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SESSÃO N.° 13 DE 1 DE JUNHO DE 1908 3

Animaes, e declarou que tanto direito tinha a viver a caça como o caçador, e que portanto não tornava a caçar.

Não fazendo exercicio, engordava de mais e os medicos pediram a uma filha, que elle tinha e muito estimava, que resolvesse o pae a voltar aos seus antigos habitos.

De vez em quando a filha insistia:

- Meu pae, hoje ha de ir ás perdizes, está o dia muito proprio. Jura-me que atira ás que encontrar?

- Está bem, minha filha, juro.

O caçador, porem, pegava na arma e, ao passar pelo canil levava comsigo... um galgo.

Appareciam lebres, mas a essas não tinha o caçador promettido atirar.

E assim fazia sempre..

Quando se tratava de caçar lebres ou coelhos, levava o perdigueiro.

O Sr. Presidente: - Já é a hora de se passar á ordem do dia, e por isso não posso dar a palavra aos Dignos Pares que se inscreveram.

Vozes: - Falem, falem.

O Sr. Presidente: - Os Dignos Pares que entendem que deve continuar este incidente, teem a bondade de se levantar.

Foi approvado.

O Sr. José de Alpoim: - Longe estava eu de usar hoje da palavra. Imaginei, pelas frases pronunciadas pelo Sr. Presidente, na ultima sessão, e pela inanidade d'este debate, que elle estava perfeitamente liquidado. Não comprehendia que elle pudesse ou devesse prolongar-se, embora a imprensa dissesse que a questão iria tomar um aspecto bellico, porque alguns membros d'esta Camara, excitados por palavras minhas, viriam, com violencia, e aspereza, pedir-me a responsabilidade do que eu havia dito.

Recusar-me-hia terminantemente a quaesquer explicações, que me não fossem pedidas com placidez, calma e cortesia.

Não me affligiram nem preoccuparam essas palavras da imprensa, porque os seus excessos, ainda quando procede mal, são como as manchas do sol não empanam o brilho da luz solar. Por consequencia, repito, não me aggravaram as referencias da imprensa, e nem sequer usaria da palavra, se não fosse a consideração que tributo ao Digno Par Sr. Conde de Bertiandos.

Os Dignos Pares Srs. D. João de Alarcão, Conde de Bertiandos, Jacinto Candido e Almeida Garrett referiram-se, na penultima sessão, aos acontecimentos de Lisboa, por occasião da chegada aqui dos estudantes de Coimbra. Alguns fizeram essas referencias com grande paixão, porque estudantes, seus parentes, tinham sido envolvidos nos acontecimentos. S. Exas. censuraram acremente aquelles que fizeram a contra manifestação, pela forma violenta que adoptaram. Estavam os Dignos Pares nó seu direito, e eu concordei com S. Exas.

Sou monarchico e liberal. Como monarchico, congratulo-me com a manifestação ao Throno; como liberal, querendo que a liberdade seja para todos, condemno que se pratiquem actos de violencia para reprimir manifestações, sejam ellas monarchicas ou republicanas.

Acho muito sympathico e justo que se lamentem os filhos de ricos e poderosos que foram feridos em taes acontecimentos ; mas seria igualmente nobre e generoso que se erguesse voz piedosa e compadecida pelas crianças feridas tambem no 18 de junho, pois apenas os Dignos Pares Srs. Baracho, Arroyo e eu, a isso se referiram.

É isto que manda a nobre, a santa, e a bem entendida liberdade.

No incidente da penultima sessão, o Sr. Conde de Bretiandos pronunciou aqui uma palavra, que eu não quero dizer que seja destoante dos costumes parlamentares, porque S. Exa. era incapaz de faltar ao respeito e decoro d'esta Camara: foi a palavra - canalha.

Eu disse então que não a tinha por uma má palavra, mas já a vira, muitas vezes, empregada como demonstração de desprezo para com os que teem fome de justiça ou de pão; e que, nesse sentido, não queria que ella fosse pronunciada.

