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2 DIARIO DA CAMARA DOS DIGNOS PARES DO REINO

diatamente expedido, e logo que os documentos pedidos pelo digno par cheguem á mesa serão remettidos a s. exa.

O sr. Conde de Thomar: - Pedi a palavra, não porque deseje demorar a discussão da ordem do dia.

Como v. exa. e a camara de certo estarão lembrados hontem, depois de eu usar* da palavra, seguiu-se na ordem da inscripção, o digno par sr. Thomás Ribeiro que, com aquella phrase levantada e com aquelle colorido que sabe dar ao seu pensamento, tratou largamente a questão politica, e entendeu levantar algumas phrases que eu havia pronunciado com relação ás grandes despezas que se fizeram com a expedição a Moçambique.

Não quiz, sr: presidente, censurar a organisação d'essa expedição, nem o valor que os nossos soldados poderiam desenvolver, se fosse necessario empregar a força n'aquella nossa provincia ultramarina; quiz apenas demonstrar que entre nós os diversos ramos de serviço sé organisam de tal fórma que, em vez de se gastar tres ou quatro, gasta-se sempre dez ou doze, e isto só por falta de boa administração.

O digno par sr. Thomás Ribeiro nas suas observações entendeu referir-se ás difficuldades que os homens que occupam o poder encontram muitas vezes na marcha dos negocios publicos, e a este proposito apresentou algumas referencias, que estou certo me não dizem respeito, mas que entendo não dever deixar passar sem fazer alguns reparos, porque é bofo que este negocio se liquidei! Eu espero da hombridade de s. exa. e do seu rectissimo caracter que não deixará de dar explicações claras a respeitoso facto apontado pelo digno par. S. exa. disse que muitos individuos solicitavam dos governos favores de toda a ordem, alguns dos quaes foram qualificados de iniquidade e vinham depois para o parlamento com o sarcasmo nos labios censurar esses de quem momentos antes haviam recebido taes favores, taes iniquidades, alardeando independencia.

Sr. presidente, na minha vida parlamentar, que é ainda curta, tenho a consciencia tranquilla e socegada. A estrada por mim seguida é a linha recta, de que; não me tenho desviado.

Não sei o que será para o futuro, mas até hoje, repito, a minha consciencia está perfeitamente tranquilla, porque nunca pedi nem iniquidades, nem favores aos ministros que se têem sentado n'aquellas cadeiras.

Sinto não Ver aqui o sr. presidente do Conselho, que pronunciou hontem um brilhantissimo discurso, breve, mas incisivo, dizendo na sua conclusão que não era o momento para retaliações com relação aos actos dos que têem gerido os negocios publicos.

Se s. exa. estivesse presente, dir-lhe-ia que a fonte onde fui buscar elementos para fazer algumas observações sobre as propostas de fazenda, não é outra senão o relatorio por s. exa. assignado.

Não desejo azedar o debate, nem provocar questões irritantes, tanto mais que nas circumstancias em que nos encontrâmos, seria um crime de lesa politica não dar todo o apoio a este governo, que é composto de homens que militaram em todos os partidos e que subiu ao poder n'uma conjunctura excepcional.

Todo o espirito sensato não póde eximir-se a apoiar este gabinete, emquanto a sua marcha corresponder á confiança que n'elle se deposita. Desviando-se, porém, do caminho que traçou, é evidente que não póde contar com o apoio do parlamento, pelo menos com o meu.

Não insisto sobre este assumpto. O que espero é que o meu amigo o sr. Thomás; Ribeiro declare perante a camara se as observações que fez com relação a varios dignos pares que têem pedido favores aos governos podem entender-se commigo.

O sr. Bandeira Coelho: - Mando para a mesa uma representação dos parochos da villa de Trancoso para serem isentos do imposto estabelecido no artigo 3.° do projecto que esta camara está discutindo, e para serem equiparados aos outros funccionarios publicos.

O sr. João Chrysostomo: - Declaro a v. exa. e á camara que por motivos justificados não tenho podido assistir ás sessões.

O sr. Presidente: - Será lançada na acta a declaração do digno par.

O sr. Luiz de Lencastre: - Mando para a mesa a seguinte participação:

"Participo a v. exa. e á camara que por falta de saude não comparecerei na sessão seguinte e talvez em outras sessões successivas. = Luiz de Lencastre."

Desejo saber de v. exa. se vieram já do ministerio da marinha os documentos que pedi.

O sr. Presidente: - Ainda não chegaram. Em chegando, serio enviados ao digno par.

O sr. Luiz de Lencastre: - Não me queixo de ainda não terem sido enviados a esta camara; mas, sr. presidente, tendo eu annunciado ha dias uma interpellação ao sr. ministro da marinha sobre a substituição das juntas de fazenda do ultramar por uns outros tribunaes chamados juntas provinciaes, e tendo-se s. exa. declarado prompto a responder á mesma interpellação, eu declaro que a não posso realisar sem que cheguem os esclarecimentos que pedi.

Peço, pois, a v. exa. que não marque dia para a minha interpellação sem que os documentos que pedi me sejam enviados.

O sr. Sousa e Silva: - Pedi a palavra para declarar a v. exa. e á camara que, por incommodo de saude, tenho deixado de comparecer a algumas sessões.

O sr. Presidente: - Far-se-ha a devida declaração na acta. Tem a palavra o sr. Thomás Ribeiro.

O sr. Thomás Ribeiro: - Sr. presidente, eu comprehendo a rasão por que o digno par o sr. conde de Thomar e meu amigo, me fez a pergunta que a camara ouviu.

S. exa. sabe perfeitamente que nenhuma allusão pessoal, nem directa nem indirecta, foi feita a s. exa. no meu pequeno discurso de hontem; todavia, foi o digno par que, imprudentemente, hoje provocou a minha replica.

Hontem, provavelmente algum jornal, d'estes que não desgostam de vez em quando de experimentar a sensibilidade de cada qual, dirigia-se ao digno par e meu amigo repetindo algumas palavras minhas que quiz accentuar como dirigidas a s. exa.

Confesso francamente que não podia estar lisonjeado por uma accusação feita pelo digno par a uma administração a que eu tive a honra de pertencer, accusação que foi ao extremo de nos apontar como os maiores esbanjadores do mundo, a mim e aos cavalheiros que me acompanharam na primeira situação presidida pelo sr. João Chrysostomo.

Sr. presidente eu tenho a consciencia de que no meu ministerio, apesar de todas as accusações, fiz as maximas economias a que se podia chegar.

Tendo eu a consciencia do meu proceder, era natural que alguma cousa me podessem doer as referencias menos agradaveis aos actos d'aquelle ministerio; e, fallemos claro, porque nós somos homens, e por isso estranhos a lisonjearias! estranhei que, levantando-se o apostolo das economias encarnado na pessoa do sr. conde de Thomar, elle se não lembrasse de que, pelo menos, havia mais a censurar, no capitulo de gastos inuteis em ministerios transactos.

Eu não me referia a s. exa., mas quando o digno par trouxe á tela do debate a expedição a Moçambique, estranhei, repito, que se não lembrasse da luxuosa installação que se preparara para receber o ministerio da instrucção publica.

S. exa. não se referiu a esse ponto e, de certo, por uma extrema delicadeza, viu que o tempo ia de lama; não