O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

SESSÃO DE 21 DE JULHO DE 1890 685

reiro ultimo, foi discutida e apreciada em face dos principios do direito internacional a acção dos dois governos.

Outros jornaes e revistas de caracter mais ou menos encyclopedico, discutiram a questão sob o seu aspecto geral, todas, porem, a analysaram, como aliás era natural, á luz das conveniencias da Gran-Bretanha.

Entre estas ultimas citarei agora a Fortinghtly Review, que publicou no seu numero de janeiro um artigo cujo titulo, só por si, accusa o espirito que animou o seu auctor ao escreve-lo.

Era: As agressões de Portugal e o dever da Inglaterra.

Pois nesse artigo, onde eu sou severamente condemnado, e os direitos de Portugal por todas as formas e com todas as armas combatidos, diz-se o seguinte:

"On the river itelf a semblance of occupation up to Zumbo may be granted, though that even is doubtful."

"Sobre o rio Zambeze pude reconhecer se uma similhança de occupação até ao Zumbo, mas isso mesmo é duvidoso."

A verdade impunha-se até num escripto todo elle impregnado de má vontade contra nós.

Sr. presidente, antes de terminar esta primeira parte do meu discurso, desejo referir-me a um ultimo escriptor, para todos insuspeito, cujas palavras encerram para mini, como membro do ministerio demissionario, como antigo ministro da marinha e dos estrangeiros, um testemunho valiosissimo pela confissão que nellas se faz da energia e actividade com que durante os ultimos quatro annos foram de fendidos os direitos de Portugal.

É esse testemunho prestado por um individuo que mais auctoridade tem hoje para escrever ácerca das regiões que demoram entre o Zambeze e o Limpopo, e que recentemente e por mais vezes as tem percorrido.

Quero referir me á carta dirigida ao Times em 2 de dezembro ultimo, da cidade do Cabo da Boa Esperança, por Frederico Selous, e publicada em o numero de 2 de janeiro da folha da City.

Selous estava na Zambezia na epocha em que se verificavam as nossas expedições, e escreveu a respeito do resultado dellas essa extensa correspondencia para o Times, que é por muitos titulos interessante e na qual se conteem as seguintes passagens que mais particularmente se referem ao Zumbo e que eu vou ler á camara:

"I am prepared to grant without cavil that the portuguese have a certain amount of political influence along the south-east coast of África, north of Delagoa Bay (an influence which they have strained every nerve to extend inland during the last five years), and along the course of the Zambezi, from its mouth as far as Zumbo, or even as far as the mouth of the river Kafukwe. But the last three years, owing to jealousy of British expansion, have been a period of unprecedent activity with the portuguese government in south-eastern África, and by the judicious employment of such men as Manuel Antonio and Ignacio de Jesus Xavier, and other influential native chiefs, that government has very rapidly extended and is still extending its influence all over south-eastern África."

"Não tenho duvida em concordar, sem difficuldade, que os portuguezes possuem uma certa dose de influencia politica ao longo da costa oriental de África, para o norte da bahia de Lourenço Marques, influencia que durante os ultimos cinco annos elles têem, n'um maximo de tensão nervosa, procurado alargar, e ainda ao longo do curso do Zambeze, desde a sua foz até ao Zumbo, ou ainda mesmo até á confluencia do Kafué. O ciume da expansão britannica fez, porem, com que os ultimos tres annos fossem um periodo de uma actividade sem precedente do governo portuguez no sul da África oriental, e pelo emprego judicioso de homens como Manuel Antonio, Ignacio de Jesus Xavier e outros chefes indigenas influentes, aquelle governo tem alargado rapidamente e está ainda expandindo a sua influencia sobre todo o sul da África oriental."

Aqui temos, pois, comprovada uma primeira vez e de todo o tempo a soberania de Portugal ao longo do Zambeze não só até ao Zumbo ou até ao Nakedi, mas até á foz do Kafué, e, portanto, já muito perto do Sanhate.

Mais adiante diz Selous o seguinte:

"I am not altogother unacquainted with the early records of Portuguese conquest and discovery in South-Eastern África in the 16th, 17th, and 18th centuries, nor of the enterprises undertaken in the same region during that period by the zealous and self denying disciples of Francis Xavier and Ignatius Loyola. In those records will be found accounts of numerous expeditions, military, diploma-tic, and philanthropic, both along the coarse of the Zambezi, as far as Zumbo and into the interior of the country lying between the lower Zambezi and the river Sabi."

Traduzindo:

"Não desconheço as memorias antigas das conquistas o descobertas realisadas pelos portuguezes no sul da África Oriental durante os XVI, XVII e XVIII seculos, nem ignoro tambem os emprehendimentos realisados na mesma região durante aquelle periodo pelos discipulos zelosos e cheios de abnegação de Francisco Xavier e Ignacio de Loyola. Nessas memorias se encontra menção de numerosas expedições militares, diplomaticas e philantropicas, tanto ao longo do Zambeze até ao Zumbo, como para o interior do paiz situado entre o baixo Zambeze e o rio Save."

Aqui temos pois uma segunda vez a affirmação de que o nosso dominio ao longo do Zambeze attingia o Zumbo.

Mas é mais que tudo para os trechos que passo a ler que eu chamo toda a attenção da camara. Depois de ter affirmado a decadencia em modernos tempos da influencia portuguesa outrora tào grande em todo o sul da África, depois de haver alludido á insurreição do Bonga e á de outros chefes, Selous acrescenta:

(Still no one can deny the historic associations of Portugal with the Zambezi from its mouth as far as Zumbo, nor with the immense tract of country between the lower Zambezi and the Sabi, generally known as the Manica country: and if Englishmen are inclined to laugh or sneer at the tenacity with which a country that is often stated to have lost all its ancient vigour clings to "mere historic associations" at any rate they ought to admire the energy and enterprise (without any loud talking) which the Portuguese are now displaying in South-Eastern África in order to make good their claims and reestablish their ancient supremacy. As an Englishman I wish to see Portuguese enterprise in Eastern África met and checked by British expansion from the West, though I would not have Portugal jockeyed or bullied out of a single inch of territory to which she can prove any real claim."

E vertendo para portuguez:

"Ninguem de certo poderá negar a ligação historica de Portugal com o Zambeze desde a sua foz até o Zumbo, e ainda com o immenso tracto de terreno entre o baixo Zambeze e o Save, geralmente conhecido como paiz de Manica; e se os inglezes estão inclinados a rir ou a zombar da tenacidade com que um paiz, do qual tão a miudo se tem dito que de todo perdera o seu antigo vigor, se agarra "a meras recordações historicas," bem pelo contrario deveriam admirar a energia e espirito de aventura (desacompanhado de toda a vangloria) que os portuguezes estão recentemente manifestando na África oriental no sentido de dar força ás suas reivindicações e restabelecer a sua antiga supremacia. Como inglez eu desejo ver contrariados e inutilisados os emprehendimentos portuguezes na África oriental pela expansão britannica vinda do occidente, mas de modo algum desejo ver Portugal despojado ou esbulhado de sequer uma pollegada de territorio a que elle prove ter realmente direito."

É para este trecho, repito, que eu mais chamo a attenção da camara. Prova elle bem a importancia da recente acção portugueza n'aquellas regiões, e é consolador ver