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SESSÃO DE 16 DE JANEIRO DE 1890 35

declaração de guerra á Prussia, todos argumentavam em nome dos seus brios patrioticos e da dignidade nacional offendida. E o mais é, que eram verdadeiros interpretes do sentir da nação.

Apenas a voz eloquente de Thiers combateu a guerra, prevendo os perigos a que se arriscava a França n'aquella terrivel aventura. O seu discurso foi constantemente cortado de interrupções e até lhe dirigiram insultos e calumnias. E todavia os resultados vieram justificar as suas previsões. A todos os desastres acresceu ainda para a França a perda da Alsacia e Lorena.

É que este eminente estadista era igual a todos os seus compatriotas no amor que votava ao paiz, mas excedia-os na comprehensão dos elevados interesses nacionaes.

Tem-se dito que deviamos ceder á força, e não ao medo. Mas perante a dignidade nacional offendida ninguem tem medo. Ha, quem se arreceie as vezes de se indispor com a opinião, e d'esses é que elle, orador, tem medo.

Os documentos diplomaticos devem lêr-se tambem nas entrelinhas; e quando a nota do ministro inglez exigia uma resposta affirmativa do nosso governo, em poucas horas, sobre a retirada dos nossos postos militares da região contestada era Africa, sob pena de saír immediatamente de Lisboa todo o pessoal da legação ingleza, encontrava-se virtualmente a idéa da força.

Não se ha no texto a occupação da ilha de S. Vicente, de Lourenço Marques, ou das bôcas do Zambeze; mas, para quem conhecia o movimento das esquadras inglezas nos ultimos tempos, se o não ha no texto, traduzia-o no post scriptum.

Nesta difficilima conjunctura ninguem tinha o direito de arriscar o seu paiz a um desastre, que podia ser irreparavel. Doía-lhe a perda de qualquer porção do territorio nacional, mas seria ainda mais profundo o seu sentimento se concorresse, pela imprudencia do seu voto, para sujeitar os seus compatriotas d'alem-mar ao jugo de uma nação estrangeira.

Os homens publicos com quem discutiu este assumpto concordavam todos em que o governo portuguez, diante da nota ingleza, devia mandar retirar as forças dos alludidos postos militares. A differença era que alguns opinavam que se devia responder annuindo á retirada das forças, sob a condição de ser concedida a arbitragem pelo governo inglez.

De todas as opiniões era esta a peior, em seu entender. Ceder condicionalmente, não é responder affirmativamente.

Esta resposta deixava subsistir todos os perigos, não salvaguardava o paiz de nenhuma violencia e nem era sequer manifestação da altivez patriotica.

Por outro lado, a arbitragem, tão pouco sympathica á imprensa ingleza, era um meio unico de solução que, sob a fórma de exigencia, seria provavelmente recusado.

O essencial é que a questão se resolva convenientemente; e póde chegar-se a este resultado, não só pela arbitragem, mas ainda pelo accordo directo dos dois governos, ou pela mediação de uma terceira potencia.

N'esta ordem de idéas, desejava fazer uma pergunta ao sr. ministro dos negocios estrangeiros, sem comtudo o querer obrigar a responder, se s. exa. visse n'isso qualquer inconveniente. Tenciona o governo mandar novamente occupar os postos agora abandonados, se o governo inglez se recusar a resolver pacificamente a questão pendente?

E visto referir-se ao governo, aproveitava a occasião de definir a sua attitude politica em frente do novo ministerio. Conhecia de ha muito os srs. ministros. Tres d'elles haviam sido seus collegas no governo, incluindo o sr. presidente do conselho; dos outros ministros já tinha obtido, estando no ministerio, o seu valioso apoio e concurso. Esta circumstancia o dispunha a todas as considerações pelas pessoas dos srs. ministros.

As suas questões, porem, nunca foram de pessoas, mas sim de principios, de actos e de processos governativos. E, sob esto ponto de vista, se lhe perguntassem se desconfiava politicamente do governo, responderia afirmativamente. Estimaria no emtanto que administrassem bem, porque estavam acima de tudo os interesses do paiz.

São bem conhecidos os seus processos de opposição. Não faria guerra acintosa a nenhum governo, nem lhe recusaria a força necessaria para resolver os altos problemas de interesse nacional. A sua politica n'aquella casa teria sempre por base o amor aos principios, o respeito ás pessoas e o decoro parlamentar.

(O discurso do digno par será publicado na integra, quando s. exa. a devolver as notas tachygraphicas.)

O sr. Ministro dos Negocios Estrangeiros (Hintze Ribeiro): - O digno par o sr. Barjona de Freitas referiu-se a apreciações que a seu respeito foram feitas na imprensa. Reconhece o direito que áquelle digno par assiste para fazel-o. Mas a responsabilidade d'essas apreciações pertence á imprensa. O governo tem pela opinião do sr. Barjona de Freitas o mesmo respeito que s. exa. certamente tem pela opinião dos outros. Todas as opiniões merecem respeito quando suo sinceras.

Quanto á pergunta feita por áquelle digno par, dirá que, nas circumstancias em que nos encontrâmos, a antecipação que fizesse de qualquer declaração por parte do governo seria inopportuna e imprudente. Todo o governo, ainda outro dia o affirmou estando na opposição, precisa ter a liberdade e o discernimento necessarios para proceder de fórma a não comprometter com declarações inopportunas o alcance e a importancia das negociações diplomaticas em que está empenhado.

(O discurso será publicado na integra, quando s. exa. devolver as notas tachygraphicas.)

O sr. Thomás Ribeiro: - Sr. presidente, tenho lido muita vez e tenho ouvido repetir que a palavra foi dada ao homem para elle occultar os seus sentimentos e pensamentos.

Se eu tivesse duvidado alguma vez d'esta sentença estava plenamente convencido agora, depois de ouvir as declarações do meu illustre amigo o sr. Hintze Ribeiro.

Não faço com isto censura a s. exa., porque ao passo que mascarava, desviava o escondia, systematicamente, attenta, estudada, arteira, cautelosa e eloquentemente o seu pensamento, gastou, sem mentira e sem exageração, mais de um quarto de hora em sonoras explanações nas quaes nos disse... palavras e phrases que pareciam musica.

Não encontrei, não me foi possivel perceber, resposta condigna e nem sequer promessa de que a daria a respeito da questão mais grave que ha largos annos tem preoccupado este paiz.

Eu não sei dizer hoje o contrario do que disse hontem, nem sei mudar de parecer com a mudança de ministerios.

Disse conscienciosamente ao ministerio demittido, e pedi e obtive para isso o concurso da camara dos pares, que viesse ao seio da representação nacional dizer quaes eram as suas difficuldades e quaes eram os meios com que contava. Queria que o sr. ministro da guerra nos viesse dizer como podia defender-nos de qualquer aggressão ou se não podia. Queria que o sr. ministro da marinha do mesmo modo nos dissesse se tinha ou não os meios necessarios para proceder de maneira que o prestigio d'este paiz, a sua honra, que elle tanto preza, não fossem de nenhuma fórma enxovalhadas.

Dois dias antes da sua queda fiz este convite ao governo e para honra da camara dos dignos pares devo dizer que todos votaram a urgencia da minha proposta, viu-se bem que da minha parte não havia intuito algum partidario, que não o podia haver tratando-se de uma questão patriotica, não de um ou outro retalho das nossos possessões, que isso era o minimo, mas da dignidade d'este paiz, que era o maximo, que era tudo. Indiquei ao sr. ministro da marinha e deixei ao governo a escolha da opportunidade para vir a esta camara dar conhecimento dos factos e do