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hoje já apresentam certificados de escolaridade na ordem dos 7.º, 8.º, 9.º, 10.º e 12.º anos -, devo dizer-vos que estes jovens não sabem ler nem escrever. E isto é chocante. Porquê? Efectivamente porque eles foram passando de ano na sua escola sem terem qualquer hipótese de comunicar, quer os professores com eles, quer eles com os professores, porque a única comunicação que tinham adquirido, e que foi adquirida naturalmente quando se encontraram com o seu grupo de pares (e alguns deles só se encontraram num grupo de pares por volta dos 7.º, 8.º, 9.º ou 10.º anos de escolaridade, pois até aí não tinham qualquer tipo de linguagem), não era aceite pela escola, isto é, a escola não aceitava a língua que eles aprenderam naturalmente com esses jovens com quem começaram a contactar. Existia uma comunicação com os colegas, com os jovens, mas chegavam à aula e ficavam à espera que o professor, apenas com a oralidade, lhe transmitisse os conhecimentos.
Isto pode parecer uma figura um pouco exagerada, mas não será tanto assim: seria o mesmo que irmos para a China - não sei se algum dos Srs. Deputados sabe chinês - e termos de estar a ouvir todas as lições em chinês, por exemplo. Ora, foi isto que se passou, ao longo dos anos, com as nossas crianças e jovens surdos.
Devo dizer-lhes que eles arranjaram técnicas de interpretação dos textos. Mesmo nesses anos de escolaridade, quando lhes é dado um texto de português para interpretar, eles não o lêem - e não necessitam de o ler, porque não o entendem -, apenas aplicam a técnica que já aprenderam ao longo dos anos, que é, num tipo de questionário que se faz a um texto, eles vão buscar a resposta a esse texto, consoante as palavras que tem a pergunta. Os professores, entretanto, vão pensando: "Como eles são surdos e têm dificuldades de comunicação, a resposta até não está muito mal! Eles, afinal, até percebem alguma coisa!". Tem sido este o logro do ensino de surdos ao longo de todos estes anos.
E porquê esta situação? Exactamente porque nós todos ignorámos, à conta de filosofias educativas que vêm desde 1880, que, efectivamente, existia uma comunicação, havia uma língua, que podíamos utilizar para, ao menos, comunicar, desenvolver cognitivamente estes jovens e dar-lhes hipótese de uma linguagem.
Como VV. Ex.as sabem, o problema da linguagem e do pensamento é extremamente complicado, mas sabemos que um implica o outro e vice-versa. Estes nossos jovens surdos não têm tido essa oportunidade. A sua língua gestual também não estará tão desenvolvida quanto possível, porque ela era unicamente utilizada entre eles, não tinham modelos adultos, e alguns deles pensavam que, quando cresciam, morriam ou ficavam ouvintes. Tem sido este o percurso dos surdos.
Muito havia ainda para dizer, mas só tenho dois minutos. Penso, no entanto, que isto já vos elucidará um pouco ou, senão, peço desculpa de não ter sido suficientemente clara.

O Sr. Presidente: - A Sr.ª Dr.ª foi suficientemente impressiva. Obrigado pela sua intervenção.
Tem a palavra a Sr.ª Dr.ª Ana Cristina Reis.

A Sr.ª Dr.ª Ana Cristina Reis (Membro da Direcção da Associação de Pais para a Educação de Crianças Deficientes Auditivas): - Sr. Presidente, Srs. Deputados: Penso que, embora de uma forma muito resumida, os aspectos mais importantes já aqui foram focados, especialmente pela Sr.ª Dr.ª Maria Augusta Amaral.
Embora esteja aqui a representar os pais, não sou propriamente a mãe comum, uma vez que também sou professora de surdos, já há alguns anos a esta parte, e tenho um filho surdo. Portanto, conheço bastante bem esta problemática.
Como a Dr.ª Maria Augusta Amaral frisou aqui, até há relativamente pouco tempo, a filosofia de ensino com os surdos era só oralista e, portanto, os níveis académicos dos nossos alunos eram extremamente baixos. Mesmo aqueles que iam um pouco mais longe, de facto, não tinham conhecimentos e eram praticamente iletrados, para não dizer quase analfabetos.
O que nos move a vir aqui são experiências que existem noutros países do mundo, nomeadamente na Escandinávia e nos Estados Unidos da América, onde a investigação em termos de linguística já foi encetada há alguns anos, sensivelmente há três décadas, e onde a educação dos surdos começou a ser feita, dando prioridade àquela que é considerada a língua mãe, a língua gestual. E não há dúvida de que os resultados têm sido outros. Há surdos, surdos profundos, que não conseguem falar mas que têm feitos os seus cursos superiores - conheço particularmente o caso de um rapaz que chegou a engenharia -, e isto levou-nos a reflectir que as coisas aqui não estavam a correr bem e que estávamos a prejudicar os nossos alunos.
Eu, como mãe, sinto o problema de outra forma, sinto-o na pele, e vejo que o meu filho e outros como ele estão a queimar etapas e não estão a conseguir aquilo a que têm direito, que é o ensino na sua própria língua. Verificamos que, em Portugal, os nossos surdos não têm direito ao ensino na sua própria língua, enquanto, por exemplo, se estiverem cá estrangeiros até há colégios que podem recebê-los e educá-los na sua própria língua.
Portanto, é a reivindicação deste direito que nos move, isto é, a defesa da língua gestual, que é a língua deles, e partir-se daí para a formação dos professores e também para a sensibilização e formação dos pais.
Há outro aspecto também que quero ressalvar aqui, que é a disponibilidade que os pais não têm para poderem acompanhar os seus filhos no ensino especial. Nós, escola, quando pretendemos que os pais venham à escola e tenham reuniões e acções de sensibilização, não conseguimos, porque a maior parte deles têm dificuldade de se ausentar dos seus serviços. E nós reparamos que, lá fora, há sistemas que prevêem esta situação, tanto que os pais podem ausentar-se dos seus locais de emprego para poderem acompanhar a educação dos seus filhos. Este é também um dos aspectos que quero focar aqui.
Também penso, tal como a Dr.ª Maria Augusta Amaral, que 2 minutos não chegam para estarmos aqui a conversar, mas, se houver outras questões que queiram colocar, estamos ao vosso dispor para qualquer esclarecimento.
Para finalizar, quero agradecer a disponibilidade que tiveram em nos receber.

O Sr. Presidente: - Muito obrigado, Sr.ª Dr.ª.
Tem a palavra o Sr. Dr. Adalberto Fernandes.

O Sr. Dr. Adalberto Fernandes (Representante do Secretariado Nacional de Reabilitação e Integração das Pessoas com Deficiência): - Sr. Presidente, Srs. Deputados: Chamo-me Adalberto Fernandes e, neste momento, sou assessor do Sr. Secretário Nacional de Reabilitação, Dr. Vitorino Vieira Dias.