O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

146

sabemos, um homem digno e virtuoso (apoiados — O Sr. Visconde de Fonte Arcada: — É verdade); nem sempre estive de accordo com as suas idéas politicas, nem elle com as minhas; mas o que ninguem póde negar é, que o Sr. Mousinho tinha um coração nobre, e uma alma verdadeiramente portugueza (muitos apoiados); ha delle uma palavra só, que caracterisa o homem, isto é a respeito das suas opiniões sobre as causas da revolução, e não se pense que aquillo que vou dizer, seja tirado desses papeis, de que se tem aqui fallado: pela minha honra e pela minha vida declaro, que não vitaes papeis, e nem mesmo sei se algum está impresso com o Discurso do Sr. Conde de Thomar. Mas, Sr. Presidente, disse o Sr. Mousinho a respeito das causas da revolução, o que outro individuo tambem disse = quando ha um complexo de causas, só assim se póde produzir um movimento tão geral. Ora cada um julga, que aquillo que pensa é o que na realidade é, e desta fórma desencontra-se quasi sempre com a opinião dos outros; mas não fique sem se saber bem qual era a opinião do Sr. Mousinho.

Era naquelle tempo em que o tumulto das paixões, o frenezi da desordem estavam no seu auge, que o Sr. Mousinho foi chamado ao Paço, e com effeito veio de fóra á Capital de Ordem de Sua Magestade a Rainha, que lhe Perguntou, se elle se queria encarregar da pasta do Reino: S. Ex.ª disse que sim. Houve alguem que lho notou, e mesmo perguntou = E não pedistes garantia á Rainha? A resposta foi = Eu morro; mas não peço garantias á Rainha, porque eu é que Lhas devo dar (apoiados repetidos.) Isto ouvi eu ao Sr. Mousinho, e não posso deixar de o manifestar em taes circumstancias: não direi que seja um heroismo digno dos antigos; mas os antigos, quando procediam bem, procediam assim. (O Sr. Conde de Lavradio: — Apoiado.)

Sr. Presidente, formou-se o Ministerio de Maio, e antes da formação desse Ministerio, houve uma tentativa para formar outro. Não sei se ha muito quem goste de ser Ministro, apezar de que ser Ministro em certas crises é muito honroso: não ha duvida nenhuma que o servir o Paiz, servir a Soberana, tomar a responsabilidade dos actos governativos, ter até certo ponto uma liberdade de opinião com os seus collegas, e a fortuna de poder pôr em pratica um pensamento, com que haja de se felicitar a Nação a que se pertence; tudo isso é nobre; mas tambem é nobre o recusar, entendo eu, quando a consciencia dicta, e a intelligencia aconselha, que não se compromettam os interesses da Nação. Os primeiros homens que foram chamados para formar a Administração, disseram a Sua Magestade, que não eram as pessoas que as circumstancias reclamavam; tiveram mesmo a coragem de Lhe dizer, respeitosamente como lhe cumpria, que o homem proprio para taes circumstancias era o Duque de Palmella: eu fui um dos que recusei, e não o digo por querer fallar de mim, nem mesmo porque queira apparecer no numero dos homens, que tem essa intelligencia: é sómente para responder a certas accusações, que se me tem feito, e ainda ha pouco appareceram n'um jornal, que por ahi corre, e é bem conhecido, — que eu aspirava a ser ministro dos colligados. Ora eu nunca pertenci aos colligados, como podia então aspirar a ser Ministro dos colligados! O Duque de Palmella entrou para o Ministerio, é verdade; mas eu entendo que elle fez um sacrificio: e se por mais de uma vez o tenho visto chamar aos conselhos da Soberana, por mais de uma vez tambem o tenho visto desgostoso, quanto á consciencia da sua incapacidade certamente que não, nem tão pouco da sua intelligencia, porque esta é das maiores que tem Portugal, e direi mesmo das maiores que tem a Europa (apoiados); mas quanto ao estado da sua saude e a certo amor que a todos nós chega, depois da idade de 60 annos; mas em fim, elle acceitou, e eu o vi Ministro com o nobre Duque da Terceira. Sr. Presidente, o Duque de Palmella, e o Duque da Terceira, estavam uniformes e unanimes, porque assim o posso dizer de vista propria e pessoal, nos meios de conter a revolução, ou ao menos na necessidade de a conter. Esta Administração de dous unicos individuos, continha dous grandes homens de Portugal, um como homem da politica, outro como homem da guerra (numerosos apoiados): não estava porém nessa Administração o homem da guerra e da politica — o illustre Duque de Saldanha. Esta Administração devia, sem duvida, dar garantias aos homens amantes da ordem, e isto tanto por um como pelo outro caracter: o Duque da Terceira tinha sido sempre, como ainda é hoje, o homem pacifico, humano, altamente politico, e affavel: ambos estes cavalheiros convieram na proclamação de 21 de Maio, nem podiam deixar de convir, porque sendo ambos os responsaveis, seguramente de um para com outro devia haver um só pensamento, ambos viram a revolução como uma fatalidade, mas contra a qual era preciso obrar com prudencia. Nesta proclamação, por ambos assignada, até certo ponto se dá razão aos actos, porque a não podiam dar politicamente, mas ás queixas, porque elles como homens politicos, não podiam approvar a revolução, mas podiam dizer — vós alguma razão tendes — e com effeito e o que se deprehende desse papel: por consequencia, o que eu tenho dito a respeito das causas dessa revolução, está justificado com aquella proclamação a que alludo, e que foi publicada posteriormente: logo, não sou eu só excentrico; não sou eu só o homem que considera a revolução do Minho como um facto, a que as circumstancias nos tinham arrastado miseravelmente, não attribuindo a pessoa alguma a directa atracção para similhante resultado.

