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Sessão de 28 de Janeiro de 1924 5

endurecimento sentimental é mais ou menos propagado e celebrado.

E no entanto, sem elementos de facto para poder contestar ou confirmar essas acusações, nós podemos dizer que, dentro do ponto de vista social, nenhuma figura maior pela acção houve em Portugal, neste último meio século.

A obra do Sr. Dr. Teófilo Braga foi essencialmente - embora haja divergências de critério das suas apreciações e conclusões — uma obra de construção nacional e dê devoção social.

As palavras que estou dizendo provam a minha sincera admiração pelo filho do povo, a quem eu, como filho do povo, não posso deixar de prestar culto.

Durante a sua vida duas vezes o foram arrancar à tranqüilidade do seu gabinete, para servir o seu ideal. Duas vezes o foram arrancar à sua modesta casa.

Primeiro para presidir aos destinos do Govêrno Provisório, numa hora em que a República encetava os seus primeiros passos vacilantes. E nessa hora dê incertezas, o pobre velho que estava tranqüilamente na, sua casa, agarrado aos seus queridos livros e apontamentos, não hesitou em colocar-se à frente do Govêrno Provisório com a autoridade do seu nome eminente.

E nesse Govêrno êle soube ser o elemento máximo de coesão entre os Ministros e, se não conseguiu imprimir uma estreita e profunda coesão a todos os membros do Govêrno Provisório, êle, no entanto, evitou a separação dêsses elementos, unindo-os até ao fim da obra dêsse Govêrno, prestando assim assinalados serviços à revolução, que o heroísmo do povo fez triunfar.

Quando, mais tarde, o povo de Lisboa se ergueu contra a ditadura do general Pimenta de Castro, quando ainda se não sabia se na hora seguinte as fôrças do exército viriam contra as fôrças da marinha e de terra, numa hora, de incertezas e de dúvidas, lá o fomos outra vez buscar ao trabalho intenso do sou gabinete de sábio, para o trazer para a fronte dos destinos da República.

E aquele homem que podia ter dentro do coração o sentimento endurecido contra tantos que o tinham olvidado em certo momento, que podia ter no coração uma semente de hostilidade contra aqueles que

haviam pôsto primeiro na Presidência da República um outro que não fora o Presidente do Govêrno Provisório, êsse homem que tivera profundas divergências doutrinárias com os homens da Assemblea Constituinte, que não haviam sabido escutar a sua educação de positivista ferrenho, de quem o povo guardava os seus ensinamentos democráticos, êsse homem aceitou som hesitações o alto pôsto, que numa hora de sacrifícios e dificuldades lhe entregavam.

Êsse homem não duvidou presidir mais uma vez à República Portuguesa, prestando-lhe mais um outro inestimável serviço.

E trabalhou sempre, sem tréguas, pára que hoje se fizesse a definição de que neste cauto da Europa existe uma Nação que se nacionalizou primeiro do que qualquer outra do mundo.

As minhas palavras brotam direitas e sinceras do meu coração, porque traduzem a admiração de um filho do povo por outro filho do povo.

Êsse homem saiu duas vozes da casa da Travessa de Santa Gertrudes, onde o foram arrancar para servir o seu ideal.

A primeira para presidir aos destinos do Govêrno Provisório, numa hora em que era de incertezas, e a quando uma ditadura militar parecia querer subverter a grande fôrça popular.

Poderia no seu coração existir ressentimento, podia abriga sentimentos de hostilidade, mas no momento próprio veio prestar ao País um grande; um inestimável serviço.

Esta coerência de princípios e de ideas manifestou-se até ao último sopro da sua vida.

E é absolutamente dê Celebrar esta virtude fundamental, numa hora em que todas as traições só procuram justificar como uma pretensa evolução de ideais; numa hora em que os esfôrços se alugam e as convicções se vendem; numa hora em que a incoerência é a regra de muitos que se arvoram em mentores e dirigentes.

É absolutamente de celebrar, repito, a memória do velho professor, que até ao derradeiro momento da sua vida soube, por entro as perturbações e as sombras do crepúsculo, descobrir os fulgurantes clarões da aurora da justiça e da liberdade.