido como a forma mais objetiva

e realista de ajuizar sobre o desempenho das parcelas e mosaicos de gestão do combustível (Figura 3).

Não há no sul da Europa exemplos de implementação de mosaicos propriamente ditos de gestão de

combustível, à exceção de algumas paisagens em França, nos Pirenéus e Alpes Marítimos, moldadas por

quatro décadas de uso extensivo do fogo controlado [34]. Contudo, há em Portugal dois exemplos indiciadores

dos ganhos possibilitados por projetos de gestão de combustível aplicados na escala espacial adequada:

1. Em pinhal bravo tratado com fogo controlado e posteriormente ardido por incêndio, o dano na copa das

árvores e a intensidade do fogo são inferiores ao observado em pinhal adjacente não tratado, respetivamente

durante 2-6 e 6-14 anos [35].

A gestão mecanizada de combustível nas plantações industriais de eucalipto incide anualmente em 14% da

sua área em Portugal e corresponde a uma incidência anual de incêndios de 2,6% versus 3,2% no restante

eucaliptal [36]. Este esforço tão elevado tem assim um retorno modesto, o que poderá ser explicado por

questões espaciais (dispersão da propriedade da indústria, configuração espacial das intervenções) e pela

natureza das intervenções, que não removem o combustível nas linhas de plantação [37].

Figura 3. Redução da severidade do incêndio em parcelas tratadas com fogo controlado. Foto da esquerda: maior erosão e menor

resposta regenerativa 8 meses após o grande incêndio de agosto de 2016 na área não tratada (direita) vs a área tratada (esquerda), serra

da Freita (Fonte: Manuel Raínha). Foto da direita: um dos incêndios de 15 de outubro de 2017 não afetou totalmente a copa das árvores

em pinhal bravo tratado na mata do Desterro, Seia, contrariamente ao que sucedeu no pinhal contíguo não tratado (Fonte: Artur Costa).

A ausência de projetos de gestão de combustível em mosaico e com escala não impede conclusões sobre

o seu potencial de mitigação, que podem ser obtidas por simulação ou por inferência a partir do regime de

fogo. Assim, diversos estudos empíricos em Portugal, Espanha e França mostraram a influência que a

acumulação e conectividade do combustível na paisagem exercem sobre a dimensão dos incêndios e a área

ardida. Destaque-se em particular que os mosaicos de vegetação das serras do norte de Portugal resultantes

de queimas pastoris recorrentes e relativamente pequenas controlam efetivamente a dimensão dos incêndios,

mesmo em condições meteorológicas muito adversas [38].

Tal como já referido, a alteração da composição florestal tem um papel a desempenhar na formação de um

mosaico paisagístico mais resistente e resiliente ao fogo, pelo que deve ser fomentada onde houver condições

naturais para tal, inclusivamente na forma de faixa «verde» em torno de aldeias. Manchas florestais densas e