O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

SESSÃO N.° 14 DE 3 DE JUNHO DE 1908 3

Copa, á entrada do parque e da galeria denominada Ceu de Vidro.

Eram dois lindissimos exemplares, que davam uma grande majestade áquelle lindissimo largo.

Estas duas arvores eram muito copadas e gigantescas, produzindo magnifica sombra, e dando aspecto de grandeza áquelle grandioso largo.

Pois uma d'essas formosissimas arvores foi arrancada no dia 22 do mês passado, pela madrugada, com o pretexto de que tinha uns ramos na parte superior que estavam secos. Essa formosissima arvore morreu! Foi assassinada!

Depois da arvore derrubada viu se que tinha o tronco perfeitamente são e apenas uma pequena fenda ou buracos nelle; nada mais.

Esta arvore tinha, pouco mais ou menos, duzentos annos, e dizem os entendidos que estava ainda para poder conservar-se por mais cem annos.

A desolação que se apoderou do coração dos habitantes das Caldas, que viram este vandalismo, foi extraordinaria!

É necessario pôr cobro a esteje outros factos que se estão praticando na administração do Hospital Real das Caldas da Rainha.

Antes de proseguir, tenho a declarar a V. Exa. e á camara que nenhuma má vontade me anima contra o cavalheiro que está dirigindo áquelle estabelecimento, para se não suppor que tenho qualquer intuito reservado ao fazer estas referencias.

Mais algumas arvoras teem sido derrubadas na mata do hospital; consta-me que cento e tantas, para se fazer carvão, e esta que foi derrubada agora, que tanto, embellezava áquelle largo, porque dava uma sombra bastante agradavel, tambem vae ter o mesmo fim, segundo as informações que de lá me mandaram.

Sr. Presidente: o que é notavel é que tudo isto se faz á sombra de uma disposição do regulamento que foi publicado ha tempo, que transformou a disposição do antigo regulamento, que dizia que o director, alem do seu ordenado, teria um certo numero de litros de azeite, e poderia disfrutar as frutas e hortaliças ali produzidas.

Esta disposição foi substituida por outra em que diz que o director, alem do seu ordenado, pode gozar das regalias do hospital e estas regalias abrangem tudo.

Cento e tantas arvores foram derrubadas para fazer carvão, para que o director tivesse mais esta regalia!

Tenho aqui cartas de pessoas das Caldas, á disposição dos meus illustres collegas que as quiserem ler, que manifestam a sua consternação por este facto.

O corte recente da arvore foi como que o fallecimento de uma pessoa muito querida d'aquella terra, tal foi o desgosto que se apoderou d'aquella população.

Vou ler á Camara alguns periodos d'essas cartas, para se ficar sabendo qual a impressão desagradabilissima que ali produziu.

É necessario e indispensavel que o Sr. Presidente do Conselho e Ministro do Reino olhe com attenção para o que se está praticando na administração do hospital das Caldas da Rainha, e S. Exa. veja que, alem do corte das arvores, mil outras irregularidade s ali se teem praticado, a que em outras sessões me tenho referido.

Basta referir a V. Exa. uma carta que me relata o seguinte facto:

Como os empregados do hospital teem direito, pelo regulamento, aos remedios gratuitos, fornecidos pela pharmacia do hospital, um d'estes annos, só em aguas mineraes e de mesa saiu da pharmacia do hospital um tal numero de garrafas no valor de 400$000 réis!

Está aqui, numa carta d'ali recebida, não invento.

Perguntar-me-hão V. Exas. por que, razão tomo tanto calor pelas Caldas da Rainha?

Eu tive a honra de ser eleito Deputado pela primeira vez por aquella região, pelo circulo constituido pelos tres concelhos das Caldas, Óbidos e Peniche. Fui por lá eleito muitas outras vezes, onde se travaram lutas ingentes, e eu não costumo ser ingrato para ninguem quando me dispensam algum favor e muito menos para um concelho por onde pela primeira vez eu tive a honra de vir ao Parlamento.

Mas fique bem assente que eu não tenho má vontade contra o director, nem desejo que elle soffra absolutamente nada; é muito boa pessoa, mas não sabe administrar os dinheiros do Estado: deve-se-lhe impor uma efficaz fiscalização e uma grande responsabilidade.

Está nomeada uma commissão de pessoas competentissimas para estudar os melhoramentos a introduzir na administração d'aquelle importante estabelecimento: não sei seja foi entregue o relatorio da commissão, de que eu pedi a copia. Só depois de me ser enviada poderei tomar conhecimento das providencias propostas.

Sr. Presidente: o Hospital das Caldas da Rainha e suas dependencias é um dos primeiros estabelecimentos do Estado naquelle genero, onde as primeiras familias da capital e de outras terras ali vão, não só para fazerem uso das aguas, como para gozarem a amenidade d'aquelle clima.

É um estabelecimento que faz dispendio ao Estado, e, por consequencia, é triste e grave que muita gente pelas circunstancias que apontei se afaste d'aquella estancia verdadeiramente encantadora.

Em abono da reprovação que taes actos estão suscitando nas Caldas, bastará ler á Camara trechos de algumas cartas que, acêrca do ultimo vandalismo ali praticado pela administração do Hospital, me foram enviadas.

Diz uma d'essas cartas:

IIImo. e Exmo. Sr. - É tal o vandalismo que se tem feito na mata, são taes as infamias que ali se praticam, que estou certo que em poucos dias o arvoredo é desbastado para fazer carvão ou talvez para cultivar o terreno para semear batatas. Durante o inverno foram derrotadas muitas arvores para fazer carvão, que foi consumido pelo director. Os caldenses estão indignados e com razão.

O vandalismo que se fez ás 4 horas da manhã, cortando a arvore secular que havia no Largo da Copa, só um louco praticaria. Foi um crime que devia ser punido. Ha uma censura geral. É extraordinario que se corte uma arvore cheia de vida. Todo o tronco estava completamente são; havia apenas alguns ramos secos.

A administração interna do hospital é um chaos.

Passo em claro algumas linhas da carta, por decencia.
..................................................

Continua a carta:

Mas felizmente os caldenses já censuram, porque os escandalos são tantos e tão claros que revoltam toda a gente. Fiscalização não existe. Materiaes teem-se vendido quasi de graça Ninguem fiscaliza.

Dormentes, madeiras antigas e materiaes de construcção tudo tem desapparecido.

Depois do director ter a approvação do orçamento tem transformado parte do hospital, de onde retira grande quantidade de vigamentos, que estão ao abandono no antigo matadouro, trabalhos feitos no tempo de D. Rodrigo Berquó.

O parque está transformado em Perna de Pau.

Os gastos são por todos os lados.

Emfim, a administração é pessima, ninguem trata senão de explorar.

Outra carta diz entre varias cousas o seguinte :

Hoje, 22, fomos surprehendidos pelo triste espectaculo de ver cortado o ulmeiro secular que estava no Largo da Copa e ali fazia tão boa sombra.

Parece que o director, tendo assistido á deslocação de uma casca seca que ha dias se destacou da arvore, consultou um silvicultor, que lhe aconselhou o corte.

O tronco estava são e podia durar mais de 100 annos.

Toda a gente das Caldas está indignada com semelhante vandalismo.
...................................

Que fatalidade pesa sobre esta terra!

O freixo que está defronte tambem vae ser cortado.

Chegou aqui uma familia em automovel, e, passando pela arvore derrotada, ficou tão horrorizada de a ver abatida que disse que, se tal soubesse, não passaria por ali.

É bom que se torne responsavel quem