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Sessão de 29 de Julho de 1924

mal intencionado, e por isso não lhe ligaria sombra . de importância; mas como é da responsabilidade do director dessa folha diária, não posso deixar de aqui lavrar bem alto o meu protesto.

Houve, portanto, a idea de magoar conscientemente, quando nós nunca fizemos agravos desta natureza aos revolucionários monárquicos, e, por isso, em nome dos revolucionários civis .do meu País, devo afirmar por mim e pelos que sempre me acompanharam, que devolvemos os insultos nos revolucionários da «traulitânia», visto que qualquer de nós nunca praticámos os crimes, as infâmias e as atrocidades mais selvagens que a história da humanidade regista e de que foi teatro o Éden do Porto!

0 Sr. Silva Barreto (interrompendo): — ^Sabe V. Ex.a qual foi o último acto

da «traulitânia» no Porto?

1 Quando o pseudo governo monárquico estava já passando a fronteira, publicou um decreto intimando os cidadãos que fossem portadores de notas de valor superior a 20$ a entregá-las na sede do Banco para depois receberem simplesmente a décima parte desse valor!

O Sr. Querubim Guimarães (em aparte)'.— Essas afirmações devem ser feitas à face de documentos.

O Sr. Silva Barreto (continuando): — Eu assumo a responsabilidade absoluta das afirmações que acabo de fazer, porque constam de documentos oficiais.

Passei catorze meses no Porto e passei lá todo o tempo da «traulitânia»; senti por isso toda a infâmia dessa situação.

O jâr. Querubim Guimarães (em aparte)'.— Nesse caso passa V. Ex.a a ser o historiador encartado da «traulitânia».

O Sr. Silva Barreto (continuando): — Talvez tenha mais autoridade para falar neste assunto do que V. Ex.a

O Orador: — Fica, por consequência, lavrado o meu protesto sentido, bem sincero, lamentando que a imprensa do meu PaíSj quo sempre foi nobre e alevantada em todos os seus princípios, use presentemente de processos como este.

E, para terminar, eu vou dizer aos Srs. Senadores representantes da monarquia aqui, uma das passagens do 14 de Maio que ó realmente interessante, e que muito bem demonstra a generosidade dos revolucionários civis republicanos:

Estávamos no aceso da luta; não havia governo. Os revolucionários pretendiam que novamente fosse implantado em Portugal o regime republicano.

Um grupo de revolucionários civis numa das ruas da cidade é abordado por um miserável, que lhe denuncia que ali, num determinado prédio, havia um «ta-lassa», um homem infame, que havia pretendido por várias vezes meter nas masmorras os revolucionários civis republicanos, que havia por várias vezes pretendido amesquinhar-nos.

Este grupo dirigiu-se à casa indicada, subiu ao andar respectivo, batendo à porta. Apareceu-lhes uma criada a quem lhe foi imposto que chamasse seu amo.

A criada respondeu que o seu amo lhe era impossível comparecer ali porque há muito tempo que estava "doente de cama.

Apareceram depois as filhas e a esposa do dono da casa que, interrogadas pelos revolucionários, disseram,: «Os^ senhores estão enganados porque nesta casa não existe esse homem que os senhores procuram, nem nunca aqui morou; é certo que nosso pai é monárquico, mas nunca pretendeu fazer mal aos republicanos. Juramos-lhes de joelhos que ele é um homem de bem. Pelo amor de Deus não o matem...»

A criadar'sabedora de quem tinha sido o miserável que denunciou seu amo, disse: «Mas este homem é o nosso antigo guarda--portão, que foi expulso por ladrão, e agora vingou-se, querendo matar o meu velho patrão, que é digno de todo o respeito e consideração».

As filhas juraram também que era verdade a afirmação que a criada acabava de produzir. Pois muito bem: os revolucionários civis descobriram-se reverentemente, pediram desculpa àquelas nobres criaturas e lovaram à sua frente o autor da insídia, fazendo-o pagar com a vida no último patamar da escada o acto que praticara.