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SESSÃO N.° 13 DE 1 DE JUNHO DE 1908 7

Não estou a preconizar Ministerios especiaes: peco só que haja um Ministro que vote todos os seus cuidados á instrucção publica e agricultura. Como a Camara sabe ha muitas nações em que cada um d'estes ramos de serviços faz parte de um Ministerio especial.

Insisto, é preciso dar ao país pão do espirito e pão do corpo.

Mas quando eu exijo instrucção publica não creia o Digno Par que eu apenas alludo á instrucção primaria, para que as crianças, ao sair das escolas, saibam ler, escrever e contar. Isso para mim é o menos.

Eu estou ao lado do grande pensador que foi H. Spencer, que escreveu estas palavras: Acredita-se em geral, na virtude da leitura, da escrita e da arithmetica para fazer bons cidadãos. Não vejo como. O mesmo é com respeito ás formosas esperanças fundadas sobre a recitação de lições sabidas apenas de cor!

A instrucção ha de necessariamente e indefectivelmente comprehender a educação - a educação sim! e em todos os seus aspectos!

Ensinar a ler é muito bom, mas não basta.

Ler é apenas um meio para adquirir conhecimentos intellectuaes e, insisto, moraes!

Mas para se ler é preciso que haja que ler. E quem é que ensina a escrever o que proveitosamente entre nós se deva ler?

A instrucção é apenas uma parte do problema; o que é necessario, repito, é a educação em todas as suas fases. Grave cousa a falta de educação, não digo só da educação social, mas da educação em todos os seus aspectos! Essa falta é talvez o maior mal de que hoje enferma a sociedade portuguesa. (Apoiados).

Vejo que estamos perfeitamente de acordo.

Quanto á questão agricola ainda aqui a elucidaram na ultima sessão alguns Dignos Pares.

Ainda hoje os generos principaes da producção nacional teem de estar sujeitos a um regimen excepcional.

Do que é que, afinal, precisamos?

De dar á producção, dentro do país, intensão, e, fora d'elle, extensão.

É preciso avivar a cultura, mas para isso é mister, moderar, senão extinguir essa aspiração incessante de capitães a que o Governo, por virtude da nossa situação financeira, tem de proceder, e que depaupera a energia productora. É preciso abrir novos mercados, e esses só por meio de convenções internacionaes, que não são faceis nem simples na nossa situação pautal.

Mas isto não se faz de um dia para o outro: ha mister de tempo.

Por minha parte voltarei ao assunto em occasião opportuna. Por era quanto fico com a esperança - visto os apoiados que tenho recebido da Camara de que mais cedo ou mais tarde ha de haver um Ministerio ou um Ministro que cuide especialmente d'estas duas questões vitaes para o país: educativa e agricola. (Apoiados).

Quanto ao Digno Par Sr. Arroyo direi então de mais que, com este orador, é preciso muito cuidado, faz-se mister estar sempre na defensiva.

O Sr. Arroyo é distincto como orador e como maestro.

Referindo-me a S. Exa. como maestro, devo dizer que na opera ha duas partes: a partitura e o libretto.

O Sr. Arroyo tem o segredo de traduzir ideias em palavras eloquentes e sentimentos em notas expressivas.

Na opera attendemos só á musica do distincto compositor. Ouvimos e admiramos.

Pouco nos importa a letra, pois que a musica reproduz absolutamente os sentimentos. Creio até que não commetto erro dizendo que ha uma certa escola que dispensa completamente a palavra e só exige a nota.

Quando, porem, o Digno Par faz um discurso na Camara, nós não devemos attender só á musica da sua palavra.

É grande a eloquencia com que fala, sempre cheia de vivacidade .e talento, cortada tanta vez pela ironia, e em que por vezes rompe a apostrophe, como aquella flor do aloés, que, no dizer de Heine, só de seculo em seculo rebenta. É preciso saber o que está atrás d'aquella palavra seductora, procurar a letra da partitura.

Qual foi o leit motif do ultimo discurso do Sr. Arroyo?

O Digno Par vem, como Scipião, clamar-nos: Delenda Carthago.

Qual é essa Carthago que cumpre derrubar?

O partidarismo!

Ora, apesar d'esta e de outras investidas aos partidos, eu poderia dar á Camara a grata consolação que les morts que vous tuez se portent assez bien.

E já aqui ha bem pouco o provou o Sr. Julio de Vilhena na sua palavra sobria e incisiva.

É que isto de matar os partidos, parece-me cousa simplesmente impossivel.

Não é a primeira vez que ha esta tentativa.

Desencadeou se um verdadeiro cylone politico contra os partidos Estadistas emeritos, oriundos na sua maxima parte, note-se, dos partidos, entenderam em sua consciencia repudiá-los uma corrente do grosso do publico, que se interessa pela administração do Estado, confesse-se, acompanha os nessa tardia hostilidade. E um facto, registemo-lo.

Mas é um facto com que os partidos devem contar para quê?

Exactamente para os estimular e para se servirem da força que teem no país, em bem das instituições e em bem da patria.

Repito: a destruição dos partidos é uma antiga tentativa, e que até não é exclusivamente portuguesa; já se tem apresentado noutras partes.

Eu tive a honra de fazer de uma vez certo destacamento na imprensa politica.

Nesse destacamento tive necessidade me bater, nada menos, que com Marianno de Carvalho e o thema foi este: elle dizia que os partidos estavam mortos, e eu dizia que os partidos estavam vivos; andámos a questionar e o unico morto infelizmente foi Marianno de Carvalho, cujo passamento todos nos lamentamos.

Dizia eu então, e repito agora, que ha de haver sempre a distincção entre dois partidos, e a razão - como nota Macaulay - é porque tal differença provem da diversidade do temperamento, intelligencia e interesses que se encontram em toda a sociedade e que se ha de encontrar emquanto o espirito do homem for attrahido por estas duas forças oppostas: o encanto da tradição, e o encanto da novidade. E não é só na politica, mas tambem na literatura, na arte, na sciencia, na medicina, na industria, na navegação, na agricultura e até na propria mathematiça, que se encontra semelhante diversidade. Em toda a parte ha uma classe de homens que se inclinam amoravelmente para tudo quanto é antigo, e que, ainda quando convencidos por virtude de razões superiores, que uma innovação ha de ser benefica, só receosos e suspeitosos a a ella accedem. E outra classe de homens existe, ardidos de animo, ousados de emprehendimento, urgindo sempre por avançar, prontos a discernir as imperfeições no existente, dispostos a julgar ligeiramente dos riscos e inconvenientes que podem acompanhar as reformas e progressos e dar inteiro credito a todo o progredimento só por que o é.

Os partidos pois hão de existir e sobreviver ás apostrofes inflammadas. (Apoiados).

Mas em que que se distinguem estes dois partidos? E pergunta-se isto como se a resposta devesse ser a sua condemnação. Ora a accusação tambem não é nova, nem sequer de hontem, esta accusação já se fez na propria Inglaterra, no país clássico dos partidos. E o que se observou lá?

Macaulay faz notar que a differença