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6 Diário da Câmara dos Deputados

Sr. Presidente: é exactamente por isso que, apesar do poder de comunicação dos seus detractores e da expansão dessas detracções, V. Exa. encontra no seio da própria alma portuguesa.um verdadeiro culto de admiração por êsse homem que o povo não conheceu nas várias manifestações do seu génio, mas sentiu e apreciou como educador que soube manter até aos últimos dias da sua vida, absolutamente íntegra, a pureza dos seus ideais.

Sr. Presidente: o professor Teófilo Braga — disse-o ainda não há meses, quando, eu tive ocasião de o visitar pelo seu aniversário natalício — liga à cidade de Lisboa a sua casa com os recursos necessários para nela manter os livros, os apontamentos, as obras, emfim, um ambiente de trabalho capaz de exercer influência educativa naqueles que a visitarem.

A grandeza dêste gesto responde eloqüentemente às acusações que lhe dirigiram sôbre d sua falta de sentimentalismo.

Êsse homem deixa todo o produto duma actividade inteira de mais de meio século à sociedade, no momento em que nós vemos tanto banqueiro, tanto comerciante, tanto argentário, esquecendo-se dos seus cabelos brancos, procurar avidamente arrancar ao suor do povo mais algumas centenas de milhares.

E foi nesta hora que o pobre velhinho, tam censurado, se volta para o seu País e lhe entrega a sua casa com a simples condição de inscreverem sôbre a sua porta a seguinte legenda:

«Esta pequena casa foi ainda maior que o meu desejo».

Digam o que quiserem aqueles que exigiam a Teófilo Braga um conjunto de condições que neles mesmo não reside, por não ser própria da natureza humana; digam o que quiserem os que não têm capacidade para outra cousa que não seja a crítica feita em termos bastardos e cheia de recriminações; digam o que quiserem, sim, porque o que é certo é que na Travessa de Santa Gertrudes morreu hoje um homem!

Apoiados.

Vozes: — Muito bem.

O orador não reviu.

O Sr. Ferreira de Mira: — Sr. Presidente: em nome do Partido Republicano Nacionalista, associo-me dolorosamente ao voto de sentimento proposto por V. Exa.

Sr. Presidente: o momento mais difícil para se falar da obra de um homem é sem dúvida, o que se segue ao seu falecimento, quando naturalmente os seus amigos o admiradores mais sentem a falta que se lhe faz em torno, e quando, pessoas que porventura não tivessem concordado com as várias manifestações do falecido, estão ainda muito próximo dele, para o poderem esquecer ou encarar friamente.

Estamos, porém, na presença do alguém que foi, na verdade, alguém nesta terra.

Apoiados.

Fossem quais fossem as resistências que se tivessem produzido em torno, o certo é que o Sr. Dr. Teófilo Braga pela sua longa vida de trabalho, pelos cargos que ocupou, por tudo que produziu, merece o nosso respeito, merece o atencioso respeito de todos.

Apoiados.

São múltiplas as facetas do talento do Sr. Teófilo Braga, são muitos as assuntos a que êle dedicou uma vida de infatigável trabalho.

O Sr. Teófilo Braga foi poeta e, embora da sua obra poética muitos tenham feito críticas, que não são de louvor, no emtanto ela ficou como alguma cousa, pois mereceu da parte de pessoas que já faleceram, e que nós consideramos grandes, acerbas críticas.

Mas, justo é dizer-se que só o que vale, merece ser criticado, mereça não cair no esquecimento.

Há quem reduza a poesia à vida do coração, há quem cante simplesmente os sentimentos ternos, e para êsses, realmente, a poesia do Sr. Teófilo Braga não era cousa que os atraísse.

O Sr. Teófilo Braga foi poeta, foi filósofo, foi crítico literário, foi historiador. Todos êsses produtos da sua actividade lhe criaram muitos louvores, todos êsses produtos da sua actividade criaram estranha polémica, em que entraram os maiores vultos da nossa terra.

E realmente, ser censurado ou criticado, ter polémicas das mais fortes, das mais agres, com Camilo, com Antero, com o Dr. Ricardo Jorge e com tantos