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Sessão de 28 de Janeiro de 1924 9

O Sr. Jaime de Sousa: — Sr. Presidente: ao entrar no edifício da Câmara fui dolorosíssimamente surpreendido pela notícia do falecimento de Teófilo Braga.

Teófilo Braga era um meu conterrâneo ilustríssimo. Nasceu na ilha de S.Miguel, em nome de cuja população eu tenho a honra do falar neste momento.

Teófilo Braga, nascido de uma família honesta e ilustre, mas pobre, é o melhor exemplo de quanto um homem se pode levantar pelo seu esfôrço e inteligência do quási nada para o máximo.

Alguém que ainda existe do tempo do Teófilo Braga na escola, sabe que êle teve até de recorrer ao trabalho manual, porque foi tipógrafo, para conseguir sustentar-se e manter-se simultaneamente nos cursos escolares, para o custeio dos quais a família não podia fornecer os meios suficientes.

Para nós, açoreanos, êle não é só o grande homem das letras portuguesas, o grande filósofo e o grande político, mas é também o formidável exemplo das qualidades duma raça de que nós nos esforçamos por manter as tradições, e que o País todo teve ocasião de reconhecer nos O longos anos que êste homem viveu.

Sr. Presidente: é com o mais sentido pezar que eu, em nome dos povos micae-lenses me associo a voto proposto por V. Exa., e faço-o com a grande mágoa de estar a prestar homenagem ao homem que dentro da República foi porventura a maior personalidade, a mais brilhante figura da sua literatura, ninguém o excedendo na indefectibilidade dos seus princípios e na pujança da defesa dos destinos da Republica.

Tenho dito.

Vozes: — Muito bem, muito bem.

O orador não reviu.

O Sr. Dinis da Fonseca: — Sr. Presidente: em nome da minoria católica, «associo-me ao voto de sentimento proposto por V. Exa. pela morte do . Sr. Teófilo Braga, sinceramente, como católico e como português.

Talvez cause estranheza àqueles que me ouvem o eu dizer que me associo sinceramente na minha qualidade de católico, mas essa estranheza não pode existir naqueles que sabem que a Igreja nos

manda amar os próprios adversários e os próprios inimigos, ainda quando êles tenham uma vida inteira irredutível e de inquebrantável adversidade contra ela. Mais nos manda a Igreja abster-nos de julgarmos na hora última do pensamento de alguém quais foram as suas últimas ideas, os seus últimos propósitos o intenções para que não vamos justamente julgar dos actos, às vezes até duma vida inteira, senão por aquilo que no homem se pode passar na última hora, no último momento, que pode ser muitas vezes o mais claro e mais alto duma vida inteira.

E, pois, como católico que eu me associo, interpretando neste momento o sentir da idea que aqui represento, sem nenhuma repugnância e com sinceridade, torno a repeti-lo, a êste voto de sentimento.

Mas com tanta e maior sinceridade me devo ainda associar, quanto é certo que Teófilo Braga era um dos últimos homens que ainda existiam dos guias da. geração civilizadora que estava dirigindo o País.

Morreram Ramalho Ortigão, Fialho de Almeida e morreu ainda há pouco Guerra Junqueiro, e agora morre Teófilo Braga. Não é esta a hora própria para discutir a sua obra, e para ver mesmo se o critério que podia orientar o sou génio foi definido, faltando-lhe a estrela guiadora da fé.

Mas dentro da sua personalidade, eu, como português e patriota, encontro ainda alguma cousa que possa apontar como exemplo à geração que vem correndo. Teófilo Braga, com todos os seus defeitos, e todos os têm, e os devemos esquecer, tem dentro da sua personalidade essa qualidade: a de ter sido um homem de trabalho num país em que a preguiça pondera.

Foi um homem que, trabalhando constantemente, nunca procurou emprego que lhe pudesse ser mais rendoso, e principalmente nesta ocasião, em que a vida é difícil.

Historiador, posso discordar da obra de Teófilo Braga, posso dizer que os seus aspectos de orientação falsearam, mas não posso deixar de reconhecer que êle quis levantar o País pelo seu trabalho intelectual e que tinha toda a confiança e fé na idea da sua fôrça útil e poderosa para levantar o povo e a sociedade.