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4 Diário da Câmara dos Deputados

a verdade é que a irrequieta minoria popular, pela qual, aliás, tenho sempre manifestado a minha muita simpatia, quis ontem fazer-nos uma imposição, com a qual a maioria transigiu vergonhosamente.

O Sr. Ministro do Comércio apresentou um determinado requerimento, sôbre o qual a Câmara se pronunciou, dando-lhe aprovação. Entendo eu que êsse requerimento só poderia ser alterado por uma nova resolução da Câmara. Foi, sem dúvida, ainda por um espírito de conciliação que os leaders da maioria resolveram transigir; mas estou certo do que as minorias não reconhecem semelhantes intuitos, sendo possível que continuem levantando conflitos análogos que necessáriamente nos hão-de fazer arrepender da nossa atitude.

Trata se evidentemente do prestigio parlamentar, e, porque disso se trata, eu não posso deixar de corroborar as palavras aqui proferidas pelo Sr. Cunha Lial, Deputado do Grupo Popular, quando S. Exa. se referiu à campanha ,que lá fora se faz contra o Parlamento. É preciso de facto que os membros do Parlamento mostrem, pelas suas atitudes, a sem razão de semelhante campanha.

No jornal a Luta, de ontem, vem uma local em que se atinge o Parlamento.

Sr. Presidente: pelos extractos das sessões de 8, 9 e 11 de Setembro vê-se que da parte de quem tem o seu nome ligado àquele jornal, houve aqui o propósito de contrariar a marcha dos trabalhos parlamentares. Para a Câmara verificar, a veracidade do que afirmo vou ler o que disse nesta Câmara na sessão de 11 de Setembro de 1919 o Sr. Brito Camacho, quando se discutiu um projecto de lei.

O Sr. Brito Camacho declarou que estava resolvido a fazer um discurso por horas intermináveis. Aqui estivemos às ordens de S. Exa. até as 3 e meia da madrugada.

A um àparte do Sr. António Maria da Silva, S. Exa. disse:

O Sr. António Maria da Silva calculou que eu fazia um sacrifício muito grande em estar a falar durante duas horas, como disse que poderia falar, e veio dizer-me que, se eu não falasse tanto, a sessão terminaria mais cedo. Respondo a S. Exa. que não aceito essa prova de amizade, porque não faço nenhum sacrifício em falar até as seis horas".

Quando se diz isto não há autoridade para dizer que o nosso trabalho é improdutivo.

O Sr. Presidente: - V. Exa. não está a discutir a acta.

O Orador: - Desculpe-me V. Exa. e a Câmara ter-me afastado ligeiramente do assunto sôbre que pedi a palavra. Agradeço a observação que me foi feita, e dou por terminadas as minhas considerações.

O Sr. Vasco de Vasconcelos: - Sr. Presidente: foi com a maior estranheza que ouvi fazer referência a um facto que eu julgava liquidado. Tendo até o próprio Ministro do Comércio reconhecido a regularidade da nossa atitude, para que se faz renascer um incidente que tinha terminado ontem?

Sr. Presidente: estranho êste procedimento, quando ontem o próprio Ministro transigiu.

O Sr. Ernesto Navarro (Ministro do Comércio): - Não foi por concordar com V. Exas. que eu transigi.

O Sr. António Maria da Silva: - V. Exas. não podem classificar o discurso do Sr. Cunha Lial de negócio urgente: foi uma interpelação, foi uma forma de escalar a palavra.

Muitos àpartes.

O Orador: - Eu não estou a discutir o discurso do Sr. Cunha Lial, mas a apreciar a forma por que nos apreciam, considerando-nos menos regulares e rebeldes.

V. Exas. têm visto que o Grupo Popular, no que respeita a ordem pública o prestígio da República, tem estado sempre com V. Exas.

Feitas estas considerações, lamento que êste facto se dêsse, afirmando que temos a consciência tranquila de cumprirmos o nosso dever.

O orador não reviu.

Foi aprovada a acta.