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Diário das Sessões do Senado

uma resposta satisfatória; estimava que S. Ex.a nos dissesse alguma cousa sobre a sua orientação, sobre as suas intenções, ò que eu ouviria com muito gosto, para depois lhe fazer os devidos comentários.

O Sr. Ministro da Agricultura (Ezequiel 'de Campos) :— Sr. Presidente : sendo a primeira vsz que aso da palavra nesta casa do Parlamento, eu desejo enviar a V. Ex.a as minhas saudações.

O mesmo faço a todos os Srs. Senadores, e tenho pena de só hoje o poder fazer, apesar do ter sido Instado para vir a esta Câmara, por mais de uma vez.

Só agora me foi possível comparecer aqui antes da ordem do dia, e não representa isto a mais leve desconsiderarão on falta de respeito por esta casn ou por c&- • da um de V. Ex.as em particular.

Não ter vindo. aqui há mais tempo., é apenas o resultado desta lufa-Lufa de trabalho de todos os dias pela pasta que tem de dar pão a toda a gente deste país.

A construção de um edifício, a construção de um caminho de ferro, podem esperar anos, .lustros, décadas, sem que o barulho seja grande; mas o pão tem de ser dado todos' os dias; e eu não tenho sido Ministro da Agricultura, mas MirJs-tro das Scbsistências, e póss:mo Ministro das Subsistências se pode ser quando a despensa está vazia.

Para combater a carestia da vida, posso indicar a V. Ex.as um processo, cl&ro, preciso e infalível: produzir mais e ter juízo.

Não se pode impor na vida dos povos, principalmente na actualidade, o cerceamento dos consumos/ quando boa parte deles provêm de uma má organização social, de uoa má governação política.

Na governação política do passado não mo cabem nenhumas responsabilidades, na organização social de hoje igualmente não me cabem nenhumas respons£,bilida-des.

Mas todos querem a vid£ barata, sem ninguém querer produzir muito mais, em muito melhor aproveitamento do tempo, e sem ninguém se dispensar do gastos escusáveis que absorvem e amesquinham uma grande percentagem do te.nroo, da aetivi-dado e da riqueza.

Leva muito tempo, .e exige rauito.s;i.ber ' da parti- dos políticos, mais virnida ria

parte do povo, mais economia e mais juízo de toda a gente o embaratecimento da vida.

Porém todos querem isto do milagre, cuidando todos .de provocar o encarecimento da vida,

Estranhou V. Ex.a, Sr. D. Tomás de Viliens., qae eu esteja neste G-ovêrno. E de facto para estranhar. Fui à falta de gente, e com sacrifício enorme para-a minha vida e para a minha fortuna. Deputado às Constituintes.

Quanto isto me custou, seio-o eu, e não preciso dá-lo a saber ao país, para que me agradeça.

Sofri três anos de tortura, e muitas vezes saí da outra Câmara para ir para o Jardim da Estrela, por não poder respirar o ambiente de bizantinismo em quo ali se vivia e para não ver o assalto permanente dos caciques da velha e da nova guarda, pretendendo tomar ao velho caciquismo da monarquia o novo estudo de cousas.

Muitas vezes as olaias e as estatuetas do Jardim da Estrela sentiram a minha indignação por ver o que se passava cá em, baixo.

Responsabilidades não me cabem, porque emquanto se perdia o tempo com bi-santinismos, eu dava ao povo de que faço parte o produto da minha inteligência e do meu estudo na conservação da riqueza nacional, e punha de parte o projecto que tinha feito expatriar-me em 1911 para a América.

Veio a guerra, e eu continuei persistindo, expondo as minhas doutrinas e os meus pontos de vista," quer em conferências, quer em livros, quer em jornais.

Vi, porém, que pregava num deserto e que a minha acção resultava estéril.

Entendi 'portanto -que devia ocupar a posição para que por várias vezes me -tinham convidado, para podeE falar de mais alto a fim de que a Nação me ouvisse.

E 'sendo a -sorte de encontrar um Governo que aceitou os meus pontos de vista na generalidade, eu vim ao Poder Executivo para propor ao Parlamento um conjunto de'medidas para o resurgimento português.

Já não podia esperar mais tempo a pregar no deserto.