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de ô de Agosto de 1924

to, uma vez que não demonstre que ele continua por culpa do Governo.

Como V. Kx.a sabe, o jogo é um vício tam arreigado que ao lado da medida para o evitar nasce logo um meio de transgredir todas as ordens, todas as combinações a semelhante respeito feitas.

Poderia dizer como dizem os italianos: «feita a lei, feita a malícia».

De maneira que não se pode dizer logicamente que se o jogo continuasse na cidade do Funchal o Governo devia ser considerado conivente por isso.

V. Ex.a sabe que há muitos me'os de iludir as instruções que haja para proibir o jogo; por isso V. Ex.a deve contentar--se com o que todos nos contentamos: que o Governo dê as ordens mais terminantes, mais severas às suas autoridades para que se não jogue.

O que o Governo não consente é que as suas autoridades não cumpram as suas instruções.

Feito isto, parece que V. Ex.a não pode considerar o Governo conivente.

O Sr. Artur Costa (interrompendo)"''— O que é conveniente é que o Governo, não achando autoridades que cumpram com as suas ordens, as ponha fora.

O Orador: — Evidentemente que é esse o caminho que o Governo seguirá. O orador não reviu.

O Sr. D. Tomás de Vilhena: —Sr. Presidente: nós votámos ainda não há muito nesta casa do Parlamento uma lei destinada a reprimir o jogo.

Ora, eu sei pelas minhas informações — e essas informações são geralmente muito .certas—• que se continua por aí a jogar desaforadamente nas cidades e nas aldeias, nas termas e nas praias.

Na verdade, para isto não valia a pena estarmos aqui a discutir e a votar uma lei, para ela ser imediatam nte,desrespeitada com o mais completo descaro.

Sr. Presidente: eu torno responsável por este desrespeito à lei o Governo, e torno e não posso deixar de tornar, porque se o Governo desse ordens positivas e claras às suas autoridades, elas não deixariam de as cumprir, não" quero acreditar o contrário. E se, porventura, essas autoridades não quisessem cumprir as

leis e as indicações do Poder Central, esse Poder Central punha-as no olho da rua. Dado um exemplo ou dois desses, elas entrariam logo no bom caminho.

Eu era governador civil da Madeira e acabei lá com o jogo até em circunstâncias muito trágicas, porque, poucos dias depois de eu chegará Madeira, suicidou-se um tesoureiro - pagador das obras públicas, que já com aquela era a segunda vez que • se tinha alcançado e, dessa vez, como os amigos não o quiseram salvar, ele pegou num revólver e deu um tiro na cabeça.

E eu tenho o grande prazer de poder dizer que, durante o tempo que eu lá estive, descaradamente não se jogou —nunca se pode evitar que nalguma água furtada ou nalguma cave se jogue—, não se jogou com aquele convite à valsa com música, como agora se faz.

Prestei assim um grande serviço à sociedade e à família.

Em Braga tive de demitir o Sr. administrador de Guimarães, que fechava os olhos, dizia ele, para não comprometer a sua influência eleitoral, e que deixava que se jogasse desenfreadamente em Barcelos.

Eu percebi isso e dei ordens ao comissário da polícia, que foi surpreender os. jogadores deliuqiimdo. Agarrou-os e meteu-os na cadeia.

No outro dia apareceu-me o administrador e eu. disse-lhe: «Tem aí papel, escreva pedindo a sua demissão, se sabe escrever, sonão eu escrevo, demitindo-o».

E esse senhor lá se foi embora.

Com o administrador de Vila Nova de FamalicEo dava-se um caso interessante. Não consentia que se jogasse no seu concelho, mas o certo ó que, ficando ali perto a Póvoa de Varzim, ele ia para lá jogar, dando um péssimo exemplo.

Demiti o também, e o administrador de Famalicão era um velho correligionário, por quem eu devia ter uma certa atenção pelos servigos prestados ao partido.

Quando se procede assim, as autoridades obedecem; agora, quando elas contam com os .olhos vendados, com o tal chamado véu de Santa Jereza do Poder Central, fazem o que querem.

Não me venham dizer que se não pode reprimir o jogo; pode, sim senhor.