128 DIARIO DA CAMARA DOS DIGNOS PARES DO REINO
guido o grau de bacharel na faculdade de direito, como mostrará por sua carta, e havendo continuado mais um anno de frequencia, ouvindo as lições de sua obrigação, conforme os novos estatutos d'esta universidade, com prova d'elle se habilitou para fazer, como fez com effeito, a sua formatura em 20 de julho de 1857; no qual acto sendo examinado pelos doutores, seus mestres, e sendo distribuidos e regulados os votos, foi approvado nemine discrepante, como consta do assento que d'isso se fez no livro dos exames, actos e graus do dito anno, a fl. 208 v., o qual me foi presente ao assignar d'esta. E porque com a referida approvação, conforme a lei do reino e estatutos d'esta universidade, póde usar de suas letras livremente era qualquer parte, lhe mandei passar a presente, por mim assignada, e sellada com o sêllo d'esta universidade.
Dada em Coimbra, aos 20 de julho de 1857. Eu, Vicente José de Vasconcellos e Silva, secretario, a subscrevi. = José Ernesto de Carvalho e Rego, vice-reitor. = Basilio Alberto de Sousa Pinto.
Submettido á discussão, nenhum digno par usou da palavra.
Procedeu-se á votação por espheras.
O sr. Presidente: - Convido os dignos pares, visconde de Chancelleiros e Margiochi, a virem servir de escrutinadores.
Fez-se a contagem das espheras.
O sr. Presidente: - Na uma da votação entraram 70 espheras, das quaes 69 brancas; e na da contraprova igual numero, sendo pretas 69. Está approvado o parecer por grande maioria.
Consta-me que se acha na ante-sala o sr. Manuel Pereira Dias.
Convido os dignos pares Vicente Ferrer e Quaresma de Vasconcellos a introduzirem na camara este novo digno par.
Introduzido na camara o sr. Manuel Pereira Dias, foi lida, pelo sr. primeiro secretario, a seguinte:
Carta regia
Dr. Manuel Pereira Dias, lente cathedratico da faculdade de medicina na universidade de Coimbra, deputado da nação. Eu El-Rei vos envio muito saudar. Tomando em consideração os vossos distinctos merecimentos e qualidades, e attendendo a que pela vossa categoria de lente cathedratico da faculdade de medicina na universidade de Coimbra, com exercicio effectivo de mais de dez annos, vos achaes comprehendido na disposição do artigo 4.° da carta de lei de 3 de maio de 1878: hei por bem, tendo ouvido o conselho d'estado, nomear-vos par do reino.
O que me pareceu participar-vos para vossa intelligencia e devidos effeitos.
Escripta no paço da Ajuda, em 7 de janeiro de 1881.= EL-REI. =José Luciano de Castro.
Para o dr. Manuel Pereira Dias, lente cathedratico da faculdade de medicina na universidade de Coimbra, deputado da nação.
O novo digno par prestou juramento e tomou assento.
O sr. Presidente: - Continua a discussão do projecto de resposta ao discurso da corôa.
Tem a palavra o sr. ministro da marinha.
O sr. Ministro da Marinha (Visconde de S. Januario): - É sempre fazendo violencia ao meu temperamento e aos meus habitos, que eu levanto a minha voz no parlamento. Gosto pouco de fallar, prefiro as obras ás palavras.
Ao saí da universidade, ha bastantes annos, aproveitava com prazer qualquer occasião que tinha para discursar. Entrando na vida publica, pouco a pouco fui conhecendo que, n'este paiz, havia mais quem fallasse do que havia quem trabalhasse.
Eu propuz-me a seguir systema opposto. Res, non verba.
Não faço com isto censura aos oradores; pelo contrario, sinto-me disposto a applaudil-os.
A eloquencia entendo eu que é necessaria, principalmente nos parlamentos, para discutir e esclarecer, para demonstrar, para convencer.
Entretanto, sr. presidente, ha oradores que podem, e devem, justamente filiar-se na escola de Cicero e do Demosthenes, pelos seus dotes oratorios, e ha outros que não podem ter direito a essa pretensão.
Os oradores que juntam á phrase elegante, é expressão correcta, umas vezes suave e amena, outras vezes vigorosa; que juntara, digo, a estas qualidades o rigor da logica na argumentação, a propriedade de seus conceitos e a opulencia de imagens com que matizam os seus discursos; em fim, os que possuem todas as qualidades que devem constituir um perfeito orador, esses honram a tribuna parlamentar e são gloria do seu paiz; e eu, prestando-lhes a homenagem da minha admiração, sinto simplesmente não poder imital os.
Na minha larga excursão pela America observei uma circumstancia notavel a proposito de oradores parlamentares. Assistindo a sessões nos congressos de Buenos Ayres, de Chile, do Peru e do Mexico, e tambem no capitolio em Washington, notei que nos estados do sul havia oradores muito distinctos, e era costume ali fazer largos, extensos e conceituosos discursos, era quanto nos Estados Unidos, na America do Norte os discurses pronunciados no congresso eram muito curtos.
Ora, acontece que nos estados do sul da America onde se fazem discursos extensos e brilhantes o adiantamento é pequeno, emquanto nos Estados Unidos do Norte se dá o contrario; o adiantamento é muito grande, ao passo que os discursos são pequenos. Parece, pois, que na America os discursos parlamentares estão na rasão inversa do adiantamento nacional.
Não apresento como regra este facto que me parece digno de attenção, mas como uma circumstancia mais que distingue as raças dos Estados do Sul da America dos da grande republica do norte do mesmo continente.
Sr. presidente, todo este exordio vem a proposito para solicitar a indulgencia da camara, que espero obter e conciliar para quando eu tiver de levantar aqui a minha voz para expender a minha opinião, sustentar qualquer proposta como ministro da corôa, ou responder a qualquer pergunta ou interpellação que algum membro da camara me dirija, se não estranhe que eu o faça em singela frase e breves discursos.
A defeza politica dos actos do governo está confiada a vozes mais auctorisadas que a minha. Nem eu seria competente na actualidade para fazer a resenha dos actos administrativos do gabinete, e defender aquelles por que tem sido incriminado pelos oradores que o combateram no debate levantado a proposito do projecto de resposta ao discurso da corôa. Essa incompetencia resulta, alem da falta de recursos oratorios, do facto de eu não ter acompanhado como ministro a marcha do gabinete desde da sua formação; porque, como a camara sabe, só depois de decorridos muitos mezes da existencia d'este governo é que fui chamado aos conselhos da corôa, pouco depois de regressar ao reino, finda que foi a commissão que tive de desempenhar na America. Esta circumstancia só seria sufficiente para me dispensar de entrar largamente no debate.
Sr. presidente, prevalecendo-me dos principios que estabeleci no meu exordio, e indo adiantada a discussão, procurarei não me alongar, limitando-me simplesmente a sustentar os actos da minha propria administração, e a procurar restabelecer pela verdade dos factos quaesquer referencias que se tenham feito a esses actos, podendo affirmar que é menos exacta a deducção que se tem querido tirar, de que existe falta de coherencia e desaccordo no pensamento governativo entre mim e os meus collegas no gabi-