Dizei pois, que os acontecimentos infelizmente tiveram logar, e o nobre Duque de Palmella estava indeciso, se devia ou não conservar a Camara dos Senhores Deputados de 1845: inclinava-se mais a que sim; mas houve (e não fui eu) quem lhe fizesse considerações de certo muito sensatas, porque elles ambos as abraçaram, de que aquella Camara tinha uma certa pecha na opinião publica, de que não representava genuinamente a Nação Portugueza: fosse ou não fosse assim, o certo é que foram estas as razões que se apresentaram, e então houve quem commemorasse largamente factos, que tinham tido logar nas eleições em muitas partes do Reino, os quaes haviam deturpado a pureza das mesmas eleições, pelo que se decidiu então, que só pelo receio d'excitar desconfianças, era necessario terminar, ordenando a dissolução da Camara dos Senhores Deputados de 1845. Eu tive pena d'essa dissolução; não sei se á nova Camara vieram desta vez alguns Senhores Deputados, que então lhe pertenciam: parece-me que já vi um, e não mais. Sei que na Camara dos Senhores Deputados de 45 havia caracteres muito respeitaveis, homens muito de bem, e muito amigos do seu paiz (apoiados), que no meu modo de pensar, se a Sessão durasse, haviam de dar a conhecer ao governo uma certa independencia de boa fé, de que talvez o governo não gostasse, mas que lhe havia de servir de maior apoio, do que um voto submisso.

Eu digo isto, Sr. Presidente, com a certeza de não poder ser contradicto; mas o facto é, que essa Camara foi dissolvida, e do modo possivel, porque já o D. Par o Sr. Conde de Lavradio mostrou bem claramente, que não era possivel, naquelle momento d'excitação (sem expor muitos dos Senhores Deputados ás furias populares), fazer uma reunião d'ambos os corpos colegislativos para se intimar a dissolução da Camara Ellectiva: fez-se como podia ser; e o governo, que não era o governo revolucionario, mas sim o que era filho da revolução, e fóra nomeado no meio dessas chammas, e incumbido de as apagar, é, apesar disso, denominado —fautor da revolução!

Sr. Presidente, a missão do Governo de Maio, era uma missão de paz; era uma missão difficultosissima, a qual elle tinha de cumprir sem uma só violencia, sem um só tiro de espingarda, sem um só tiro de canhão: só assim é que elle podia caminhar, aliás augmentava a lavareda (apoiados). Fez o Governo isto? É o que vamos examinar, e o que me parece se deve analisar, não tanto pelos resultados, que esses não estão na mão dos homens, como pelos actos praticados por esses homens para se conseguir os fins. É assim que se fará justiça aos homens que então serviram, e ás suas intenções.

Sr. Presidente, eu ouvi tratar aqui de perseguidor d'alguem, ao nobre Duque de Palmella! Em minha consciencia creio, que nunca se fez maior injustiça a ninguem (apoiados). Ouço fallar em factos; mas perdoe-se-me dizer, que já não é para mim o acreditar em factos, que dizem relação a um homem sem ouvir esse homem. Eu não creio em imputações, quando uma asserção encontra com os sentimentos conhecidos, e os factos notorios e nunca desmentidos, praticados por esse homem (apoiados). Eu devo em taes casos pronunciar-me antes pela opinião bem estabelecida, e que nunca foi manchada, do que por uma má informação. O Duque de Palmella não é capaz de perseguir ninguem (apoiados); e pelo lado contrario direi, que elle tem medo de que todos o persigam. Elle tem sempre os braços abertos para todos; a sua bolça tambem está sempre aberta para os seus amigos, embora elle na vespera tenha recebido delles ingratidões (apoiados). O credito do Duque de Palmella está formado.

E o Ministerio de Maio? Esse Ministerio, desgraçado, desgraçadissimo, cheio de angustias e de tormentos, esteve sempre lançado n'um pelago mais cruel ainda do que esse que se desejava para o Ministerio que tinha passado. Vamos pois aos factos, e vamos a esses factos como homens publicos; consideremos a sua situação, e vejamos se elles eram senhores della: é por este meio que se conhece o que os homens podem fazer, e não se lhes deve chamar ineptos, por não terem podido fazer mais.

Que houvessem algumas pessoas, que promettendo o seu apoio a esse Ministerio, lho não dessem depois e o falseassem, isso creio eu, Sr. Presidente, é mais uma razão para o lastimar; mas isso não ademira, por que em taes circumstancias até os homens fallecem... (Uma voz — Já deu a hora.)

O Sr. Presidente — Eu peço ao D. Par licença para dizer, que a hora já deu ha muito; e por isso, na fórma do Regimento, eu devo perguntar á Camara, se quer que se prorogue para o D. Par acabar de fallar; se porém V. Ex.ª quer guardar para a Sessão seguinte o acabar o seu discurso, então assim será.

O Sr. Fonseca Magalhães — Eu prefiro fallar na Sessão seguinte.

O Sr. Presidente — Então assim será, e V. Ex.ª terá a palavra na Sessão seguinte, em que prosegue o mesmo assumpto.

Está fechada a Sessão.

Eram quatro horas e tres quartos.