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32 DIARIO DA CAMARA DOS DIGNOS PARES DO REINO

trabalhos da commissão, nem demorará a apresentação do seu parecer.

Continuou a discussão da interpellação do sr. Casal Ribeiro.

O sr. Marquez de Vallada: - Sr. presidente, v. exa. recommendou moderação! Sim, hei-de segui-la. Não me desviarei d'ella. Muito vae, comtudo, da moderação ao silencio. A respeito d'este, sigo o pensamento do meu illustre amigo, que é ornamento d'esta casa, o sr. Casal Ribeiro: "o silencio nas circumstancias actuaes, nas circumstancias gravissimas em que este negocio se apresenta na téla da discussão, seria não só uma falta, mais do qae isto, seria, sr. presidente, um crime".

O silencio, senhores, não póde ser a nossa partilha, pois que o brado da lealdade é o supremo e necessario esforço de todos os portuguezes honrados.

Se visse os meus concidadãos dominados por similhante idéa, a do silencio, inspirados pelo sentimento de temor, e não pelo da moderação, que acato e adopto; se fôra assim, diria eu ao povo: "acordae, portuguezes, que dormis o sonmo do descuido, jazendo nas trevas, involtos na sombra da morte! Prescrutae as vossas consciencias, e vede se por infortunio se apagou no vosso coração a luz da fé e da liberdade. O que é feito dos brios que vossos antepassados vos legaram em seus testamentos de gloria?"

Sr. presidente, não é na presente occasião que o terror me póde inspirar... mas posso assegurar aos srs. ministros, a todos os meus amigos e aos meus adversarios politicos, que em nada me hei de apartar das regras da moderação.

Sr. presidente, disse um eloquente escriptor das eras que já lá vão, fallando em circumstancias gravissimas, sobre questão diversa d'esta, mas tambem grave e importante: Tempus est loquendi quia jam proeteriit tempus tacendi. Tacere signum. est defidentioe non modestioe ratio.

Acompanho nas suas phrases o illustre escriptor, dizendo: "É tempo de fallar; a epocha do silencio passou. O silencio seria, não uma rasão de modéstia, mas seguramente um signal de propria desconfiança".

Sr. presidente, a verdade pura, sã, desaffectada, e aqui permitta-me v. exa. que repita o que não ha ainda muitos annos disse uma illustre escriptora do nosso seculo e da nossa epocha, que v. exa. conheceu e respeitou muito. Fallo da celebre escriptora, madame de Swetchine, quando disse: 11 vaux mieux la vérité avec un lit d'hopital, que le mensonge dans tous les appats de la grandeur." Vale mais a verdade em um leito de hospital, do que a mentira circumdada de todos os ornatos da grandeza.

Sr. presidente, nunca foi tão necessario o dizer a verdade como nas circumstancias actuaes, sobre tudo depois que velhos, encanecidos odios parece terem surgido da campa para semear a sizania entre os povos e a discordia nos estados.

Depois, sr. presidente, que o bello ideal e a ficção parece quererem reconquistar um imperio que reputavamos abolido, repito, sr. presidente, nunca a patria careceu tanto do esforço honrado de seus filhos. É pois necessario, é urgente, que digamos aos nossos concidadãos, á Europa, ao mundo, quem somos, donde viemos e para onde vamos.

É necessario que o governo, os que o seguem na sua marcha governativa, e até os que se oppõem ao seu systema de governação, todos juntos se agrupem em roda do pendão da independencia e da liberdade. E todos os que são portuguezes de certo de bom grado circundarão esse pendão, porque é o pendão da independencia nacional, porque é o pendão que fez a gloria dos portuguezes era eras passados, e que tantas vezes nos conduziu ao campo da victoria.
Eu ouvi com a maior attenção e prazer as palavras eloquentissimas do illustre orador, que me precedeu, dirigindo-se ao nobre presidente do conselho o sr. marquez de Sá. O nobre ministro sabe perfeitamente que, á parte a politica, s. exa. merece-me, como sempre mereceu, nem podia deixar de merecer, toda a consideração e respeito, assim como da parte do nobre marquez tambem tenho recebido muitas provas de deferencia, e estou convencido que s. exa. não duvida da minha sinceriedade; o nobre presidente do conselho conhece-me perfaitamente, e por essa rasão não deve crer que um sentimento mesquinho qualquer possa inspirar-me nas minhas apreciações,