Nos campos de Aljubarrota e de Valverde e em 1640 foi a chamada, pelos poderosos, arraia meuda e villanagem, que mais defendeu a integridade da nossa patria. Era ella o que no nosso país existia de mais nobre, grande e sagrado.

Ao referir-me a tal palavra, não foi meu proposito aggravar ninguem.

A minha alma de liberal lembrou-se que, á sombra d'ella, muitas vezes se commetteram injustiças e crueldades; e então disse que, se existia nas das essa canalha sem instrucção, cheia de desgraça e miseria, havia tambem uma canalha dourada que, á sombra do poder, muitas vezes esmagava as liberdades, os direitos e a lei, procedendo com arbitrio e violencia.

Quem não sabe que isto é uma profunda verdade?

Falo em geral, e impessoalmente. Pertenço á raça dos homens que são incapazes de aggredir alguem de través; quando o pretendesse fazer, seria rosto a rosto.

Sinto uma paixão, cada vez mais profunda e ardente, pela liberdade. Se ella não viesse da minha educação scientifica e moral, bastava o que occorreu no país até o dia 1 de fevereiro ultimo para pôr na minha alma um amor profundo - que infinitamente se infiltra até no meu sangue - por essa liberdade e pela democracia, sem a qual, hoje, não podem viver as nações e não podem viver os réis.

{S. Exa. não reviu).

O Sr. Jacinto Candido: - Sr. Presidente: no Summario das nossas sessões, e relativamente á que se realizou no dia. 27 do corrente mês, que leio agora pela primeira vez, encontra-se o seguinte, que exprime o que eu então proferi:

Não ha razão alguma, no actual momento, para estabelecer distincções, fazendo-se crer que ha povo e não povo !

Houve, em epocas passadas, tres classes - clero, nobreza e povo; mas, hoje, qual é a individualidade caracteristica do povo?

Nenhuma!

Povo, são todos ! (Apoiados).

Respeita e considera a todos, sejam quaes forem as suas posições sociaes, seja qual for a sua boa ou má sorte que os favoreça, tanto aos que usufruem bens da riqueza, como aos embebidos na miseria ou indigencia ! Nunca faltou ao respeito, á consideração e á estima, ao apreço seja de quem for. Mas d'este seu modo de proceder, ao abdicar do direito que lhe assiste de não se colloear abaixo dos que se dizem povo, vae uma grande distancia, e não consentirá em tal!

É um anachronismo considerar ainda hoje a existencia dos tres estados que o novo regime aboliu. Todos somos povo: sou eu povo, é povo V. Exa., são povo os Dignos Pares, todos pertencemos a uma unica ordem social. Creio que estas palavras estão na mente e no espirito de todos.

Sendo isto o que eu disse, fiquei surprehendido quando o Digno Par Sr. Alpoim estabeleceu distincção entre canalha dourada e canalha não dourada, distincção com que S. Exa. pretendeu salientar as ultimas considerações do seu discurso. Disse S. Exa.:

Mas ha tambem a canalha dourada e farta, que offende a lei e que é tão merecedora de castigo como a outra.

Sr. Presidente: quando eu pedi a palavra na sessão a que se refere este Summario, lamentei que V. Exa., por motivos que acato, não m'a tivesse dado. Não posso deixar de lamentar que tal succedesse. porque teria posto cobro a tal incidente, que despertou no publico uma curiosidade insalubre, na frase do Sr. Baracho, e que conveniente é liquidar o mais rapidamente possivel.

Se eu tivesse tido a palavra nessa occasião, teria dito ao Digno Par, precisamente aquillo que vou agora dizer, afastando das minhas considerações tudo o que não seja a apreciação restricta, exacta e rigorosa do que se passou aqui, e está na lembrança de todos os que assistiram a essa sessão.