5 DE DEZEMBRO DE 1972 1737
existiam no nosso escol. Todavia a tradição e a inovação são os dois pólos que Balizam o destino do homem; em torno delas centraram-se as forças conservadoras ou evolutivas entre as quais a cada momento o poder político carece de fazer escolhas e de tomar decisões. E nisso se exprime muito do melhor progresso pacifico dos[...] na sucessão dos ajustamentos que entre essas forças, os governos esclarecidos conseguem com êxito realizar.
Porque assim e, mostram-se frequentes, na pequena história do nosso pensamento político as tornadas de posição em que a [...] de um problema ( e só a pretexto dele) se faz ressurgir todo o passado multissecular deste velho debate. Isso logo [...]à sua revivescência uma carga emotiva - como agora se diz em termos de psicologia social - que em si mesma, as realidades nem sempre justificam suficientemente. E ao sabor de pré-juízos era tudo se passa a ver o risco da conclusão antinacional de um processo errado; ou ao invés, o começo inexpressivo e insuficiente de uma evolução «em que nos deixamos atrasar»
Se quisermos falar francamente, bastante do exposto tem estado presente ou subconsciente a propósito e a despropósito do Mercado Comum e da nossa possível ligação a ele. A cada as cassandras anunciam o finis [...] e os reformistas proclamam a sua desilusão. E de, um lado e de outro, ressurge a «carga emotiva» das confrontações do passado, [...] o exame sereno das condições e do recorte actual dos problemas. Por consequência, é indispensável neste caso Ter a coragem de começar por desmitificá-lo, pois na verdade, se é inconveniente trilhar um caminho com perigos, todos os caminhos os têm e nem tudo é necessariamente uma escolha entre o oito e o oitenta: desde que se tenha consciência dos limites a não ultrapassar, existem apenas riscos calculados; e deixa de ser vantajoso levar a prudência longe de mais. Por isso a Câmara Corporativa desejaria que os acordos internacionais que lhe foram enviados para sobre eles emitir parecer fossem lidos e apreciados à margem dos aspectos que lhes são alheios; insertos sem dúvida numa linha vinda de longe; mas sem que sobre eles pese além do razoável, toda a herança das confrontações ultrapassadas e de reduzido significado presente. Aliás, nem outra é a função da cultura separar o principal do acessório e o permanente do acidental: e distingir na medida em que o homem consegue fazê-lo o que constituam um inconveniente sério para os valores eternos da Pátria do que apenas se traduza na adaptação a estruturas diferentes do prosseguimento legítimo dos fins do bem comum.
Seja pois a favor ou contra a aprovação destes acordos comerciais por motivos de fundo . Mas não se tragam à colação além do razoável - inadvertidamente ou por mero espirito polémico- problemas respeitabilissimos que lhes são alheios. De outro modo, perturbam-se pela emoção ou pelo preconceito os dados de base a partir dos quais a inteligência deve racionar.
2. A propósito do Mercado Comum, costuma falar-se na Europa e discutir-se a sua existência ou inexistência, como realidade autónoma no campo económico, político e até cultural.
Numerosos sociólogos e homens de Estado, seguindo na [...] negam-lhe realidade e salientam, como é fácil, os muitos aspectos de profunda oposição característicos da «península da Ásia habitada pelos povos europeus.
Entre estes contam-se adversários históricos em política e em religião, em concepções de vida em interesses territoriais. Muitas vezes se tem salientado - a fase é de um grade escritor francês - quanto a Alemanha e a Franca deram séculos a imagem de dois lutadores que só interrompiam o combate pelo tempo suficiente para ganhar fôlego, e logo recomeçar. Nas ilhas britânicas, o ódio aos « papistas» não divide a Irlanda entre Ulster e o Eire? O desejo de atingir o mar livre opôs sempre a Rússia aos países atlânticos: para tal como o acesso aos estreitos é inevitável pomo de discórdia na península dos Balcãs. E quer-se maneira de viver mais diversa dos povos nórdicos do que o modo como se vive em Espanha ou em Portugal? Na Europa só existe embaraço na escolha entre os problemas susceptíveis de a dividir...
Porém à medida que nos afastamos geográfica ou culturalmente e vamos observando a imagem dela formada pelos outros povos e pelo respectivo escol, as diferenças esbatem-se pouco a pouco e os não europeus apontam-lhe a unidade de estilo de vida, da qual nós próprios tendemos a duvidar. E isto contraprova-se por encontrarmos fora dela manchas de aculturação europeia indiscutíveis como tais: alguém duvidará de que a Austrália e o Brasil, apesar dos respectivos especialismos e tipicidades são dois países fundamentalmente «europeus» ?
Quer dizer afinal também aqui o todo é anterior e diferente da simples soma de partes. E também aqui a distância é ainda a melhor maneira de adquirir a visão global de um fenómeno, quando ele também o é.
Decerto a herança integradora do Império Romano nem sempre encontrou, desde a Idade Média, condições favoráveis ao seu desenvolvimento. Mas a Europa foi «europeia» com Carlos Magno, no Santo Império Romano-Gremânico e com as peregrinações e as cruzadas, tal como o foi, desde o estilo românico na arte das suas igrejas e na «internacional monástica» [...] a Escandinávia à Ibérica em torno de valores comuns: a herança greco-latina dinamiza por elementos germânicos e [...] e baptizada pelo Evangelho , ou seja, pela Boa Nova da redenção pelo Amor. E deu-se a integração básica do escol na cavalaria e sobretudo nas Universidades, cujos estudos tinham valor geral, pois, na época, era fácil ( o passaporte é invenção recente) Transitar de um país para outro ou de um para outro estabelecimento de ensino. Para mais, havia a uni-los uma língua veicular.
Maníemo-nos no domínio da objectividade ao registar estes factos. Tal como a circunstância de apenas cinco nações - Portugal e a Espanha primeiro depois a Inglaterra, a Franca e os Países Baixos - terem iniciados nos séculos XV e XVI a mais gigantesca obra de transculturação e aculturação até hoje levada a efeito, desde as costas do Mediterrâneo vizinho ás ilhas remotas da Polinésia. Deste modo, é objectivamente possível e fácil indicar, no mundo contemporâneo, os vários níveis de europeização: existem Estados geográficamente longínquos mas totalmente europeus, por motivos naturais ou artificiais ( como o Canada ou a Austrália) ; depois, há-os onde o elemento europeu se miseigenou com um fundo de outra origem - [...] no México ou na Bolívia, negro nos Estados Unidos ou no Brasil; em terceiro lugar, conheceu-se países que mantendo, embora o individualismo básico, receberam da Europa ou do europeísmo contribuições vastas e decisivas para aspectos essenciais da sua vida como nações (pensemos como exemplos, no Líbano ou no Japão): e encontra-se, por último, embora em [...] diversas muitos Estados que diariamente atacam a Europa com as armas, matriciais ou de cultura que a própria Europa lhes fornece.
Assim, e na ordem prática, a negação da Europa não é feita pelas outra civilizações, passadas ou contemporâneas. Estas reconhecem e afirmam a sua existência (até para a criticar ou acusar ) e formulam por vezes - de