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4 Diário da Câmara dos Deputados

O Orador: — Nesse caso, peço ao Sr. Ministro da Guerra a fineza da sua atenção para as ligeiras considerações que vou lazer, a fim de as comunicar ao seu colega.

Sr. Presidente: vou referir-me aos caminhos de ferro, do Sul e Sueste.

Eu creio que o Sr. Ministro do Comércio, como pessoa inteligente, que é, e que tem honrado o seu lugar de Parlamentar e de Ministro, não sabe o que se está passando com os serviços do caminho de ferro do Sul e Sueste; todavia, aquelas pessoas que habitam as regiões para lá do Tejo, e que têm necessidade de constantemente se transportarem para Lisboa, passam verdadeiros tratos de pelo.

As carruagens, na sua quási totalidade, encontram-se num estado verdadeiramente miserável, muitas delas sem vidros nem cortinas, que possam abrigar os passageiros do vento e da chuva.

É, sem sombra de dúvida, uma situação incomportável e insustentável.

Mas, isto talvez fôsse o menos, se êsses pseudo-combóios, com essa espécie de carruagens, chegassem à hora respectiva aos seus destinos; mas isto não se dá. Em regra, os comboios chegam ao seu destino com três e quatro horas de atraso, e, quando êsse atraso é de uma hora, é cousa nada estranhável.

Sr. Presidente: tudo isto seria de suportar, mas o que de forma nenhuma se pode tolerar, é que estejamos a assistir a êste espectáculo extraordinário, de não haver nos caminhos de ferro do Sul e Sueste ninguém que se importe com o capítulo «mercadorias», que se acumulam nas diferentes estações, prejudicando largamente a economia nacional.

Eu vou citar à Câmara um exemplo frisante:

Ainda não há muitos dias que um importante industrial do sul do Tejo, tendo necessidade de embarcar determinada quantidade de cortiça, pediu transportes.

Responderam-lhe que era necessário estar a cortiça no Barreiro em dia certo.

O homem fez todos os esfôrços possíveis para êsse fim. Telegrafou, escreveu ao indivíduo que trata dêsses assuntos; pois o chefe do movimento nem sequer se dignou responder!

Não havia material circulante. Passou-se o dia, e êsse industrial não conseguiu que a cortiça fôsse conduzida.

Em virtude do péssimo serviço dos comboios nas linhas do Sul e Sueste, não há maneira de fazer transacções com cortiça; e o que sucede com a cortiça, dá-se com outros produtos, quando se trata de fazer a condução das mercadorias do Sul e Sueste para as linhas da Companhia Portuguesa, ou outras. Isto é inadmissível, porquanto, não se podendo exportar os produtos, não entra ouro no País.

O facto dá ideia de como corre a administração dos caminhos de ferro do Sul e Sueste.

Pois não é por falta de engenheiros, que são vinte, além dos adjuntos.

Preguntando a um empregado a que é devido êste estado de cousas, respondeu--me: A culpa é de quem dirige, que não sabe dirigir.

Há uma incompatibilidade entre a administração e a direcção do Sul e Sueste e os empregados subalternos. Não se sabe o que fazem os seus administradores. O que é certo, é que bastante sofre a economia nacional.

Perante êstes factos lavro o meu protesto, e pregunto: O que faz o Govêrno num assunto de tanta monta?

Onde estão os inspectores das linhas, que são obrigados a inspeccionar os serviços? A culpa é certamente do Govêrno e daqueles que estão à testa da administração dos caminhos de ferro do Sul e Sueste.

Não se compreende que tal serviço do Estado possa ser tratado desta maneira, prejudicando-se os interêsses e o desenvolvimento da riqueza do País.

Então é melhor entregar as linhas a uma empresa particular, que terá mais cuidado na sua administração.

Peço, portanto, ao Sr. Ministro da Guerra a fineza de transmitir ao seu colega do Comércio as considerações que fiz, porque representa um crime o facto de continuar êste ramo de serviço em tais condições.

Tenho dito.

O discurso será publicado na integra, revisto pelo orador, quando, nestes termos, restituir as notas taquigráficas que lhe foram enviadas.

O Sr. Ministro da Guerra (Ribeiro de Carvalho): — Pedi a palavra para declarar que transmitirei ao Sr. Ministro do