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4. A organização profissional

O associativismo profissional é uma matéria que tem igualmente ocupado a sociologia das

profissões, suscitando um significativo debate em torno das motivações e implicações do

poder destas organizações em termos do interesse público. As perspectivas favoráveis ao

associativismo profissional sublinham a abertura adicional de canais de expressão pelos

cidadãos, superando a imperfeição dos mecanismos de participação das democracias

parlamentares, caracterizados pela máxima agregação e mínima distinção de interesses.

Realçam, ainda, as possibilidades de controlo do poder das autoridades públicas, através da

avaliação e acompanhamento da sua actividade pelas associações profissionais, a

salvaguarda da pluralidade de visões, pela concorrência entre diferentes actores, e o controlo

interno dos membros, através de mecanismos de auto-regulação.

Os pontos de vista críticos, de modo distinto, sublinham a ausência de democraticidade no

funcionamento interno dos grupos e os défices de representatividade dos interesses dos seus

membros (interesses líderes vs interesses membros). Outros argumentos passam pela

ausência de neutralidade das instituições públicas que interagem com grupos de interesses e

o reforço das desigualdades sociais, em função dos poderes adicionais de influência e

decisão dos grupos de interesses e associações profissionais com maiores recursos.

No fundo, trata-se de uma oposição entre duas visões contrastantes: uma que postula o

altruísmo e desinteresse das profissões, sublinhando que estas se orientam para a promoção

de valores não particularistas e o interesse público, potenciados pelo sistema de acreditação e

certificação profissional e pela auto-regulação ética e auto-disciplina; outra que sublinha as

motivações económicas, visando a criação e controlo de monopólios profissionais e aquisição

de estatuto económico e social para os seus membros.

É a este título sugestiva a análise de Merton (1982), ao distinguir a função manifesta e a

função latente do associativismo profissional, considerando o autor que estes organismos

consubstanciam o altruísmo institucionalizado como tradução normativa dos valores

profissionais, nomeadamente nas profissões sociais (“care professions”), distinguindo-se as

profissões das outras ocupações exactamente pela institucionalização do altruísmo (diferença

entre sentir o altruísmo e agir altruisticamente).