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Diário da Câmara dos Deputados
Sr. Presidente: o capítulo das despesas estraordinárias traz verbas exorbitantes, principalmente na parte relativa aos encargos do caminho de ferro do Mormugão, encargos que de resto são admissíveis pela depreciação da moeda.
Nenhum outro, reparo tenho a fazer, o de achar demasiada a verba de 200 contos para a telegrafia de Cabo Verde que, de mais a mais, é sem fios.
Tenho dito.
O orador não reviu.
O Sr. Abílio Marçal: — Sr. Presidente: pedi a palavra para mandar para a Mesa uma proposta no sentido de conceder uma subvenção de 120 contos, com o fim do Govêrno organizar e preparar novas missões religiosas que exerçam a sua acção civilizadora e colonizadora em Angola e Moçambique.
Depois das conferências de Berlim e Bruxelas, do convénio que fizemos cora a Inglaterra e da conferência de Saint Germain, temos de desenvolver uma acção civilizadora nas nossas colónias sem diferença de religião, apenas com o intuito de melhorar as condições higiénicas do indígena, honrando assim a compromissos que tomamos nessas conferências.
Essas missões são religiosas e não de soberania.
Elas estão bem dotadas nos orçamentos coloniais de Angola e Moçambique.
Os subsídios destinados a essas missões têm sido importantes, extraordinários, e constituem encargos das províncias.
E certo que dessas missões nada ficou, porquanto se limitavam a uma acção religiosa e moral entre os indígenas.
Da sua obra nada resta rias nossas colónias. Mas hoje a orientação da Igreja neste assunto é diferente, e ao mesmo tempo que são missões religiosas são também missões agrícolas, comerciais e industriais, observando o modelo da missão do padre Barroso.
Levam para b interior indivíduos casados para darem ao preto a idea da família civilizada.
A igreja quis evangelizar, mas não evangelizou, e também não se dedicou à sua, missão civilizadora.
Ultimamente a Igreja começou a fazer uma mudança completa na sua orientação, e a República Portuguesa está disposta para que a sua missão civilizadora seja completa a dar a mão à Igreja, quando ela vá por êsse caminho e quando der às suas.missões uma orientação mais prática.
Eu disse um dia dêstes ao Sr. Lino Neto que nas nossas colónias de Macau e de Angola houve missões, como missões do Congo.
Àpartes.
Eu queria referir-me às missões congreganistas.
Houve, mis soes que, como a do Espírito Santo, durante muito tempo só foram desfavoráveis à nacionalidade portuguesa.
Pertenceu a essas missões o célebre padre Rompana, que enviou para Paris um relatório contra nós.
Àpartes.
Essas missões têm hoje modificado a sua orientação, e não nos têm criado agora dificuldades algumas.
Tanto assim é, que o Alto Comissário de Angola, Sr. Norton de Matos, que tem. todo 0 empenho em dar o máximo desenvolvimento à administração da sua colónia, não deixará que essas missões sigam outro caminho, porque êle é enérgico e decisivo.
Àpartes.
Creio, pois, que a Câmara praticará um bom acto de dedicação pelas suas colónias, e mostrará às nações que assinaram o pacto de Saint-Germain que está disposta a que se façam todos os sacrifícios para cumprir as obrigações que tomou assinando aquele pacto.
Em face do orçamento que estamos discutindo, as nações estrangeiras avaliarão os sacrifícios que fazemos, dada a nossa situação económica.
Isto não é indiferente às nações estrangeiras, pois que tomam conhecimento do que fazemos pela civilização, vendo que a República, inscrevendo no Orçamento verbas importantes para as missões civilizadoras, cumpre aquilo a que se obrigou pelo pacto de Saint-Germain.
Nestas circunstâncias, mando para a Mesa a proposta, e termino as minhas considerações.
O discurso será publicado na íntegra, revisto pelo orador, quando, nestes termos, restituir as notas taguigráficas que lhe foram enviadas.