O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

Diário das Sessões do Senado

algumas considerações a respeito duma notícia que vi hoje nos jornais, e que se me afigura duma tal incoerência e falta de lógica, que só é possível numa sociedade em desorganização.

Dizem os jornais que um pantomimeiro qualquer que se chama Vermorel burlou, a pretexto de um contrato para um espectáculo público num dos jardins da cidade, a Associação dos Trabalhadores de Teatro, a qual se queixou do facto às autoridades, que mandaram prender esse homem, que pelo nome parece ser estrangeiro, e que estava- hospedado mim dos hotéis de Lisboa.

O facto parece que devia ter importância mínima, muito embora seja de censurar, se o procedynento das autoridades não estivesse em absoluto antagonismo com a impunidade que se concede aos burlões máximos dôste país, os homens que acabam de arrasar a economia nacional, sem respeito nenhum pelo povo, pela economia dos humildes, e sem respeito algum por uma grande parte da riqueza nacional.

Refiro-me, pois gosto de nitidamente dizer o que penso, aos Srs. Álvaro de Castro e Alberto Xavier.

Ao passo que se prendeu aquele homem por uma burla comezinha, insignificante, os dois burlões máximos da política do país continuam à solta, "abrigados pelas suas imunidades parlamentares, e ninguém se lembra de proceder contra eles.

Não faz sentido que um Vermorel, mais ou menos autêntico, mais ou menos pantomimeiro, seja imediatamente colocado debaixo da alçada do governador civil, e os homens que arrumaram a economia, do país e aviltaram o nosso crédito, fazendo-o descer à última escala do desprezo do mundo, continuem sem uma sanção, perfeitamente à solta, abrigados pelas, imunidades parlamentares.

O Sr. Mendes dos Reis :—Sr. Presidente: peço a atenção de V. Ex.a, para as palavras do orador.

Estabelece-se agitação na sala.

O Orador:—Não faz sentido, e digo isto doa a quem doer, que burlões políticos autênticos (Não apoiados], que arrasaram a economia nacional, continuem à solta.

Não apoiados.

Estabelece-se agitação na sala, protestando alguns Srs. Senadores^ com veemência, contra as palavras do orador.

O Sr. Mendes dos Reis:—Sr. Presidente : não se pode consentir que se profiram palavras destas no Senado.

O Orador:—É muito fácil o número defrontar-se e pretender esmagar um único indivíduo; mas factos são factos.

Vozes:— Isto não pode ser. Grande sussurro.

O Sr. Presidente : — Eu peço ao Sr. Oriol Pena que se mantenha dentro das aormas que o Regimento estabelece.

O Sr. Silva Barreto:—A linguagem do Sr. Oriol Pena é imprópria do Senado.

Os Srs. monárquicos têm abusado demasiadamente da tolerância republicana.

O Sr. Querubim Guimarães (em aparte) :— Não apoiado, aqui há direitos.

O Orador:— j Eu gostava de saber se ó o meu ilustre colega daquele lado da Câmara que está a presidir!

Sr. Presidente: não há no que disse o menor desrespeito.

Factos são factos e as palavras servem para os definir.

Não proferi nenhuma frase desrespeitosa.

Não quero mal nenhum a V. Ex.a, Sr. Presidente, pela sua advertência; simplesmente estranho que V. Ex.a .se deixe sugestionar pela berraria.

Os gritos a.mim não me comovem, deixam-me absolutamente tranquilo.

E, Sr. Presidente, sem querer alongar mais o assunto, e sem querer de modo nenhum desacatar qualquer deliberação que V. Ex.a se lembre de tomar sobre esta questão, termino por agora as minhas considerações.

O orador não reviu.

O Sr. Machado Serpa:—Sr. Presidente : todos nós, apesar da nossa idade, de certa maneira já avançada, apesar de sermos uns velhos, temos ainda assim momentos de exaltação.