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Seêtão de 11 de Fevereiro de 1920

aceita de boa vontade? Para quê?! jQue se importam V. Ex.as com isso! j Sossegadamente, vão ouvindo o que eu lhes digo; no fim, pensam apenas que isso é uma cousa que se passa longe, lá muito longe ... e pronto!

Pois bem, será assim.

Na Madeira, Sr. Presidente, há fome; j daqui a cinco dias acaba-se ali o último grão de milho, e, quando ele acabar de todo, as classes operárias, principalmente, não terão de comer l

Querem, Srs. Deputados, uma amostra? Lá vai. Quando há dias saiu da Madeira o vapor S. Miguel, a população, receando a fome próxima, quis evitar a saída de mercadorias. Dizem-me que voltou barcos já carregados, que mostrou, pondo em prática, .conhecer os modernos preceitos ensinados por não menos recentes ideas.

A guarda republicana teve de sair, fecharam estabelecimentos o houve até quem afirmasse preferir morrer rapidamente de um tiro ou de uma espadeirada, do que lentamente, por efeito da fome*

Ali, Sr. Presidente, tem-se sofrido mui-• to, e a escassez dos géneros alimentícios teru-se feito sentir desde o início da guerra, debilitando os organismos e predispondo-os facilmente, p ar a todas as doenças.

Ali, Sr. Presidente, morre-se de fome ou em consequência de fome! E a situação, cada vez pior, agrava-se cada vez mais.

0 último grão de milho acaba—ou-çam-no bem — no dia lõ do mês corrente, que é, como 'quem diz, daqui a quatro dias.

1 ^ Será possível, Srs. Deputados, que neste país ninguém se lembre de que há uma população de milhares de almas ao abandono, que há muita gente portuguesa em risco de morrer de fome?l

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abandonados a si próprios numa situação que está prestes a ser angustiosa, desesperada ato?!

Lembrem-so, senhores, dessa pobre ilhasita, portuguesa também. E ouçam, ouçam as suas reclamações.

Falta-lhe tudo. O que existe em toda a parte, falta ali. E o progresso, ao passar por aqui, ó acorrentado, preso, impedido de seguir, não podendo chegar até lá.

£ Querem ver se isto é, ou não, assim?

Toda a gente sabe que não há hoje uma ilha, por mais pequena que seja, embora pertencendo a Portugal, que não goze já dos benefícios da telegrafia sem fios. Pois a Macieira ainda não conseguiu esse benefício, encontrando-se os aparelhos da estação' que o Governo Inglês ali teve durante a guerra ainda excaixotados ali porque o Governo Português não resolveu ainda adquiri-los por uma quantia relativamente pequena.

Um exemplo só. Quero reatar as minhas considerações.

Um telegrama do governador civil do Funchal afirma, de modo categórico e pó- . sitivo, com a responsabilidade que lhe resulta da sua afirmação, que a existência de milho termina, como já disse, no dia 15; pede notícias dos vapores S. Jorge o Lima, que deviam conduzir milho para o Funchal, e manifesta o seu desassossego, o seu desgosto, pela catástrofe que está iminente sobre a Madeira.

Por minha parte, já averiguei que o vapor S. Jorge não vem a caminho, e o.vapor Lima só daqui a vinte e cinco dias poderá estar na Madeira, j São, pelo menos, dez dias em que a população da Madeira não tem um grão de milho, a única alimentação das classes pobres!

•Aos que há poucos dias me interromperam com não apoiados, quando eu salientava que as ilhas só serviam para pagar e que só se sabia que existiam quando era preciso cobrar-lhes dinheiro, quero preguntar-lhes se dentro do continente existe alguma povoação que esteja arriscada a sofrer todos os horres da fome, como sucede na Madeira.

O Sr. João Aguas:—Quanto a pagar e a não gozar benefícios, o Algarve está nas mesmas condições!