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22 Diário da Câmara dos Deputados

eu entendo que num País assim se não deve dizer um certo número de cousas.

Sei muito bem, como companheiro que fui do Sr. Pina de Morais, que S. Exa. é forte e destemido, sendo êsse talvez um dos nossos grandes males, Porém entre S. Exa. o ou há uma grande diferença, e é que eu estou arriscando muito mais a vida de que S. Exa., e assim eu devo dizer ao Sr. Pina de Morais, meu companheiro que foi, na Escola do Exército, meu companheiro de armas em Flandres, que se S. Exa. não gosta da morto dos governos, menos deve gostar da morte de um seu amigo.

Sr. Presidente: eu sei muito bem que a vida de cada um não é uma cousa muito apreciável senão para êle próprio; porém, entendo que, desprezá-la em absoluto, é um pouco demasiado.

Sr. Presidente: o Sr. Presidente do Ministério declarou que não tinha cumplicidade alguma em actos, desta natureza; porém entendo que o sou dever é defender-se, visto que nós o estamos aqui a atacar.

Eu bem sei que ninguém poderá na verdade acusar o Govêrno de cumplicidade em actos desta natureza, porém o que é um facto é que nós não nos devemos esquecer desta passagem da Bíblia:

"Sepulcros caiados por fora e podres por dentro".

É que V. Exa. julga que neste País está livre de ser vítima de provocadores como os que há pouco se manifestaram?

Quem são êles?

Todos nós os conhecemos e nos conhecemos uns aos outros.

Apoiados.

As provas?

Toda a gente sabe quais são as provas, quais são os assassinos e os assassinados.

Toda a gente sabe que não se podem publicar e afixar, anúncios, panfletos, sem licença da polícia, e ontem foi largamente distribuído um manifesto sem que a polícia com isso se importasse, manifesto em que vinha a acusação vil, que era por assim dizer um incitamento ao assassinato, e cujo complemento acabamos de assistir aqui nas galerias, corroborado por um jornal órgão do Govêrno.

Eu vou ler êsse jornal.

Eu sei o que se passou nos corredores desta Câmara. Eu vi distribuir bilhetes e chefiar grupos.

Não, Sr. Presidente, assim não pode ser; nós queremos e havemos de estar aqui de cabeça erguida. E se eu amanhã perder a vida é o Sr. Presidente do Ministério o responsável por ela e deixa de ser Presidente do Ministério para ser presidente do um bando de assassinos.

Fale verdade e com inteira consciência; é preciso que a máscara caia.

Tenho dito.

Apoiados.

O orador não reviu.

O Sr. Pina de Morais: - Pedi a palavra na sessão em que o Sr. Cunha Leal, meu velho e querido companheiro de escola e por quem tenho a maior estima, profunda amizade e alta consideração, preguntou se a minha sensibilidade não se sentia ferida com aquilo que aqui se passou.

Feriu-mo, mas das minhas palavras de há pouco não pode o Sr. Cunha Leal, pelo convívio que teve comigo, deixar de ter a certeza de que, se fôsse necessário, gastaria a minha vida para o defender, S. Exa. sabe bem que ou soa homem para emitir a minha opinião em qualquer campo livremente.

Tenho dito.

O orador não reviu.

O Sr. Presidente: - A próxima sessão é amanhã, com a seguinte ordem de trabalhos:

Antes da ordem do dia:

A que estava mareada.

Ordem do dia:

Debate sôbre a promulgação do diploma legislativo do Govêrno de Angola que cria os certificados do Tesouro e obrigações da dívida interna.

Negócio urgente do Sr. Pedro Pita sôbre a falta de pão em Lisboa e consequência da sua falta.

E a que estava marcada.

Está encerrada a sessão.

Eram 19 horas e 30 minutos.