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DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS

lumniaram talvez hoje estejam arrependidos d'isso. (Apoiados.)

O sr. Pinheiro Chagas disso que elle havia combatido o projecto do governo em 1877, porque a construcção directa ficava mais cara o que eu mesmo havia confessado.

Eu disse, é verdade, que os caminhos construidos por conta dos governos eram mais caros, mas que eram mais perfeitos. Era este o argumento de que se serviu o illustre deputado, mas é certo que por esta fórma o illustre deputado ficou em peor terreno do que estava. Pois se ficam mais caros, o illustre deputado não podia trazer á camara uma proposta para auctorisar o governo a construir por conta do estado, não um caminho de ferro, mas dois caminho de ferro. (Apoiados.)

Por consequencia o argumento do illustre deputado ou prova de mais, ou não prova cousa alguma. E assim a proposta do illustre deputado, ou ha de ser retirada ou ha de ser votada pela camara em sentido contrario ao que o illustre deputado deseja. Não póde deixar de ser assim.

Sr. presidente, por mais alto que a aguia suba, por mais que esvoasse no espaço, por mais esforços que empregue para cortar a corrente, ha de ser sempre victima d'esta, todas as vezes que os elementos a estabeleçam por uma fórma forte e verdadeira; assim tambem a proposta do illustre deputado, apesar de vestida com roupagens côr de rosa, brancas e azues, adornos que a tornam bella, apesar de ter sido sustentada com o vigor da phrase e argumentação peculiar do illustre deputado, ella ha de morrer diante dos argumentos e phrases com que o illustre deputado veiu combater o projecto para se construir o caminho de ferro por conta do governo.

O sr. deputado podia ainda agora achar-me em outra contradicção, e é com relação aos traçados, pois que eu vim aqui sustentar que o traçado mais conveniente, segundo se me afigurava, avaliando só a questão economica, era o da margem esquerda do Mondego, e n'esta occasião estava eu até em opposição com o sr. Thomás Ribeiro, e hoje defendo e vou votar o traçado pela Pampilhosa, um pouco mais ao norte da margem direita do Mondego do que o eram os traçados que eu combati.

E com relação ás circumstancias economicas ainda hoje estou convencido do que disse, e defendi o traçado pela margem esquerda do Mondego, porque as estatisticas das producções, a quantidade e qualidade dos terrenos, o progresso das industrias fabris me levaram a isso; porém eu espero tambem justificar-me d'esta contradicção.

O sr. Pinheiro Chagas disse que o sr. Thomás Ribeiro tinha vindo cantar n'essa occasião a excellencia dos vinhos do Dão. Tinha vindo effectivamente. E porque não havia de vir? Elle que tanto ama o seu paiz... Elle que foi o primeiro a fallar em favor do caminho de ferro da Beira... Elle que tanto ama áquella celebre Parada de Gontha, que tem a honra de ter dado o berço ao cantor do D. Jaime... Elle, que ama tudo quanto ali vive e vegeta, e que quando passa vê como que curvarem-se em signal de respeito os proprios arbustos, que se miram nas limpidas aguas do rio que a banha... (Vozes: — Muito bem.) Elle, para quem tudo o que ali ha é bello, como tudo o que ali ha morre de amores por elle.

Mas o sr. Thomás Ribeiro veiu, como eu, como os srs. Luiz de Campos, e Albuquerque, com as estatisticas na mão, provar que, mesmo n'aquellas circumstancias, o caminho de ferro da Beira Alta era mais importante que o da Beira Baixa, isto mesmo comparando os traçados de um e outro, estudados n'esse tempo.

Não viemos com asserções gratuitas, com reclamações vagas, viemos com estatisticas, e com as estatisticas é que se deve argumentar, porque com ellas é que se prova a verdade.

Eu voto o projecto, voto que o traçado d'este caminho parta da Pampilhosa, e sabe v. ex.ª porque? Porque os homens technicos me convenceram que era impossivel fazer o caminho pela margem esquerda do Mondego.

E desde o momento que a sciencia me diz que é impraticavel, ainda mesmo por maior preço, eu tenho necessariamente de concordar com ella, e adoptar o traçado que ficar em melhores condições de velocidade e ao mesmo tempo for mais barato (Apoiados.)

Eu peço licença a v. ex.ª e á camara para citar alguns algarismos e procurar assim livrar-me das taes contradicções.

Tenho aqui uma memoria, que tenho lido e examinado com cuidado, memoria feita com esmero, e por um engenheiro distincto como é o sr. Essa, para mim pessoa muito respeitavel e entendida; pois esta memoria diz-me o seguinte:

Custo total da linha pelo valle do Mondego 7.385:449$530 réis, pela Pampilhosa 6.586:629$505 réis, differença réis 798:820$025, o projecto definitivo tem de Lisboa á fronteira 432 kilometros, o do sr. Combells, tem 476 kilometros, differença 44 kilometros, que a 32:000$000 réis por kilometro se traduz em 1.408:000$000. Do Porto á fronteira, o projecto definitivo tem 302 kilometros, o do sr. Combells tem 320 kilometros, differença 18 kilometros ou menos 576:000$000 réis.

Creio que estes algarismos são argumento bastante para que ninguem me possa taxar de contradictorio em ter acceitado o projecto onde se estabelece como ponto de partida a Pampilhosa, por isso que o traçado é mais curto e se faz uma economia de setecentos e tantos contos de réis.

Com relação a ser ou não ser caminho de ferro internacional, eu creio que todos os caminhos que partem de qualquer ponto de um paiz, e vão entroncar com um caminho de ferro estrangeiro, são internacionaes. (Apoiados.)

Se a questão da internacionalidade é em relação á velocidade que póde ou deve ter, eu creio que pelas condições em que se encontra o nosso paiz, pelas difficuldades do terreno, nós não podemos aspirar a ter caminho nenhum, parta elle d'onde partir, nas condições da maxima velocidade a que têem attingido alguns caminhos estrangeiros.

Eu que tenho empenho em que a discussão se não protraia, porque o debate já vae longo, e eu já é a segunda vez que fallo n'esta questão, restrinjo aqui as minhas observações, que levaria mais longe ainda se estivesse presente o illustre deputado a quem acabei de me referir.

Declaro porém a v. ex.ª e á camara que venho aqui tranquillo e socegado; venho, como todo o homem que tem a consciencia segura de cumprir o seu dever como póde e sabe, sem dar a quem quer que seja o direito de tomar-lhe contas do seu proceder; (Apoiados.) d'este... só os meus constituintes me podem pedir contas mais tarde. (Apoiados.)

Não venho, sr. presidente, como aquelle fr. Luiz de Leão a que se referiu o illustre deputado em um jornal que redige, com as faces macilentas dos miasmas das enxovias, venho com a consciencia tranquilla sustentar como posso e devo as minhas opiniões.

Venho tranquillo de espirito e de animo sereno, como aquelle que de nada se póde arreceiar, no uso mais completo da minha liberdade, ligando o maior desprezo a quaesquer calumnias, bem como acompanhado sempre da coragem, que tive e conservo, para repellir quaesquer insinuações, venham ellas como vierem, e venham de que lado vierem.

Tenho concluido.

(O orador foi comprimentado.)

(O sr. deputado não reviu este discurso.)

O sr. Presidente: — Os srs. deputados que consentem que o sr. deputado retire a sua proposta tenham a bondade de se levantar.

A camara decidiu affirmativamente.

O sr. Francisco de Albuquerque: — Sr. presidente, a não ser o cumprimento de um dever a que não posso fal-