Mas, como dizia, ouvi com a maior attenção o illustre orador, qne me precedeu, o Sr. Casal Ribeiro, e tomei nota dos pontos do seu discurso, sobre que tambem entendi dever fallar, e alguns apontamentos tirei tambem da resposta do sr. presidente do conselho e ministro dos negocios estrangeiros; resposta clara, e dada com aquella franqueza com que s. exa. costuma sempre fallar, e, se bem que eu tenha na devida conta o seu cavalheirismo, não posso de modo algum approvar o seu procedimento n'este momentoso negocio.

Portanto, tendo tomado os apontamentos a que me referi, devo seguir o fio do meu discurso, fazendo as apreciações que julgo convenientes para demonstrar as proposições que tenciono apresentar e desenvolver, acompanhando-as de certos commentarios que me parecem uteis e necessarios.

Não é meu animo, nem podia ser o de nenhum homem publico que preza a dignidade propria e a do seu paiz, dirigir afrontas a uma nação que, por brilhantes feitos, pelo brilhantismo da sua litteratura e grande numero de homens eminentes, que bastantes são os que teem ornado a historia de Hespanha, está a par das mais illustradas; mas entendo que, como portuguez, tenho obrigação de sustentar a dignidade da minha terra, dizer bem alto que queremos conservar a nossa autonomia, que não queremos por isso ser ibericos, porque queremos ser portuguezes e morrer portuguezes, e havemos de morrer portuguezes.

Hei de tambem, no meu discurso, recorrer aos antigos livros da historia, que através os seculos nos contam os tramas horrendos em que alguns poucos portuguezes degenerados se envolveram contra a patria, e a respeito dos quaes o nosso illustrado e inspirado poeta Camões diz que "dos portuguezes alguns traidores houve algumas vezes"; hei-de tambem inspirar-me daquellas idéas sublimes, de que se inspirou o nosso actual presidente, o sr. conde de Lavradio, quando ha mais de vinte annos exclamava que "houve Christovãos de Moura antigos, e receiava que os houvesse tambem modernos".

Eu acompanho o nobre conde de Lavradio de 1846, e que, neste ponto, julgo que é o mesmo conde de Lavradio em 1869.

Isto pelos mesmos receios, e porque

................dos portuguezes
Alguns traidores liouve algumas vezes.

E eu não temo só os traidores, temo os nescios, os ignorantes, e os ambiciosos sobretudo quando são ao mesmo tempo nescios.

Sr. presidente, disse o sr. marquez de Sá, na ultima sessão, respondendo ao digno par, o sr. Casal Ribeiro, que os nobres ministros seus collegas não tinham tomado parte no negocio da candidatura de El-Rei o Senhor D. Fernando á corôa de Hespanha. Se eu errar em alguma apreciação peço a s. exa. que me esclareça, porque não desejo afastar-me da verdade. Em vista pois d'esta declaração do sr. marquez de Sá, comprehendemos todos que o sr. ministro da fazenda disse a verdade quando n'esta casa do parlamento declarou terminantemente que similhante negocio não tinha sido levado a conselho de ministros.

Disso mais o sr. marquez de Sá que a responsabilidade tomava-a elle toda, ampla e completa, não como ministro, mas como homem. Aqui é que eu não posso, não quero dizer perdoar, mas servindo-me de um termo mais ameno, aqui é que eu não posso desculpar os srs. ministros seus collegas de não se terem associado ao sr. marquez; bem