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SESSÃO N.° 15 DE 5 DE JUNHO DE 1908 11

defenda tudo, mas que não accuse com invenções.

O Orador: - Não são invenções e são factos.

Pois então não era o Digno Par membro d'esta Casa do Parlamento, como é hoje, e não deu o seu voto ao Governo transacto?

Porque não se levantou, então, o Digno Par e disse, em relação á situação passada, o que diz em relação a esta?

O Sr. Conde Arnoso: - Estavam as Camaras encerradas.

O Orador: - Mas, porque é que o Digno Par agora, com o Parlamento a funccionar não estranha que essa situação passada, tendo agentes policiaes tão experimentados e tão habeis, só tivesse conhecimento da fabricação de bombas explosivas quando esses instrumentos mortiferos faziam victimas aquelles que os fabricaram? (Apoiodos).

Que policia arguta e previdente era essa que, não hesitando perante quaesquer actos violentos e arbitrarios, só dava pelas bombas quando ellas explodiam? (Muitos apoiados).

Porque não estranhou esse facto extraordinario?

(Aparte do Sr. Conde de Arnoso, que se não ouviu).

O Digno Par, ha de ter a paciencia de me ouvir, porque eu tambem o escutei com bastante cortezia e attenção.

Não estranhou, tambem, o Digno Par que essa situação passada, correndo por toda a parte a noticia de que a Familia Real seria assassinada na sua vinda de Villa Viçosa (Apoiados), deixa que ella desembarque no Terreiro do Paço Sem a minima precaução, e isto no proprio dia em que se publicava o celebre decreto que deixava a liberdade, a vida, a honra do cidadão á mercê das autoridades.
(Muitos apoiados).

Porque não impediu esse crime, e deixou a carruagem real absolutamente abandonada. (Muitos apoiados).

O Sr. Conde de Arnoso: - Eu não posso accusar um homem que está ausente do país.

O Orador: - Eu não podia deixar de defender-me da accusação violenta e gravissima que o Digno Par me fez e aos meus collegas.

Referiu-se o Digno Par ao cavalheiro que actualmente occupa o logar de juiz de instrucção criminal.

Pois eu affirmo ao Digno Par que o juiz de instrucção criminal é um magistrado intelligente, tem dado provas da sua actividade, do seu zelo e da sua competencia.

O Digno Par foi ainda mais longe, e disse que era tão estranho e tão deshumano o procedimento do Governo, que nem sequer no Discurso da Coroa se encontram palavras de sentimento e pezar em relação ao odiosissimo attentado de que foram victimas El-Rei D. Carlos e o Principe D. Luis Filipe.

Pois não está esse sentimento bem expresso no diploma que inaugurou a actual sessão legislativa?

Pois não se sabe que o Governo, como todos os portugueses, condemnou viva e sentidamente esse revoltante attentado ?

Sr. Presidente: ainda por ultimo o Digno Par disse que de bom grado arrisca a sua vida para se descobrir o criminoso ou criminosos.

Tambem eu e todos os que nos sentamos nestas cadeiras estamos dispostos a cumprir honradamente o nosso dever, e não hesitariamos em acompanhar S. Exa., recebendo a morte com satisfação e orgulho.

Tenho dito. (Apoiados).

(S. Exa. não reviu).

O Sr. Conde de Arnoso: - V. Exa. dá me licença que eu faça uma ligeira observação.

O Sr. Presidente: - Eu não posso dar a palavra a V. Exa. sem consultar a Camara.

Vozes: - Fale, fale.

O Sr. Presidente: - Em vista da manifestação da camra tem V. Exa. a palavra.

O Sr. Conde de Arnoso: - Agradeço a V. Exa. a e á Camara consentirem que use ainda da palavra. Apenas desejo pôr bem em evidencia o mau sestro que faz que me respondam sempre a cousas que não disse. Dir-se-ha que as minhas palavras não reproduzem a expressão das minhas ideias.

O que tive a honra de dizer á Camara não foi, o que seria ridiculo, que estava pronto a dar a minha vida em troca da descoberta dos assassinos de S. M. El-Rei D. Carlos e de S. A. o Principe Real, ambos de saudosissima memoria.

Vou repetir as rainhas palavras: sempre que tenho a honra de falar nesta Camara sobre este historico assunto as cartas anonymas com ameaças de morte caem-me em casa aos montes.

Se essas infames ameaças se tornarem uma realidade, e tiver de ser victima, possa o facil sacrificio da minha vida servir para a descoberta dos verdadeiros assassinos de S. M. El-Rei e de S. Alteza o Principe Real.

Isto é bem differente. S. Exa., o Sr. Ministro, diz que está pronto a dar a sua vida para essa descoberta se fazer. Acredito firmemente as palavras de S. Exa., e felicito-o sinceramente por tamanha abnegação.

(S. Exa. não reviu).

O Sr Conde do Bomfim: - Em má hora lhe chega a palavra; mas, tendo-a pedido, cumpre o seu dever, expondo concisa, mas serenamente, á Camara, o que lhe suggere o assunto em discussão, e algumas passagens dos discursos proferidos pelos oradores que o antecederam.

Todos conhecem o desgosto profundo por que acaba de passar. (Apoiados).

Está muito reconhecido ao Governo e a muitos amigos que, no transe dolorosissimo do fallecimento de sua esposa, lhe testemunharam as suas condolencias e lhe deram provas da muita estima que lhe consagram.

De entre todas essas homenagens, seja-lhe permittido destacar a que lhe foi prestada pelos membros da Familia Real Portuguesa, e seria disprimor e ingratidão, se elle não protestasse bem alto contra esse monstruoso e hediondo attentado que feriu o coração amantissimo de uma Rainha, sublime de heroicidade, enlutou a alma do actual Rei, e acrescentou dias amargurados a essa Princesa de Saboia, a excelsa viuva de D. Luiz I, que pelos seus actos benemeritos, mereceu o cognome de "anjo da caridade".

Tem-se alludido ao tragico acontecimento de 1 de fevereiro, em termos de immenso desfavor para esta terra, que disfrutava a fama de ser habitada por gente em extremo pacifica, e nunca dada a violencias.

Está completamente de acordo com todos os que se pronunciam contra esse acto execrando, improprio de uma capital civilizada, e absolutamente inadmissivel num país, que de ha muito aboliu a pena de morte.

Applaude a organização do actual Ministerio, e a maneira por que elle se tem conduzido no intuito de fazer que Portugal se veja liberto de uma crise gravissima.

Não comprehende as accusações que se fazem aos partidos, e muito menos as que teem por alvo o actual chefe do partido regenerador, o Sr. Julio de Vilhena.

Merece-lhe elogio a resolução do Conselho de Estado que indicou para a presidencia do Governo um homem verdadeiramente intelligente e com uma larga e honrosa folha de serviços ao seu país, e com cuja amizade se honra.

Não menos elogio lhe merece a escolha do Digno Par Julio de Vilhena para a chefia do partido regenerador.

Entende que S. Exa., pelo seu talento, pela experiencia dos negocios