O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

678 ACTAS DA CÂMARA CORPORATIVA N.º 54

meiros tempos de caçador, faz com que o coração nos bata mais forte à vista do animal bravio, grande ou pequeno, que perseguimos.
Baseando-nos no número dos 150 000 e estabelecendo uma média de 20 perdizes e 25 lebres e coelhos mortos anualmente por caçador (média sem dúvida muito baixa, mas que preferimos fixar nestas proporções para que o número total apurado seja de molde a não deixar dúvidas ao mais exigente), teremos: perdizes, 3 000 000; lebres e coelhos, 3 750 000.
Atribuindo a cada perdiz um valor de 10$ e a cada lebre e coelho o de 12$, apuramos os seguintes números: 3 000 000 de perdizes a 10$, 30:000.000$; 3 750 000 lebres e coelhos a 12$, 45:000.000$ - num total de 75:000.000$. A caça abatida em cada época venatória representa, portanto, 75:000.000$ para a economia do País, quantia que cálculos menos pessimistas poriam, sem medo de exagero, facilmente na casa dos 100 milhões.
No que diz respeito ao aspecto alimentar, os números são mais concludentes ainda: 3 000 000 de perdizes a 250 g (carne limpa), 750 000 kg; 3 750 000 lebres e coelhos a 500 g (carne limpa), l 875 000 Kg - num total de 2 625 000 kg de carne, que entram no consumo do País, o bastante para abastecer Lisboa e Porto durante muitos dias. A propósito, lembramos que da grande matança de três dias da Páscoa, em que é costume abater 7 e 8 milhares de animais, totalizando, em peso, cerca de 250 000 kg de carne, resulta uma cifra que nem sequer atinge um décimo da que acabamos de apurar.
É de notar também que a dificuldade de conseguirmos números que se aproximem o mais possível da verdade levou-nos a só fazermos s cálculo em relação às nossas espécies indígenas mais abundantes. Repare-se, no entanto, que, além das três espécies citadas, ainda temos a rola, a codorniz, a abetarda, o sisão, o pato, o alcaravão, a becuinha, a tarambola, a narceja, a galinhola e várias outras espécies, todas elas caçadas com paixão por grande parte dos caçadores portugueses e cuja importância económica, traduzida em carne ou em numerário, é, também, da ordem do milhar de toneladas e da dezena de milhões de escudos.
Aos 75:000.000$, valor estimado só das peças (perdiz, coelho e lebre) abatidas anualmente no País, temos, no entanto, de juntar ainda outros números.
Por exemplo: a fixarmos em 4 o número de cartuchos e dos gastos por peça, apuramos: 150 000 caçadores a 180 tiros, 27 000 000 de cartuchos, que, ao preço médio de 1$50, totalizam 40:500.000$.
Se acrescentarmos aos números citados os milhões de escudos pagos anualmente ao Estado pelos caçadores, só em licenças de porte de arma e de caça (dos quais este e as câmaras municipais arrecadam nada menos de três quartas partes, constituindo o restante a única verba que é reservada ao fomento cinegético a promover pelos organismos venatórios), e se lhe adicionarmos ainda os milhões de escudos de artigos de caça vendidos todos os anos pelas casos da especialidade, e lhe juntarmos, finalmente, o valor económico das indústrias de pólvora, chumbo e artefactos de caça existentes e os 200 ou 300 milhões de escudos representados por mais de 100 000 espingardas, verificamos ser tamanha a eloquência dos números que, também neste caso, nos parecem descabidos quaisquer comentários.

3. Ao tratarmos a caça como valor económico não poderemos deixar de referir, igualmente, a sua cada vez maior importância como forma de atracção turística, tão grande que não existe país com um organismo destinado a promover o turismo que a não considere um dos seus melhores elementos.
O alce da Finlândia, o urso da Noruega, o grousse da Escócia, o faisão da França, o corço da Alemanha e, aqui mesmo ao pé da porta, a cabra, o rebeco, a perdiz da Espanha, constituem hoje as cabeças de muitos cartazeses de propaganda turística dos respectivos países.
E em Portugal?
Com grande parte da legislação da especialidade inadequada a uma fiscalização quase inexistente, chegou-se a uma situação que se agrava de ano para ano.
Em contrapartida, no resto da Europa a caça é, cada vez mais, objecto do interesse de governantes e governados; nas Américas mantém-se um turismo fortemente alicerçado na caça e na pesca desportiva, as quais só nos Estados Unidos contam com 20 milhões de praticantes, e um África é cada vez maior a afluência de caçadores de caça grossa, de outros continentes, aos territórios dos nossos vizinhos ingleses, belgas e sul-africanos, onde as modelares legislações de protecção e fomento cinegéticos e a organização turístico-vena-tória fizeram da caça um poderoso factor de equilíbrio das correspondentes balanças de pagamento.
Falámos há pouco de um grande exemplo aqui mesmo ao pé da porta, Rica embora, como nenhuma outra nação, em padrões clássicos do velho turismo, não se deixou a Espanha adormecer à sombra das suas belezas naturais e artísticas, dos seus encantos folclóricos. Consciente de que hoje as correntes de turismo são motivadas por acontecimentos centrais, por objectos determinados - uma peregrinação, uma coroação, um rally automobilístico, um encontro de futebol, um congresso, festejos e feiras, a prática de desportos da neve, etc. -, procurou criar e desenvolver novos atractivos turísticos. É assim que hoje em dia a caça e a pesca representam, dentro tio turismo - principal obreiro do levantamento do país vizinho depois da guerra -, duas das melhores fontes da riqueza.
Em 1952 visitaram a Espanha l 482 248 turistas. Nos primeiros oito meses do ano findo o seu número tinha ultrapassado l 600 000. Seria exagero afirmar que a caça e a pesca desportiva chamam a maioria desses turistas, mas não andaremos longe da verdade ao dizer que são dos mais produtivos factores turísticos, pois calcula-se que só cada grupo de cinquenta norte-americanos atraídos a Espanha pela pesca desportiva ao salmão deixa naquele país cerca de 70 000 dólares.
Quase sem um salmão nos seus rios nortenhos há pouco mais de dez anos, a Espanha, onde este peixe só é pescado hoje, mesmo pelos profissionais, com cana de carreto, teve, num ano, 5000 salmões pescados desportivamente e recebeu de uma empresa americana de pesca desportiva do Pacífico a oferta de 4 000 000 de dólares (cerca de 112 000 coutos) pelo exclusivo da pesca desportiva daquele peixe num período de quinze anos. E não aceitou...
Em 1905, quando o rei Afonso XIII tomou a iniciativa da protecção da cabra hispânica, o número de exemplares existentes não ultrapassava as duas dezenas. Hoje o seu número é superior a 2500.
E, no entanto, essa cabra hispânica é irmã da nossa cabra do Gerês, uma das mais representativas espécies da nossa fauna e cujo desaparecimento data de há menos de quarenta anos, sendo o último dos mamíferos que nos últimos dois mil anos desaparecerem da Europa.
A invocação deste exemplo parece bastar para demonstrar a pouca atenção que as coisas da caça têm merecido nos Portugueses.
Impõe-se, portanto, a revisão da legislação existente, de forma a evitar o progressivo empobrecimento do nosso já tão depauperado património cinegético, patri-