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Diário da Câmara dos Deputados
ria do seu director Sr. Dr. Augusto de Castro, referiu-se a essa viagem.
Ora, como fui, repito, o único membro desta Câmara que se permitiu abordar êste assunto, julgo-me atingido pelas afirmações feitas pelo jornal.
Sr. Presidente: devo em primeiro lugar dizer que estou de acôrdo com o ilustre director do Diário de Noticias.
Tenho, realmente, muito curtas vistas, quer em política, quer em inteligência.
Aceito a comparação a um pequeno farol de 5 ou 6 milhas de alcance, e até, se quiserem, com relâmpagos escuros.
Mas, o Sr. Dr. Augusto de Castro, a quem ainda há poucos dias prestei nesta casa do Parlamento as mais rasgadas homenagens, pela sua obra de propaganda no estrangeiro e até pela sua obra diplomática, terminou o seu artigo com uma afirmação que não posso aceitar, referente a intrigas políticas.
Contra a insinuação quero eu protestar, Sr. Presidente.
A intriga política não é o meu forte; não tenho talento para a fazer, nem a sombra sequer dos meus passos se cruzou nunca no caminho daqueles que a têm por divertimento predilecto e única ocupação.
Sr. Presidente: que a notícia do convite feito pelo Govêrno da África do Sul é verdadeira, não pode merecer dúvidas, visto que não apareceu nenhum desmentido oficial.
Logo que ela apareceu na imprensa, surgiram de vários lados brados de satisfação, foguetório e luminárias, quási que mostrando ao público que aqueles que se referiram ao procedimento do Sr. Smuts, eram, porventura, uns mentirosos, uns precipitados e uns irrequietos.
Sr. Presidente: tenho muita pena de não me poder associar ao foguetório.
Ninguém mais do que eu tem sustentado que é preciso cultivar as relações com os outros países, mas também ninguém mais do que eu tem sustentado que não devemos tolerar nem transigir seja com o que fôr que possa representar menos respeito pela soberania portuguesa.
Sr. Presidente: não há dúvida de que o Sr. Smuts tem dito várias vezes no Parlamento da União que a África do é um país soberano e independente.
Igualmente S. Ex.ª não teve dúvida em ir fazer um plebiscito, num país que não pertencia à União, e que estava sob a administração directa da Inglaterra, e não há dúvida ainda do que na Conferência da Paz foi permitido que o Sr. Smuts assinasse o Tratado, em perfeito pé de igualdade com os representantes dos países aliados.
Porém, o que é verdade é que na África do Sul há um governador inglês, que é o Príncipe de Connaught, e, segundo dizem, se êle se retirar, será substituído por um filho de Jorge V.
Dêste modo começo por notar que não me parece razoável que o convite ao Chefe do Estado seja feito pelo Govêrno da África do Sul, devendo acrescer que, ainda mesmo que êle tivesse sido feita pela Inglaterra, que ainda mão riscou da lista dos seus domínios a África do Sul, não podia ser aceito sem restrição.
Sabe V. Ex.ª, Sr. Presidente, e a Câmara sabe, que há alguns anos o Presidente da República Portuguesa, que então era o Sr. Dr. Bernardino Machado, visitou oficialmente o Rei da Bélgica, o Presidente da República Francesa e o Rei Jorge V.
São passados seis anos, e até agora só foi retribuída a visita pelo Rei da Bélgica.
Esse grande soberano, o rei-soldado, não pôde demorar-se em Portugal, por motivo da política interna do seu país, senão algumas horas mas elas foram suficientes para que Sua Majestade pudesse constatar a grande simpatia que o povo português tem pela Bélgica, pelo seu Chefe e pelo exército.
Igualmente, elas foram bastantes para que pudéssemos ouvir, com desvanecimento patriótico, as afirmações que êsse simpático soberano fez no Palácio da Ajuda, numa festa oficial, sôbre o valor do nosso soldado, sôbre o merecimento da nossa intervenção na guerra e também a homenagem que êle prestou ao espírito colonizador português, que êle tinha verificado na visita que vinha de fazer ao Brasil.
Afora esta retribuição feita pelo Rei da Bélgica, as outras visitas feitas pelo Sr. Bernardino Machado não foram agradecidas até hoje. O Sr. Presidente da República Francesa ainda não esteve em