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Sessão de 14, 18 e 19 -de Março de 1924

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trás semelhantes sem paixão. Assuntos que colidem com os altos interesses do Estado, como este, não podem ser discutidos desapaixonadamente.

Poi por esse motivo que ontem desisti da palavra, e ainda porque das pessoas que se interessam pelo projecto, umas estão convencidas de que está aqui a salvação nacional, outras porventura altamente interessadas na promulgação do projecto como lei poderiam supor que eu tinha a ingenuidade de querer provocar a reprovação do projecto. -

Por isso desisti da discussão na generalidade, porque desejava que Cie se discutisse o mais depressa possível. Mas a paixão é tanta, Sr. Presidente, que ontem, quando proferi a palavra «rejeito», tive amigos próximos, correligionários dos mais dedicados, que se voltaram para ruim indignados por eu rejeitar.

j Veja V. Ex.a até que ponto vai a paixão ! Num assunto desta ordem não há mais que uma opinião, votar o que vem da Câmara dos Deputados o mais depressa possível.

Sr. Presidente: rejeitei o projecto, rejeitou-o o Sr. Kibeiro de Melo — e não admira porque S. Ex.a tinha apresentado uma moção muito interessante a esse respeito e que me parece ser essa a boa doutrina — rejeitdS-o o Sr. Júlio Ribeiro e mais um outro Sr. Senador.

Ainda houve quatro homens nesta Câmara a rejeitar o pvojecto, ainda quatro tiveram essa coragem, e isso é caso para assombro.

Sr. Presidente: desisti do falar na generalidade porque realmente o projecto está todo no artigo 2.°, e o que eu tinha a dizer posso expô-lo a propósito desse artigo, que pretende liquidar a frota do Estado.

Para mim, que não estou apaixonado, é facílimo demonstrar que não é própria esta forma de se defenderem os interesses do Estado. Isto é para mim e, porventura, para os três que votaram da mesma maneira que eu. Para os demais colegas e até para o Congresso inteiro isto é uma nulidade.

Tenho, porém, o dever de dizer, porque é que tenho esse espantoso atrevimento.

Sr. Presidente: para .mim, agora, como há muito tempo, até desde aquele tempo

em que tive a honra de me sentar na cadeira em que se senta o Sr. Ministro do Comércio hoje, para mim, repito, a marinha mercante tem de ser um serviço público. Um serviço público de tam grande importância para a nação, como os ca-niitíhos de ferro, estradas, serviços hidráulicos, exército e marinha de guerra. E ó efectivamente pena, que os homens públicos se tenham esquecido de que, à luta pelas armas, sucedeu a luta no terreno económico, porventura muito mais grave que a luta pelas armas.

Era preciso, Sr. Presidente, que o Estado português tivesse tomado perante esta situação de luta um papel tam rigoroso como tomou perante a situação da guerra.

Não 'o íez; preferiram os homens públicos de Portugal abrigar-se debaixo da bandeira do velho liberalismo, esperar no laissez faire, laissez nller, e eu não sei se eles estarão convencidos de que é no laissez faire, laissez aller que procuramos o equilíbrio económico do mundo.

Pelo contrário, aqueles que no momento actual da história do mundo desdenham dos ideais estatístas hão-de ver o papel importante que está destinado ao Estado em muito curto prazo.

E não é por eu ser estatista. Eu parece-me que no leito da minha infância vi ideais liberais, fui criado no meio de ideais liberais, fui educado no meio de grandes homens liberais, cheguei também a ser liberal, Sr. Presidente.

Mas há o direito revolucionário, e hoje estou convencido, sem discutir, de que o futuro do mundo será destes, estou convencido, Sr. Presidente, e a esse ponto de vista, a essa directriz subordino toda a minha orientação política, que há-de vir uni momento próximo em que a intervenção do Estado se tem de fazer fortemente.

Sr. Presidente : mal se compreende que uma Câmara que olha a sorrir-se para os estatistas receba, como outro dia recebeu, com o respeito devido, a manifestação que se produziu, aquelas dezenas, porventura centenas de milhares de pessoas, que vieram ao Parlamento pedir a intervenção do Estado, dos poderes públicos para resolver o problema da carestia da vida.