O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

898 ACTAS DA CÂMARA CORPORATIVA N.° 74

hoje que nos tempos passados era bem lenta a acção abrasiva das inovações sobre as tradições. Era assim lícito falar-se na integração dos jovens de hoje rias culturas de ontem.
No nosso hoje - e isso há apenas quinze anos! - tornou-se geral a certeza de que, efectivamente, a pressão das novas técnicas sobre todas as culturas as modificou de repente. Já não ó possível aceitar a integração dos jovens de hoje em culturas de ontem, porque esse "ontem" parece afastado de séculos.
Daí, e da ideia de educação permanente, resultou ter-se posto de parte a definição clássica de educação e ter-se buscado outra, muito vaga e muito lata: "é a promoção social de todos os jovens, de maneira a torná-los capazes de se adaptarem a sucessivas integrações em mundos prospectivos" 1.
É curioso notar-se que aquela mesma definição aparece em recente publicação socialista incluída numa comunicação apresentada por um membro da Academia das Ciências da Roménia (Coustantin Botez) ao Colóquio Internacional "A educação e o desenvolvimento científico, económico e social", realizado na U. N. E. S. C. O., de 27 a 30 de Dezembro de 1968 2.
Diz o autor:

A acção educativa exerce-se pelas gerações adultas sobre as gerações novas e realiza a socialização do indivíduo, a sua integração na sociedade, o desenvolvimento das suas capacidades e a formação das aptidões necessárias à sua actividade social.

E acrescenta:

No decorrer do processo de educação, a sociedade transmite à nova geração a saia experiência e as suas realizações com o fim de assegurar a sua existência e o seu continuado desenvolvimento. Pela educação inculca-se ao indivíduo a sua adesão ao conjunto de valores da sociedade em que vive numa certa época histórica e assegura-se-lhe as premissas para que ele próprio venha a contribuir, pela sua actividade criadora, para o acréscimo desse conjunto de valores ou

Esta ideia vem de longe. O nosso Alexandre Herculano escreveu, em 1841:

A instrução pública tem por alvo o indivíduo e a sociedade, o benefício do cidadão e a utilidade da República.

E John Stuart Mill, então reitor da Universidade de Santo André, disse na lição inaugural de 1867:

A educação ó a cultura que cada geração deliberadamente dá àqueles que vão ser seus sucessores, de modo a permitir-lhes, pelo menos, manter e, se possível, elevar o nível de aperfeiçoamento já atingido.

2. As tecnologias automatizadas que usam avalanchas de técnicas novas criaram inúmeras profissões insuspeitadas há poucos anos.
Está a estrutura escolar de hoje à altura de formar os operantes eficazes dessas técnicas que mudam de aspecto, momento a momento, como imagens de caleidoscópio?
Lembre-se a energia atómica, que desde o trágico ataque a Hiroshima - há um quarto de século apenas! - tanto impressiona e domina o mundo da ciência, com múltiplas inovações de incalculáveis repercursos sobre a vida pensante e sobre a vida material da humanidade. Inovação esta que brilhou em episódios maravilhosos e foi causa de hosanas ao cérebro humano, se esvaiu e passou a sei tradição, quando - em 4 de Outubro de 1957 - o Sputnik apareceu a indicar, com um bip-bip modesto, o caminho da Lua a cápsula Apolo 11.
Menos de onze anos passados sobre o lançamento do primeiro satélite artificial da Terra - a 21 de Julho de 1969 -, dois homens pisaram a superfície do nosso satélite natural.
Poucos são os jovens de hoje que se lembram desta data que já é de ontem. Mas nenhum homem da Terra deixará de beneficiar dos 'progressos sem número que centenas de novas industriais e centenas de indústrias já velhas experimentaram, e vão experimentar, mercê doa ensinamentos colhidos nos voos espaciais.
Será (possível formar hoje os operantes técnicos das culturas tecnológicas de amanhã?
A profissão é uma actividade social pela qual se criam, benls, materiais ou espirituais, ou se prestem serviços e para cujo exercício são necessários conhecimentos, adestramentos e capacidades físicas e intelectuais.
Em face da continuada evolução científica, técnica e tecnológica, o exercício das profissões exige cada vez mais conhecimentos e maior preparação social.
Os métodos de trabalho, em face da mutabilidade crescente das organizações, dais gestões e das produções tecnológicas, exigem que os profissionais sejam preparados a conviver com maquinismos cada vez mais complexos, rápidos e eficientes. Os profissionais devem ser educadas antes de exercerem a profissão de maneira que, no decorrer da sua vida activa, se possam sempre actualizar.
Por isso o homem que opera com. as máquinas deve estar apto a conviver com os mais modernos e complexos maquinismos que o auxiliam na produção de bens ou serviços. E deve até estar apto a poder mudar de actividade (profissional. E como a força física, a habilidade manual e a destreza terão içada vez menos importância na condução das técnicas mecanizadas que são as máquinas, a educação profissional deve dar, sem prejuízo do ensino das técnicas especializadas, cada vez mais importância à formação social e intelectual que inculca a cada homem a consciência de que as suas decisões racionais são indispensáveis à execução correcta da técnica complexa que a máquina executa.
Hoje o operário não trabalha com a ferramenta, mas opera com a máquina.
Na educação profissional é preciso nunca esquecer que o aluno de hoje irá operar com máquinas que ainda não estão inventados.
O projecto de proposta de lei n.° 5/X, que o Governo apresentou a parecer da Câmara Corporativa, tem por fim contribuir para a preparação de alguns desses técnicos indispensáveis num país que nos seus vastos territórios anseia por acelerado desenvolvimento económico.

1 Cf. com os artigos "Essa palavra Universidade" e "O papel da Universidade na formação dos dirigentes", incluídos no vol. I de A Universidade na Vida Portuguesa (ed. Do Gabinete de Investigações Sociais), pp. 9 a 42 e 271 a 310.
2 O relatório foi publicado exactamente um ano depois (Dezembro de 1969) sob o titulo Une éducation pour notre temps, U. N. E. S. C. O. E Ed. Du Pavillon. Cf. Pp. 151 e 152.
Cf. Elizabeth S. Lawrence, The Origins and Growth of Modern Education, Pelican Book; W. O. Lester Smith, Education, Pelican Book, 1962.